Carta de Pero Vaz de Caminha (1500). Imagem: Arquivo da Torre do Tombo, Portugal. |
A
data de 22 de abril marca a chegada dos portugueses ao território que hoje
conhecemos como Brasil. Este primeiro encontro histórico dos lusitanos com as
novas terras americanas foi registrado na conhecida “Carta do Achamento do Brasil” (ou “A Carta de Pero Vaz de Caminha”), escrita por Pero Vaz de Caminha
(1450-1500), em Porto Seguro, entre 26 de abril e 2 de maio de 1500.
A
carta de Pero Vaz de Caminha foi levada ao conhecimento do então Rei de
Portugal, D. Manuel I, por meio do navio de Gaspar Lemos, que deixou o “Brasil”
em 2 de maio rumo a Lisboa. Depois de conferir o seu conteúdo, o monarca
português classificou o documento como secreto, a fim de proteger a informação
dos espanhóis, e o passou o à Secretaria de Estado – leia aqui um pouco mais
sobre este valioso documento histórico.
Atualmente,
a carta está no Arquivo da Torre do Tombo, que é o Arquivo Nacional de Portugal.
Clique aqui para conferir o material, que se encontra totalmente digitalizado.
Tem dificuldades em ler o material? Leia aqui a transição da Biblioteca
Nacional.
Memória
do Mundo
A
Carta de Pêro Vaz de Caminha foi inscrita no Registo da Memória do Mundo,
Programa da UNESCO, por recomendação do respectivo Comité Internacional
Consultivo, reunido na China de 13 a 16 de Junho. Em 22 de Abril de 2013, na
Torre do Tombo, foi apresentada e recitada “A carta de Pedro Vaz de Caminha”,
projeto musical e composição de Rui Castilho de Luna, que celebrou a
importância histórica do documento.
Âmbito
e conteúdo da Carta de Pero Vaz de Caminha
De
acordo com o Arquivo da Torre do Tombo: “a carta está datada de Vera Cruz, 1 de
Maio e assinada por Pero Vaz de Caminha, escrivão da feitoria de Calecut,
enviado por D. Manuel na armada de Pedro Álvares Cabral, e é o primeiro
testemunho da existência de um mundo até então desconhecido dos povos ligados
por contiguidade geográfica, o primeiro testemunho de uma realidade que mudou
verdadeiramente a face da terra.
“Foi escrita no período crucial dos
Descobrimentos, nos tempos em que a ciência náutica finalmente tornou possível
fazer o reconhecimento do nosso planeta. As pessoas referidas na carta são, em
primeiro lugar Pedro Álvares Cabral, o responsável pela armada, e outros,
mencionados ou não, que faziam parte da expedição, eram capitães experientes,
pertencentes a grandes famílias portuguesas, bem como grandes comerciantes
florentinos”.
“A Carta faz um relato muito circunstanciado
dos costumes dos habitantes da terra, o seu comportamento pacífico, mesmo
dócil, suas casas, alimentação, vestuário, vários utensílios como arcos, setas,
machados, aves, a cor da terra, os densos arvoredos, a inexistência de animais
domésticos. É também de realçar a forma como Caminha se refere aos índios: a
três séculos de Rousseau, vemos o olhar maravilhado perante o seu bom
primitivismo, a sua ingenuidade, a sua inocência. É como que a antecipação do
mito do bom selvagem, que Rousseau teorizou e que originou obras como Atala e
René, de Chateaubriand, ou o Guarani, do brasileiro Alencar”.
“Desembarque de Cabral” (detalhe da pintura acima) – Oscar Pereira da Silva Pintor brasileiro (1865-1959). Imagem: Museu Paulista. |
Ainda
de acordo com o arquivo, “a Carta foi escrita por uma testemunha presencial que
acompanhou a armada e participou na expedição feita em terra firme, sob o
comando de dois homens experientes, escolhidos por Cabral. Ele tinha a
incumbência de transmitir ao rei todas as ocorrências e por isso esteve sempre
no centro das operações. O tratado de Tordesilhas tinha sido assinado havia
pouco tempo, e urgia comunicar a descoberta do novo mundo. A Carta guarda-se na
Torre do Tombo no lugar próprio – nas inquirições, ou seja, os inquéritos a que
se procedeu desde os primórdios da nacionalidade para se saber a situação dos
bens e direitos da Coroa.
“A Carta é uma inquirição – de
características específicas, decerto, próprias da natureza dos bens a inquirir.
As descrições e confrontações habituais, tendo como pontos de referência
acidentes geográficos diversos e bens de raiz dos mais diferentes senhorios,
dão lugar ao relato dos sucessos primeiro da armada e por fim em terra firme.
Em terra firme, a inquirição ganha contornos ímpares, pois que ímpar era a
realidade. A Carta é, pois, um documento de arquivo que, devido à capacidade de
observação, à cultura e ao talento do seu autor reúne a característica por
excelência da obra literária – o prazer de a ler”.
Debates sobre a colonização portuguesa
Para
além de Pero vaz de Caminha, a memória dos chamados “descobrimentos” em Portugal tem causado um grande debate público.
Portugal deseja construir um “Museu dos
Descobrimentos”, o que tem levado a uma série de críticas por parte de
historiadores portugueses (veja aqui). O debate sobre a colonização portuguesa
também tem sido bastante intenso – leia aqui uma entrevista.
Tem
interesse em Brasil Colonial? Então, confira aqui a nossa entrevista com a
historiadora Leila Mezan Algranti, professora do Departamento de História da
UNICAMP, que fala sobre os hábitos alimentares no Brasil dominado pelos
portugueses. (Com informações do Café História).
Como citar esta notícia
CARVALHO,
Bruno Leal Pastor de. Confira a carta de Pero Vaz de Caminha digitalizada
(notícia). In: Café História – História feita com cliques. Disponível em:
https://www.cafehistoria.com.br/carta-de-pero-vaz-de-caminha. Publicado em: 22
abr. 2019.
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