Embora
o Ministério da Saúde tenha negado o cancelamento, a 6ª Conferência Nacional de
Saúde Indígena, prevista para o período de 27 a 31 de maio, em Brasília, está
praticamente cancelada. Um parecer da Consultoria Jurídica da pasta recomenda o
encerramento do processo de contratação da empresa responsável pela realização
do evento.
A
organização da conferência está a cargo da Secretaria Especial de Saúde
Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, responsável pela coordenação e
execução da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e todo o
processo de gestão do subsistema de atenção à saúde dos povos originários no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A secretaria chegou a apresentar
alternativas, como reabertura de um novo, com mudança no calendário, a
manutenção da data, desde que com outra forma de contratação, ou até mesmo
readequações de infraestrutura. No entanto, nenhuma será efetivada a tempo
hábil.
A
RBA teve acesso ao relatório dos consultores, que entendem haver
"potencial ocorrência de conluio entre as empresas consultadas, análise
crítica insuficiente (dos organizadores) e inexistência de critérios para
subcontratação", entre outros apontamentos. Eles determinam ainda o envio
de cópias do parecer aos setores competentes na Procuradoria Geral da União,
Controladoria Geral da União e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade).
Segundo
informações extra-oficiais, a Sesai não terá tempo hábil para buscar
alternativas para o cumprimento do cronograma determinado pela Portaria nº
1.730, de 13 de junho de 2018, que institui a conferência que objetiva aprovar
as diretrizes que subsidiarão as ações de saúde locais e distritais, além da
formulação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.
Segundo
fontes ouvidas pela reportagem, a determinação de encerramento do processo em
andamento e o encaminhamento para os órgãos de fiscalização, possivelmente para
instauração de processos administrativos, é um artifício encontrado pela cúpula
do Ministério para inviabilizar a conferência. O processo está em andamento
desde setembro de 2018 mas apenas na quinta-feira (11), a 45 dias do evento, é
dado o parecer.
Integrante
do Conselho Nacional de Saúde e da Articulação dos Povos e Organizações
Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Yssô Truka
acredita que o parecer em cima da hora é retaliação.
Na
última semana de março, os povos indígenas realizaram atos em todo o país em
defesa de melhorias no sistema de atendimento e contra a proposta de
municipalização da saúde indígena apresentada pelo ministro da Saúde Luiz
Henrique Mandetta. A pressão levou a vitórias. Em São Paulo, por exemplo, o
prefeito Bruno Covas (PSDB) se declarou contrário à transferência do serviço,
federal, às prefeituras.
"Está sendo contestado, entre outras coisas,
o custo que consideram elevado da conferência em relação a outras conferências
nacionais. Mas é preciso considerar que no caso da saúde indígena, a União é
responsável também pelo custeio das etapas municipais, distritais e estaduais.
Esta não é mesmo uma conferência qualquer", disse Yssô Truka.
O custo,
segundo ele, é de R$ 8 milhões. Estão incluídos no valor locação de espaço,
transporte para 2.200 delegados indígenas, de diversas partes do país, além de
alimentação.
"Este parecer, a 45 dias da conferência, é
mais uma demonstração de desprezo pela população indígena. E também mais uma
ação coordenada contra a participação popular nas políticas", disse.
De acordo com ele, mesmo que os desdobramentos
do parecer vierem a inviabilizar a realização do evento no âmbito da Sesai, a
conferência será realizada sem os recursos oficiais. Todos os segmentos e
movimentos representados no Conselho Nacional de Saúde estão sendo solidários.
"Queira o governo ou não, teremos
conferência. Nem que seja embaixo de chuva, ou em um imenso acampamento. Há
universidades e movimentos sociais se mobilizando. Não queremos regalias, mas
sermos vistos como sujeitos de direitos que querem participar das políticas de
saúde conforme assegurado em lei", afirmou Yssô. (Com informações da RBA).
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