Com
insônia passei a noite reunindo e lendo material sobre " Ideologia de
Gênero", porque pretendo escrever a respeito e talvez fazer um vídeo. (
Além de estar empenhada na construção de um dossiê).
É
extremamente impressionante como uma ideia, sem absolutamente nenhum
embasamento científico ( em nenhuma ciência) parido no seio da Igreja Católica
tenha se popularizado de forma tão assustadora e se convertido em verdadeiro
instrumento de guerra cultural e política.
Reúne
ignorância, pânico moral, verossimilhança e funciona como uma arma que tem sido
absolutamente poderosa, e que, 20 anos depois de sua primeira aparição em um
documento da Igreja já está nos parlamentos de cada cidade e Estado, pequeno ou
grande em mais de 50 países. Espalhada por think tanks, ligada a setores ultra
conservadores da Igreja Católica, construída, não apenas como forma de combater
as proposições feministas e LGBTs, mas como um instrumento de recentralização
religiosa, agora é instrumentalizada por conservadores religiosos e não
religiosos.
Diferente
do que foram as campanhas anti-gay dos EUA ou anteriores aos anos 90, o
dispositivo da " ideologia de gênero" é um organismo completo, reúne
sob o mesmo signo tanto o comunismo, o marxismo, a teoria queer, o feminismo
radical, Butler, Marx e Beauvoir e tem sido um dos principais estandartes de
avanço da direita.
É
muito mais fácil mover as pessoas contra um grupo que elas pensam querem fazer
mal a seus filhos do que movê-los por um debate econômico.
A
operação retórica dos que criaram essa ideia, ao mesmo tempo que opera criando
pânico, medo e tornando o terreno cada vez mais duro para as políticas de
igualdade de gênero e orientação sexual, anulam as possibilidades de resposta
ou de argumentação:
Se
apresentamos dados da ONU, eles dirão que é uma organização controlada pela
Agenda de Gênero, o mesmo com os acadêmicos, com as universidades, com os
jornais, com os livros. Não há fonte ou referência ou dado capaz de
confrontá-los.
Aquilo
que chamam de ideologia de gênero se estrutura em distorções básicas:
1-)
A distorção de que existe uma agenda internacional de destruição dos modelos
tradicionais de família;
2-)
A distorção de que o feminismo atual tem por objetivo a supremacia feminina ou
ainda o fim da reprodução humana;
3-)
A distorção de que o entendimento da homossexualidade como um dado da
realidade, como a heterossexualidade, promoveria a destruição ou condenação da
heterossexualidade;
4-)
A distorção de que queremos confundir as crianças, dizendo que elas devem
experimentar múltiplos gênero e múltiplas sexualidades;
É
um instrumento de medo, fundado em distorções profundas. Não resiste ao debate
acadêmico e por isso foge dele.
Pra
vocês terem uma ideia, já nos anos 90 fala-se em um alerta para que
parlamentares cristãos façam oposição ao que eles nomearam de ideologia de
gênero. Em 98 já falam, em um documento da Igreja, em Escola Sem Partido, mas
com outro nome, dizem que o feminismo e a " agenda de gênero" querem
transformar as escolas em " campos de reeducação", já falam em
doutrinação.
A
censura que enfrentamos hoje tem sido gestada há muito tempo.
É
isso. Eles nos puseram contra a parede com suas mentiras, nomearam e
distorceram os Estudos de Gênero sob o nome de ideologia, palavra usada em
sentido pejorativo.
É
assustador. (Por Helena Vieira, em seu
Facebook).
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Helena Vieira é Assessora Parlamentar na Assembleia Legislativa do Ceará. Foto: Reprodução/Facebook. |
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