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Lei de Cotas Raciais em concursos públicos do Ceará é sancionada. (FOTO/ Reprodução/ Redes Sociais). |
Nesta última quinta-feira, 25, o Ceará celebrou a Data Magna em referência ao ano de 1884 que, segundo a historiografia tradicional ocorreu a “abolição” da escravatura. O fato colocou a província cearense como a primeira do Brasil nesse sentido, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea.
Aproveitando
o ensejo, feriado no Estado por meio de lei de 2011, o governador Camilo
Santana (PT) sancionou a lei recentemente aprovada na Assembleia Legislativa
que garante 20% de vagas em todos os concursos públicos do Ceará para pessoas
negras (pretas e pardas conforme classificação do IBGE e do Estatuto da
Igualdade Racial). O evento da sanção ocorreu de formar online e contou também
com a presença da vice-governadora e da assessora de Acolhimento aos Movimentos
Sociais do Governo, Izolda Cela e Zelma Madeira, respectivamente.
Para
Camilo, a ação se configura como um “reconhecimento”.
Ele destacou que “o estado brasileiro tem
uma dívida histórica muito grande com os negros.” Frisou ainda que “todas as políticas afirmativas que nós
pudermos fazer para apoiar esse segmento são muito importantes.”
“Vivemos em um mundo ainda de muito
preconceito e racismo. Aqui é mais um gesto de reconhecimento aos movimentos
negros no Ceará. Fazemos parte de uma geração que acredita que é importante
incluir as pessoas com políticas afirmativas. O Brasil é um dos países mais
desiguais do planeta e todas as políticas que a gente puder fazer para diminuir
essa desigualdade nós vamos fazer”, pontuou o governador.
Izolda,
por sua vez, arguiu que a lei repercutirá na vida das pessoas e trazendo de
volta o discurso do pioneirismo do Ceará na abolição da escravidão afirmou que
essa política afirmativa contribuirá para gerar mais “oportunidades” e “igualdades.”
Zelma
destacou em sua fala que a nova legislação é um atendimento das demandas
históricas do movimento negro. Ao entender que a abolição foi um processo “inacabado”,
que segundo ela contribuiu para uma “reconfiguração” da forma com que negros e
negras passaram a serem tratados “e essa
reconfiguração chamou-se racismo estrutural, responsável pelas persistentes
desigualdades brasileiras, principalmente em duas frentes: mercado de trabalho
e educação”, frisou.
As Cotas Raciais
O
Ceará já tem leis nesse sentido desde 2017 nas três universidades públicas.
Agora, com esta nova lei e com concursos públicos a caminho (Semace, Sefaz e
Polícia Civil e Militar), as vagas reservadas para os candidatos negros e candidatas
negras deverão constar nos editais dos concursos públicos.
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Nicolau Neto ao lado de Verônica Neves e Henrique Cunha durante audiência que debate implantação do sistema de cotas nos vestibulares da URCA. (FOTO/ Cícera Nunes). |
Note-se
ainda que o percentual precisa levar em consideração as especificidade de cada
região e especialidade para cargos ou empregos destinados a órgãos, entidades e
empresas públicas e em sociedades de economia mistas, além de ter que expor
detalhadamente o número total de vagas correspondente sempre que o número de
funções ofertadas for igual ou superior a cinco. No ato da inscrição, o/a candidato/a
terá que se autodeclarar negro/a (preta ou parda) conforme a classificação do
IBGE e do Estatuto da Igualdade Racial.
Africano
e residente no Brasil há 46 anos, o doutor em antropologia social e representante
do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo (USP), Kabengele
Munanga, durante debates em audiência pública sobre cotas realizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
considerou que “algo está errado no país da democracia racial, que precisa ser
corrigido.”
“O que se busca pela política de cotas para
negros e indígenas não é para terem direito às migalhas, mas sim para terem
acesso ao topo em todos os setores de responsabilidade e de comando na vida
nacional onde esses dois segmentos não são devidamente representados, como
manda a verdadeira democracia”, disse ele naquela oportunidade.
Nicolau Neto durante audiência pública em 2017 sobre implantação do sistema de cotas raciais nos vestibulares da URCA se posicionou favorável a essa política afirmativa, principalmente diante das condições de desigualdades sociais e raciais imposta a população negra. “A nossa luta é contra o racismo e as cotas se constituem como um caminho viável. Por isso precisamos ocupar todos os espaços de poderes”, destacou.
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