“Pelas
nossas vidas, pelo bem viver, contra todas as formas de discriminação, opressão
e aniquilamento. Aquilombar é preciso". É com esse tema que um conjunto de mulheres do município
de Crato e adjacências ligadas a diversos movimentos sociais irão promover a 2ª
edição das Marcha das Mulheres Negras do Cariri Cearense.
Em
2015, mais de duas mil pessoas se concentraram em frente a prefeitura do Crato
e percorreram algumas ruas até chegarem à Praça da Reffsa. Naquela
oportunidade, o movimento foi idealizado pelo Grupo de Valorização Negra do
Cariri (Grunec), Cáritas Diocesana e Conselho Municipal dos Direitos da Mulher
Cratense para refletirem acerca do combate a violência, o racismo e a
desvalorização feminina no mercado de trabalho.
Para
esta edição, um dos assuntos a se refletir será os frequentes atentados aos terreiros
de religiões de matriz africana e afro-brasileira verificados principalmente em
Juazeiro do Norte, além de pontuar os velhos problemas crônicos como a
desigualdades racial nas instituições de ensino superior e a exclusão de gênero
e raça no seio político e social.
"As mulheres de terreiros estão também na construção do ato", realçou Valéria Carvalho, do Grunec.
Ao
ser indagada pelo Blog Negro Nicolau acerca da construção de um movimento em um
cenário tão adverso onde há todos os dias cortes de diretos, atingindo
principalmente negros e negras, Valéria foi taxativa. "Eita. É luta meu filho. Mas é a indignação
que nos move". E citou como a mola propulsora a irem as ruas
as cotas na Universidade Regional do Cariri (URCA) que não atendeu as demandas
debatidas em audiência pública em 14 de fevereiro do ano em curso. "A história das cotas da URCA foi o pingo d'água
que faltava. Já tivemos quatro encontros e não está fácil e nem será fácil. Mas
nunca nada veio fácil para nós", disse.
Verônica
Neves, da Cáritas e do Grunec, também respondeu a indagação e endossou as
palavras de sua irmã de sangue e de luta. "O que nos motivou a ir as ruas foi sem dúvida as discussões das cotas".
Ela cita que houve uma primeira reunião que agregou 14 mulheres, lideranças de
movimentos e associações e de terreiros. "Naquela ocasião", disse, "refletimos um pouco sobre o cenário político e como este cenário tem
impactado na vida das mulheres e não nos restou outra alternativa senão a luta
incessante pelos direitos cada vez mais violados nesse momento. A gente
compreendeu naquele momento que essas questões de terreiro, de genocídio da
população negra, dos jovens periféricos, o feminicídio naturalmente impactam
violentamente na vida das mulheres e das mulheres pretas."
A ativista também fez questão de mencionar o quantitativo populacional no pais.
"Somos mais de 50% da população mundial e desse percentual, só no Brasil 25% da população é constituída de mulheres negras. Então a gente continua lutando pela vida em primeiro lugar e pelo bem viver, compreendendo o bem viver como um conceito político, um conceito que nos liga diretamente com a nossa ancestralidade."
A
marcha ainda está em formação e de acordo com Verônica, haverá visitas as
escolas e outras instituições e que existe várias comissões, cada uma com uma
agenda a ser construída. O diálogo com a administração municipal também será
feito. "Amanhã haverá um diálogo com o poder público local no sentido de buscar
apoio. Já conversamos com a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social
visando o envolvimento dos Cras, naturalmente as mulheres das bases, com
algumas escolas, universidade e com sindicatos", realçou.
Acerca
da perspectiva, ela mencionou que está bastante animada, mesmo sabendo que é
muito trabalho, mas que a luta pelo combate ao racismo e de promoção da igualdade
racial são as finalidades maiores do movimento.
O
lançamento da II Marcha das Mulheres Negras do Cariri Cearense ocorreu no
último dia 28 de setembro na Universidade Regional do Cariri (URCA), durante a
realização VIII Artefatos da Cultura Negra e é uma idealização da Cáritas, Grunec, Capoeira Arte e Tradição, Pretas Simoa, Carrapato Cultural, Mulheres de Terreiros, professoras do ensino médio e universidade.
A
Cáritas Diocesana de Crato publicou em seu perfil no Facebook um cartaz (ainda
em construção) em que há confirmação do dia 20 de novembro para a realização da II
Marcha. A concentração se dará na Feira de Economia Solidária (URCA).
Cartaz da II Marcha Regional das Mulheres Negras do Cariri Cearense publicado pela Cáritas Diocesana de Crato, no Facebook. |
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