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(Foto: Lula Marques). |
'Fui
ingênuo, cometi erros e me penitencio diariamente por eles. Mas não cometi
nenhuma ilegalidade.'' Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, nesta segunda
(16), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) recorreu novamente ao artifício da
imaculada inocência para justificar sua relação incestuosa com o dono da JBS.
A
1ª Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu, nesta terça, receber a denúncia
da Procuradoria-Geral da República contra ele, tornando-o réu por corrupção
passiva (uma gravação expôs o senador pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista) e
obstrução de Justiça. Votam cinco ministros em cada turma. Foram 5 a 0, para o
primeiro crime, e 4 a 1, com relação ao segundo – com Marco Aurélio acatando
parcialmente e Alexandre de Moraes rejeitando a acusação.
Não
é a primeira vez que Aécio apela ao expediente. Por exemplo, em maio do ano
passado, em outro artigo-depoimento na mesma Folha, afirmou a mesma coisa.
''Ingenuidade. Fui ingênuo ao receber uma pessoa [o dono do JBS] naquele
momento.'' Pela insistência, deve estar convencido que a tática do ''vai que
cola'', que funcionou longamente para uma parte do tucanato acusado de
malfeitos, continuará positiva e operante.
Mas
não é o único. ''Lamento sinceramente minha ingenuidade – a que ponto chegamos,
ter de lamentar a boa-fé! Não sabia que na minha frente estava um criminoso sem
escrúpulos, sem interesse na verdade, querendo apenas forjar citações que o
ajudassem nos benefícios de sua delação.'' A frase, que poderia ser de Aécio,
foi dita por Michel Temer também em maio.
Só
alguém muito desesperado é capaz de declarar-se ''café-com-leite'' como
artifício de defesa diante de um escândalo de corrupção. Pois ambos sabem que
demandaria uma imensa dose de ignorância da população para acreditar nessa
desculpa. Ou uma vontade grande de ser enganada.
Aécio
talvez queira surfar nas icônicas palavras de Sérgio Machado, no não menos
icônico grampo com Romero Jucá (''o primeiro a ser comido vai ser o Aécio''),
para mostrar que se autointitular ingênuo pode dar certo. Afinal, nas palavras
de Machado, ''0 Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra. Quem que não
sabe?''
Utilizar
a ingenuidade é uma espécie de recurso arriscado porque parte do país pode até
cair no conto de políticos ''mal informados'', mas a maioria não aceita aqueles
que se declaram fracos e passíveis de serem levados por conversas moles durante
os exercícios de seus mandatos.
Ou
seja, não querem um ''mané'' os representando.
A
justificativa pode ter seu valor junto a processos judiciais ou políticos que
Temer e Aécio estão sofrendo por conta do que foi revelado. É uma versão
piorada do ''eu não sabia'', muito em uso nos governos do PSDB, do PT e do
PMDB.
Mas
como tem sempre um chinelo velho para um pé cansado, há grandes chances dele se
eleger pelo menos deputado federal. Se bem que caso o foro privilegiado seja
restrito em análise do STF marcada para maio, o downgrade do Senado para a
Câmara terá sido inútil.
O
cinismo adotado por Aécio constrange. E pior do que termos que engolir a
questão ética, sua representação canastrã da ''ingenuidade'' é algo esteticamente
imperdoável. (Por Leonardo Sakamoto, em
seu Blog).
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