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O Brasil tem 13 Unidades da Federação com 90% de ocupação dos leitos, segundo dados da Fiocruz. (FOTO/ Agência Brasil). |
Com o descontrole do número de novos casos e crescentes médias diárias de óbitos por covid-19, o Brasil chega ao fim desta semana assumindo um status de alerta mundial: o país tem hoje 10,3% das mortes do mundo, ao mesmo tempo em que possui menos de 3% da população do planeta.
O
cálculo é da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que constantemente tem advertido
as autoridades de saúde sobre o andamento da pandemia em território nacional.
Sem
nunca ter tido redução expressiva na transmissão da doença, o país vive
atualmente o seu pior momento desde o início da pandemia, em março de 2020. Já
são mais de 275 mil mortes e cerca de 11,3 milhões de infectados.
Na
última quinta-feira (11), por exemplo, o Brasil teve 23% das mortes registradas
em todo o mundo na data. O alerta veio do renomado cientista brasileiro Miguel
Nicolelis, que destacou, na sexta (12), o “estado crítico” da pandemia no país
e chamou a atenção para o “risco regional e global” que o país representa hoje.
Preocupação
semelhante tem a cúpula da Organização Mundial da Saúde (OMS), para a qual o
Brasil representa hoje uma ameaça em escala planetária.
“A
situação é muito preocupante. Estamos profundamente preocupados. Não é só o número
de novos casos que aumenta, mas os de mortes também”, resumiu, na sexta (12), o
diretor-geral da entidade, Tedros Ghebreyesus.
O
panorama do país se traduz, por exemplo, na frequente lotação dos hospitais.
Segundo a Fiocruz, o cenário desta semana é de 20 estados dentro daquilo que a
instituição considera como “zona de alerta crítico” em termos de ocupação de
UTIs e 13 unidades da Federação com 90% de ocupação dos leitos.
A
médica de família Nathalia Neiva Santos, da Rede de Médicas e Médicos Populares,
lembra que a situação chegou a este ponto por conta do descontrole do problema,
alimentado pela falta de uma política séria de lockdown no país.
A
conduta do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), tem sido
apontada frequentemente por profissionais de saúde como um entrave à boa gestão
da pandemia. Na quinta (11), ele voltou a atacar governadores por conta das
políticas de isolamento e afirmou que “lockdown não é remédio.”
“Isso
faz com que a pandemia não seja controlada. E não só não seja controlada, como
gere novas variantes, como ocorreu em Manaus agora no começo do ano, com a
variante P1”, ressalta Nathália, ao mencionar os novos desafios que vêm
surgindo no cenário.
Apesar
da falta de coordenação nacional, o município de Araraquara (SP), por exemplo,
tem mostrado que a política de isolamento dá bons resultados. A cidade viveu,
em fevereiro, um pico de lotação em enfermarias e UTIs, mas passou a adotar um
rígido lockdown e os casos de covid caíram pela metade já no início de março.
“O
preocupante é que, muitas vezes, o lockdown vem como resposta a um colapso, mas
poderia ser adotado em estágios anteriores, pra gente evitar esse número de
mortes tão alto como tem acontecido. Ele é um remédio amargo, a gente sabe das
implicações que tem, mas é o que se tem de resposta, combinado com a vacina”,
afirma a médica de família.
Vacinação
No
quesito vacinação, o Brasil também segue em ritmo lento, com menos de 5% da
população imunizada. E o problema virou caso de Justiça: cinco partidos ingressaram
no Supremo Tribunal Federal (STF) na última quinta (11) para pedir que o
governo Bolsonaro seja formalmente obrigado a agilizar a vacinação e a garantir
o produto para toda a população. O pedido partiu das siglas PT, PSB, PSOL,
PCdoB e Cidadania.
No mundo,
países como Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, que largaram na frente em
termos de vacinação contra a covid, foram ultrapassados pelo Chile, que vem
chamando a atenção nesse aspecto.
O
país andino alcançou uma média de 1,67 doses aplicadas para cada 100
habitantes. O índice supera o de Israel, que vinha se destacando por ter uma
média de 1,2, apesar de não estar promovendo exatamente uma imunização em massa
por negar a vacinação ao povo palestino.
“O
Chile é uma grande surpresa e, ao mesmo tempo, uma chama de esperança porque
existe uma dificuldade dos países latinos em operar a vacinação", avalia
Nathalia Santos.
"É
importante entender que eles não só estão vacinando como combinam a vacinação
com o lockdown. A vacina não traz respostas imediatas para o controle de casos,
por isso são necessárias medidas restritivas. O Chile tem dado esse exemplo de
um controle combinado”, finaliza.
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