16 de janeiro de 2023

Precatórios do Fundef serão pagos aos professores do Ceará em 1º de fevereiro

 

(FOTO | Reprodução | Facebook).

O governador Elmano de Freitas (PT) anunciou nesta segunda-feira, 16, detalhes dos pagamentos dos precatórios do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef).

Para os professores que estão na folha do Governo, seja em ativa ou aposentados, o dinheiro será liberado juntamento do pagamento do salário de fevereiro, referente à folha de janeiro. "No pagamento da folha do mês, você vai receber os precatórios do Fundef. Você que está na ativa, que vai receber seu salário, vai receber junto o precatório", disse o gestor pelas redes sociais.

Já para os profissionais que não tem mais vínculo com o Estado, será preciso acessar o site do Sistema de Precatórios.A partir de sexta-feira, 20, o sistema estará aberto para receber a inclusão de documentos e informações sobre contas bancárias.

Quanto as herdeiros, quando o beneficiário já faleceu, foi informado que será preciso levar os documentos solicitados até a sede da Secretaria de Educação (Seduc) ou às Coordenadorias Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede).

Serão rateados mais de R$ 745 milhões para cerca de 50 mil professores da rede estadual de professores na ativa entre 01 de agosto de 1998 e 31 de dezembro de 2006. Esta é a primeira parcela do precatório, referente a 2022. Há um pagamento vinculado a 2023 e 2024.

Na sexta-feira, 13, Elmano já tinha adiantado ao O POVO que o plano do Estado era que o dinheiro caísse em fevereiro, com o dinheiro sendo injetado na folha de pagamento de janeiro. O governador afirmou que o que faltava ser definido é como será o pagamento das pessoas que não estão mais na rede estadual. Desligaram-se, eventualmente seguiram outra profissão, e não estão mais na folha.

Precatórios do Fundef

Os precatórios do Fundef são resultados de disputas judiciais movidas pelo sindicato de professores, Apeoc, que obrigaram o Governo Federal a corrigir os cálculos e complementar a participação nos repasses feitos pelo fundo ao Estado. Com isso, os professores que estavam em atividade na rede estadual entre agosto de 1998 e dezembro de 2006 passam a ter direito a valores adicionais. Serão beneficiados aproximadamente 50 mil profissionais.

Serão mais de R$ 2,5 bilhões destinados a profissionais de educação cearense até 2024, conforme sentença proferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O valor será pago em três parcelas anuais. A primeira será de R$ 745 milhões.

Beneficiários

A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) divulgou a lista final de professores do Ceará que serão beneficiados com o pagamento dos precatórios do do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) no último dia 6 de janeiro. VEJA AQUI OS NOMES

Também já está disponível a consulta ao valor final do pagamento que cada um receberá. O acesso deve ser feito com CPF e senha cadastrada. Acesse aqui.

A divulgação estava prevista inicialmente para sexta-feira, 30 de dezembro (30/12), mas foi adiada para esta sexta-feira, 6 de janeiro (06/01), devido à quantidade de recursos sobre os valores divulgados inicialmente.

Como é calculado o valor

O valor a ser pago a cada professor tem por base o total remuneratório anual individual (TRAi), divulgado em 22/12/2022. Esse valor corresponde ao que foi pago aos professores da rede estadual do Ceará entre agosto de 1998 e dezembro de 2006.

Pagamento

Com a divulgação da lista final dos nomes e dos valores, agora falta apenas o pagamento do abono aos profissionais do magistério em exercício na rede estadual entre agosto de 1998 e dezembro de 2006. O dinheiro já está na conta do Governo do Estado desde 28 de dezembro, após autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Com o reajuste fruto de juros, o Estado recebeu o montante de R$ 745 milhões.

O Sindicato Apeoc reivindica que seja feita uma folha de pagamento suplementar, para o pagamento sair ainda em janeiro.

Conforme adiantado, o pagamento será feito exclusivamente em contas correntes do Bradesco já cadastradas no sistema do Governo. Já para quem não é mais vinculado, a partir do dia 30 será possível inserir no sistema os dados da conta.

O pagamento dos valores se refere à primeira de três parcelas. Além desta primeira parcela, que se refere ao ano de 2022, os docentes receberão outra parte referente ao ano de 2023. Uma terceira é garantida para 2024, somando mais de R$ 2,5 bilhões para profissionais da educação cearense até 2024.

Em 21 de dezembro, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, autorizou o pagamento da primeira parcela dos precatórios.

A então governador Izolda Cela (sem partido) reforçou esse posicionamento quando comemorou a decisão dde Rosa Weber.

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Com informações do O Povo.

Povos originários conquistam lugar de fala e decisão

 

(FOTO/ AFP).

Luta por direitos, demarcação de terras, combate ao extermínio e à invasão dos territórios são alguns dos temas incansavelmente proferidos pelos povos indígenas nos últimos quatro anos. A perseverança surtiu efeito e os tornou protagonistas da própria história, antes fadada ao destino da invisibilidade e silenciamento. A última semana entrou para história quando representantes dos povos mais antigos que habitam o Brasil assumiram seus espaços dentro das instâncias de poder. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva inicia com forte apelo às pautas ambientais, o que consequentemente deu aos povos indígenas maior espaço.

A criação de um ministério para o segmento concretizou uma das promessas de campanha de Lula e consagrou ainda mais a vitória quando foram anunciados os nomes vinculados à pasta. A deputada Sonia Guajajara (Psol-SP) como a chefe do ministério, a deputada Joenia Wapichana (Psol-RR) como presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o advogado e ativista Weibe Tapeba como secretário especial da Saúde Indígena (Sesai) foram indicações consensuais entre sete organizações do meio. Para a escolha dos nomes foi feita uma lista tríplice, entregue a Lula pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Os indígenas também celebraram quando a nova presidenta, Joenia Wapichana, fez a mudança no nome do órgão que promove a proteção dos direitos dos povos indígenas de Fundação Nacional do Índio para Fundação Nacional dos Povos Indígenas. Essa cadeia de fatores foi considerada por esses povos como fortes sinalizações de que o governo está disposto a de fato incluí-los nas decisões. Agora, porém, é chegado o momento de cobrar a efetivação das demais reivindicações.

"A própria questão racista, colonizadora, que é chamar de índio é herança do SPI [Serviço de Proteção aos Índios] que cuidava de maneira tutelar, sobretudo passando por uma gestão com repressão policial. A chegada de Joenia à presidência mostra o reposicionamento e autonomia dos povos indígenas", diz a deputada federal eleita Célia Xakriabá (Psol-MG).

No Congresso, cinco indígenas foram eleitos para a Câmara dos Deputados, entre eles Célia, que pretende dar continuidade aos trabalhos iniciados por Joenia, a primeira deputada indígena a ocupar a Casa. Além disso, a futura deputada pretende trabalhar para garantir orçamento para o novo ministério, por meio das emendas de bancada. Como primeira ação, a parlamentar irá cobrar a execução do decreto presidencial do governo de Dilma Rousseff, a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI).

"As próprias emendas podem ser aprovadas por bancada, posso liderar uma ação ou o orçamento pode vir do subsídio da própria lei que a Guajajara enviar, também das leis no Congresso que vão ajudar a calçar as ações do ministério e da Funai. Darei continuidade a projetos de lei da Joenia. No Grupo Técnico (GT) de Transição levantamos as questões emergenciais. São medidas relacionadas à mineração, ao rastro do ouro que apresentou e que pretendo analisar. Ela apresentou uma lista para mim e estou fazendo um levantamento", explicou a deputada eleita. Além das citadas, ela revelou ao Correio que está preparando mais quatro iniciativas, mantidas em sigilo por "interesse de outras bancadas".

Foco político

Apesar das conquistas que marcam uma nova era, Joenia assumiu a chefia de um órgão sucateado e com uma equipe de trabalho desfalcada. Na avaliação de Sydney Possuelo, indigenista e ex-presidente da Funai, a primeira providência deverá ser recompor as equipes. "O pouco de servidores que tem na antiga Funai é remanescente do governo passado, que não é confiável. Está limitada a meia dúzia de pessoas, poucos quadros espalhados pelo Brasil, precisa de gente capaz, com qualidade. Vai depender de novas contratações", ressalta.

A realização dos serviços que precisam ser feitos, na avaliação de Possuelo, dependerá de haver uma modalidade que fará a instituição chegar a campo, "onde vão fazer as análises das demarcações e isso vai depender de uma equipe", explica. Possuelo destaca, ainda, que é importante que a composição da fundação seja feita pela presidente. "A Joenia precisa ter o apoio e compreensão de vários outros companheiros que vai chamar. Ela que vai designar os quadros, não deve ser o ministério que criaram ou o presidente da República, é ela que deve fazer a sua equipe", alerta.

O especialista frisa a importância de tal escolha, porque conhece a disputa política que recai sob o órgão. Ele acredita que a Fundação é a instância mais importante para garantir o cumprimento dos direitos indígenas, por isso avalia que até mesmo a criação de um ministério para tal demanda não era necessário. Apenas o fortalecimento dessa instância bastaria.

"Esse ministério nasceu da visão de boa vontade do governo Lula em incentivar mais que os povos indígenas ocupem os espaços e busquem a sua melhor proteção, saúde, mas a criação disso não é fundamental, é mais uma questão da política do governo. Apareceu por uma oferta do governo, não foi uma luta deles [dos indígenas]. A Funai tem o respeito dos índios. Ainda hoje, se for bem conduzida com a nova presidenta, um novo quadro, sensível às questões indígenas, poderá funcionar", opina.

Demarcações

A manutenção da fundação chegou a ser um ponto de contestação dentro do GT dos Povos Indígenas na transição. Antes vinculada ao Ministério da Justiça, agora a instituição passará a ser comandada pelo Ministério dos Povos Indígenas depois de uma longa avaliação, inclusive jurídica. O grupo entendeu que ter o comando do órgão seria um instrumento importante para a execução das demarcações dos territórios.

"Vai demandar muito, mas se não tomarmos como responsabilidade dificilmente avançaremos com a questão da demarcação. A responsabilidade dos procedimentos, estudos e laudos começam na Funai. A grande questão era a preocupação em destituir a segurança jurídica da Funai, independentemente ela é autarquia para além de governo. Ela estando dentro do ministério com segurança jurídica, administrativa e política, tomamos a decisão", explicou a deputada Xakriabá.

Biomas

O Ministério também abarcará o Fundo Bioma, que foi desenhado no GT, com o objetivo de garantir recursos e de ter uma representação indígena direta para promover a proteção de cada um dos biomas brasileiros.

Depois de tantos gestos positivos, Xakriabá torce para que em abril, no mês em que se comemora o dia dos indígenas, venha um anúncio de recorde em demarcações. "A sinalização efetiva poderia vir até abril, por causa do Abril Indígena. Seria importante um dos primeiros atos do governo Lula com a preocupação indígena ser o anúncio da demarcação dos 13 territórios que indicaram no relatório, que não apresentam nenhuma pendência jurídica. Acredito que depois da COP27 é hora de fazer gestos", cobrou a deputada.

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Com informações do Correio Braziliense.

15 de janeiro de 2023

Margareth Menezes e Silvio Almeida formam grupo e planejam criar memoriais

 

(FOTO | Clarice Castro - Ascom/MDHC).

Dois dos ministros recém-empossados do governo Lula, Margareth Menezes (Cultura) e Silvio Almeida (Direitos Humanos e da Cidadania) já começaram a articular ações conjuntas, em especial na área da memória. Os titulares das pastas defendem a criação de memoriais da democracia e dos direitos humanos. Nesse sentido, a ideia ganhou força após os ataques do último domingo (8) em Brasília. 

“Nós entendemos que a relação entre direitos humanos e cultura não pode deixar de ser feita, principalmente neste momento do país”, afirmou Almeida. Segundo ele, após reunião com a colega da Cultura, ficou decidido criar um grupo de trabalho interministerial (GTI) para discutir detalhes das próximas ações.

A cultura tem um papel importante para sensibilizar e fazer com que as pessoas reconheçam sua humanidade”, afirmou Margareth. “O grupo que estamos criando tem justamente este viés: mostrar que os direitos humanos são uma conquista do cidadão brasileiro e, como tal, deve ser preservada”, acrescentou.

Nesta semana, a ministra percorreu o Palácio do Planalto ao lado da primeira-dama, Janja da Silva, para ver os estragos causados pelos terroristas. O Supremo Tribunal Federal (STF) também começou a realizar trabalhos de recuperação, após a conclusão da perícia policial. Na sexta (13), recebeu de volta, do ministro Flávio Dino, cópia da Constituição que havia sido roubada durante o ataque à sede da Corte.

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Com informações da RBA.

Filme “Marighella” será exibido pela Globo como minissérie

 

(FOTO/ Divulgação).

O filme “Marighella” ganha versão seriada com exibição pela TV Globo. A estreia será na próxima segunda-feira (16), no bloco noturno e contém trechos removidos do filme. A obra venceu oito estatuetas na última edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

A minissérie será exibida após o reality show, Big Brother Brasil 2023, que também será estreado na segunda-feira. A produção é inspirada na trajetória do guerrilheiro Carlos Marighella, um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar brasileira.

Marighella foi político, escritor e guerrilheiro que, na minissérie, ganha vida por meio do multiartista Seu Jorge. O longa foi dirigido por Wagner Moura e conta com elenco de nomes conhecidos do público como Bruno Gagliasso, Adriana Esteves, Ana Paula Bouzas, entre outros nomes.

O longa-metragem de 155 minutos foi recortado em quatros episódios, para dar vida à minissérie e contém cenas inéditas que não foram ao ao no filme. Em entrevista ao portal Splash, do UOL, Wagner Moura destacou a sua ansiedade para assistir a nova versão.

Há uma quantidade enorme de cenas que não estão no filme. Algumas, inclusive, são das melhores que filmamos, mas que não cabiam na linha narrativa que a montagem foi pedindo. Algumas cenas lindas da relação entre Clara e Marighella, por exemplo, só serão vistas agora na série”.

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Com informações do Notícia Preta.

14 de janeiro de 2023

Mesmo cansada de guerra, democracia resistirá

 

As ministras Anielle e Sonia (Foto: Sergio Lima/AFP).

O resultado das urnas, em 2022, expôs um país dividido entre conservadores e progressistas representados, respectivamente, por Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, e Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente em busca do terceiro mandato. A maioria do eleitorado de esquerda e do centro democrático se aproximou, de forma intensa ou moderada, do campo magnético do petista, declarado vencedor. De novembro para cá, Lula comandou a transição, nomeou gabinete, foi diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral e, num histórico e inesquecível 1º de janeiro, tomou posse. Recebeu de representantes do povo brasileiro a faixa presidencial que o antecessor se recusou a repassar.

O Brasil adentrou o ano novo em condições de retomar o debate sobre políticas públicas que, implodidas no mandato anterior, lhe estreitavam o futuro. E devolver normalidade ao funcionamento das instituições democráticas, duramente ameaçadas e atacadas pelo ex-presidente e seus aliados. Mas, derrotado pelo voto, o bolsonarismo passou a semear a ruptura. Já na noite do segundo turno da eleição, proclamado o vencedor, iniciou-se a gestação de um golpe de Estado, que nasceu morto no domingo, 8, mas deixou feridas.

Por dois meses, em manada, Bolsonaro e aliados atacaram o sistema eleitoral; extremistas, observados com injustificável tolerância, tomaram vias públicas e vizinhanças de quartéis para pedir intervenção das Forças Armadas. Sob cumplicidade ou omissão conivente de autoridades militares, policiais e políticas, golpistas atacaram e vandalizaram instalações do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal, no domingo infame. A TV transmitiu ao vivo inédita profanação dos edifícios da República. Buscavam abolir violentamente o Estado Democrático, depor um presidente legitimamente eleito, crimes previstos no Código Penal, ensina Adriana Cruz, juíza federal e professora de Direito Penal. E fracassaram. Pela destruição de patrimônio do povo brasileiro, desnudaram-se.

A extrema direita brasileira, bolsonarista, devotada ao capitão ex-presidente que a tudo assistiu de um endereço na Flórida (EUA), ficou nua em plena Praça dos Três Poderes. Nada a atenuá-los, encobri-los, disfarçá-los. No Planalto, os incultos tiraram do pedestal a escultura “Bailarina”, de Victor Brecheret; quebraram “Galhos e sombras”, de Frans Krajcberg; destruíram “O flautista”, de Bruno Giorgi. Racistas, perfuraram seis vezes o quadro denominado “As mulatas”, do modernista Di Cavalcanti. Obscurantistas, sucatearam o relógio do século XVIII desenhado por André-Charles Boulle e fabricado pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot. A peça única foi presente da Corte de Luís XIV a Dom João VI, que a trouxe para o Brasil em 1808. Patriotas de araque, arremessaram n’água a “Bandeira do Brasil”, de Jorge Eduardo.

Autoproclamados cristãos, arrancaram da parede a imagem de Jesus Crucificado do STF. Autoritários, puseram abaixo as galerias de fotos dos ex-presidentes no Planalto e no Supremo. Criminosos, rasgaram exemplares da Constituição e dos códigos Civil e Penal usados pela Corte para consultas durante julgamentos; picharam a estátua que representa a Justiça. Destruíram o plenário e arrancaram o brasão do STF, golpes que provocaram “ferida quase física” na ministra Cármen Lúcia:

Foi ato planejado, ensaiado e voltado à desfiguração das composições que fizeram a História das instituições. Papel se rasga, mas a Constituição continua. Rasgar obras não destrói a literatura. O mesmo com o Direito. Destroem-se exemplares para se manter mais forte a instituição que dela se representa”, me escreveu a ministra.

A democracia resistiu ao golpe. As instituições — Presidência da República, Senado, Câmara dos Deputados, STF, governadores das 27 unidades da Federação — se ergueram em reação. Hão de identificar, processar e punir os culpados, numa cadeia de criminosos que vai de incitadores a organizadores, de financiadores a facilitadores, de vândalos a agressores, de conspiradores a ladrões. Sem anistia. O golpe tentado empurra para a luz da democracia aqueles que ousaram flertar com o autoritarismo sombrio. Na pesquisa Datafolha, 93% dos entrevistados condenaram os ataques de domingo. Nas trevas, os extremistas e os cínicos que ainda relativizam a antidemocracia nunca ocultada por um líder político que emergiu atacando adversários, pregando violência e incensando torturador.

O bolsonarismo está nu; e a democracia, viva. Foi por ela que, num palácio em reconstrução, desfilaram Sonia Guajajara e Anielle Franco para serem empossadas como ministras dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial. Duas brasileiras, uma indígena, outra negra, que escancararam ao Brasil a possibilidade de fazer política com gratidão à ancestralidade, valorização do território (a aldeia, a favela), compromisso com a equidade, cocar e boné CPX, música e dança, poesia de Conceição Evaristo, samba da Estação Primeira de Mangueira. Como disse Chico Buarque ao entrar no palco, no Rio, no domingo nefasto: “Viva a democracia”. Mesmo cansada de guerra, ela vai passar.

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Com informações do Geledés e do O Globo.

13 de janeiro de 2023

Estatuto da Equidade Racial deve ser pauta em 2023 na Câmara de Altaneira

 

Da esq. para a dir. (Vereador Ariovaldo Soares, Vereador Deza Soares, Professor Nicolau Neto e a Vereadora Rafaela Gonçalves durante solenidade de posse da mesa diretora) FOTO/ João Alves)

Por Nicolau Neto, editor

Nos dia 13 e 26 de maio de 2021, mês em que as atenções se voltaram para relembrar e debater os 133 anos da abolição inconclusa da escravização no Brasil, ocorreu no município de Altaneira, no cariri cearense, e no formato remoto, a apresentação do Plano de Combate ao Racismo e de Promoção da Equidade. A ação partiu deste professor, fundador e editor deste blog.

Como já relatado aqui, as apresentações se deram junto às secretarias de governo, de educação, de cultura, além de contar com a participação de diretores/as e coordenadores/as das escolas no município, de formadores/as educacionais e de representantes do Sindicato dos Servidores Municipais (Sinsema) e um primeiro momento (dia 13) e posteriormente para o poder legislativo (dia 16).

Das 11 propostas do plano, duas já foram aprovadas por meio de lei na Câmara e sancionadas pelo executivo municipal: a transformação do dia 20 de novembro em feriado municipal de autoria do presidente da casa, o vereador Deza Soares (PT); e a criação do Conselho Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CMPPIR) oriunda do poder executivo.

Agora, mais uma propostas poderá sair do papel. Isso porque durante a solenidade de posse da mesa diretora da Câmara para o biênio 2023/2024 ocorrida no último dia primeiro, a vereadora Rafaela Gonçalves (PT), agora na função de vice-presidente,  destacou em seu discurso de posse que uma de suas prioridades para este ano será a aprovação e promulgação do Estatuto Municipal da Equidade Racial que adotará os parâmetros do Estatuto da Igualdade Racial do Governo Federal aprovado em 2010.

É importante destacar que o enfrentamento as desigualdades advindas do racismo é uma responsabilidade e um dever de todos e os poderes constitucionalmente instituídos precisam assumir seu papel na luta antirracista disseminando o debate a respeito da questão racial, contribuindo para desarranjar todas as formas de discriminação e preconceito presentes diariamente.

A primeira sessão ordinária de 2023 da Câmara de Altaneira será no dia 1º de fevereiro.

12 de janeiro de 2023

Íntegra do discurso de Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial

 

Anielle Franco assumiu o Ministério da Igualdade Racial (Foto: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo).

A nova ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, tomou posse do cargo nesta quarta-feira (11) com um discurso marcado de lembranças de sua irmã, a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, e sobre a luta pela inclusão de pessoas negras.

A cerimônia aconteceu em conjunto da posse da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. Os eventos de ambas estavam marcados para segunda-feira (9), mas devido aos atos golpistas nos prédios dos Poderes precisaram ser remarcados.

Leia abaixo a íntegra do discurso da ministra Anielle Franco:

Gostaria inicialmente de saudar a todas, todes e todos os presentes e realizar os cumprimentos formais me dirigindo ao Presidente Lula e sua esposa Janja, a nossa presidenta Dilma e cumprimento as autoridades ministeriais aqui presentes em nome das minhas colegas excelentíssimas ministras (Ministra Luciana Santos, Margareth Menezes, Esther Dweck, Nísia Trindade, Cida Gonçalves, Ana Moser, Marina Silva, Simone Tebet, Daniela Carneiro e minha companheira nesta cerimônia, a Ministra Sônia Guajajara).

Antes de começar meu discurso, eu preciso agradecer a algumas pessoas.

À minha família, por todo suporte, carinho e cumplicidade, especialmente aos meus pais Marinete e Toinho, ao meu esposo Fred, às minhas filhas, a minha sobrinha Luyara e também a minha irmã Marielle Franco, em nome de quem eu aceitei este desafio. Obrigada por serem minha base e sustentação. Obrigada por toda paciência e cuidado. Obrigada por me fazerem ser a minha melhor versão a cada dia.

Agradeço àquelas que vieram antes de mim, as minhas mais velhas, às minhas irmãs de alma, mulheres negras que seguraram a minha mão desde o dia 14 de março de 2018 e que nunca mais soltaram. Em especial Sueli Carneiro, Lúcia Xavier, Jurema Werneck, Conceição Evaristo, Angela Davis, Vilma Reis, Vanda Menezes, Bianca Santana, Benedita da Silva, Nilza Iracy, Pamella Passos, Fátima Lima, Janaína Cardoso, Marcelle Decothe, Flavia Oliveira, Rachel Barros, Glaucia Marinho, Regina Adami e tantas outras que permanecem comigo.

Agradeço também e saúdo, em nome da minha amiga Talíria Petrone, todas as pessoas, em especial mulheres negras, que se disponibilizaram a seguir na linha de frente da política institucional mesmo depois de tanta dor.

Agradeço ao Padre Gegê e Mãe Leiria que vem me acompanhando e guiando nessa caminhada.

Agradeço à equipe do Instituto Marielle Franco, que sem elas nada teria sido possível nesses últimos 4 anos, e que foram fundamentais, nos ajudando a realizar essa travessia do luto à luta. Além das parceiras e parceiros que nos ajudaram a plantar essa semente, a quem comprimento referenciando aqui os queridos Pedro, Átila, Marcelo, André, Henrique, Carô, Carol Proner e Carol Lourenço.

Agradeço em especial o GT de transição pelo precioso trabalho realizado, em tão curto tempo, e que nos servirá de horizonte para orientar as nossas pautas e ações nos próximos anos.

Agradeço também a equipe com quem tenho trabalhado incessantemente desde antes da posse para construir o Ministério da Igualdade Racial que a população brasileira merece. É uma honra e uma responsabilidade muito grande suceder nomes como Matilde Ribeiro, Martvs Chagas, Edson Santos, Elói Ferreira Araújo, Luiza Bairros e Nilma Lima Gomes, pessoas a quem dirijo a minha mais sincera deferência e admiração.

Quero aproveitar esse momento para apresentar a vocês e saudar nossas futuras secretárias e equipe do ministério: Roberta Eugênio, que assumirá a Secretaria Executiva do Ministério, Flávia Tambor, que topou a missão de ser nossa Chefe de Gabinete, Márcia Lima, que aceitou comandar a Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas e Combate e Superação do Racismo, Iêda Leal, que estará à frente da Secretaria de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial – Sinapir; e Ronaldo dos Santos, nosso Secretário de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos. A vocês dirijo o meu mais profundo agradecimento por aceitarem o desafio de reconstruirmos e avançarmos com as políticas de igualdade racial deste país.

Por fim, mas não menos importantes, agradeço às pessoas que aceitaram o nosso convite para estar aqui hoje no palco desta cerimônia de posse, que representam o Brasil que queremos construir, com o protagonismo de mulheres, mulheres negras, quilombolas, povos de matriz africana, ciganos, juventudes, favelados e periféricas, povos e comunidades tradicionais.

Desde o dia 14 de março de 2018, dia em que tiraram Marielle da minha família e da sociedade brasileira, tenho dedicado cada minuto da minha vida a lutar por justiça, defender a memória, multiplicar o legado e regar as sementes de minha irmã. Nesse caminho fundamos o Instituto Marielle Franco, organização que se tornou referência no combate à violência política de gênero e raça e na defesa de direitos de mulheres negras, pessoas LGBTQIAP+ e periféricas.

Os dias desde o golpe contra a presidenta Dilma têm sido difíceis, em especial depois de 2018. Tenho certeza que para todas que estão aqui. Mas em meio a uma política de morte, nossa resposta foi a luta pela vida.

Luta essa que nos trouxe até aquele 1º de janeiro deste ano quando, finalmente, o povo brasileiro subiu a rampa deste palácio, em um gesto marcante que emocionou o mundo inteiro pois passou um recado: quando nosso presidente Lula recebeu a faixa presidencial do povo, colocada por uma mulher negra periférica, mostrou que o caminho para o Brasil do futuro será sim liderado por aqueles e aquelas que há séculos resistem ao projeto violento que fundou esse país.

A cerimônia de hoje guarda um simbolismo muito especial. Depois dos atentados sofridos por esta casa e pelo povo brasileiro no último domingo, pisamos aqui em sinal de resistência a toda e qualquer tentativa de atacar as instituições e a nossa democracia. O fascismo, assim como o racismo, é um mal a ser combatido em nossa sociedade.

O mesmo projeto que permite que as vidraças deste palácio tenham sido destruídas, é o projeto que mata todos os dias pessoas como o catador Dierson Gomes da Silva, da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.

Combater o racismo e o fascismo parte — também — da luta por justiça, reparação e por democracia.

Precisamos identificar e responsabilizar quem insiste em manter esta política de morte e encarceramento da nossa juventude negra, comprovadamente falida. Assim como estamos identificando e responsabilizando quem executou, provocou e financiou a barbárie que assistimos no último domingo.

Precisamos, enquanto sociedade, ter uma conversa franca e honesta, que países no mundo inteiro já estão fazendo. Encarar a realidade de que essa política da guerra nas favelas e periferias nunca funcionou. Pelo contrário, apenas segue dilacerando famílias e alimentando um ciclo de violência sem fim.

Se o mundo em que queremos viver é um mundo onde todas as pessoas tenham o igual direito e oportunidade de serem felizes, com sua liberdade, respeitando uns aos outros, em paz, harmonia, justiça e dignidade, já passou da hora de pararmos de repetir as fórmulas fracassadas que não entregam nada disso!

E neste ano de 2023, que estamos celebrando 20 anos do primeiro governo Lula, que criou em 2003 a primeira Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no Brasil, daremos um passo à frente na institucionalização da luta política antirracista com este Ministério. Trazendo o racismo para o debate público e institucional de um modo até então não vivenciado na política brasileira, uma conquista fruto das mobilizações sociais incessantes que antecederam e culminaram neste momento.

Digo isto porque o sujeito mais importante a quem devo agradecimentos nesta data de hoje é o povo brasileiro, especialmente o povo negro e indígena, que há séculos resistem contra a violência do estado e se articulam para ocupar e permanecer em espaços como este.

Hoje nós possuímos um Ministério da Igualdade Racial no Brasil e gostaria de firmar um compromisso com cada um de vocês afirmando que a tarefa que me foi confiada, de ocupar o cargo de Ministra, será exercida com transparência, seriedade, técnica, combatividade, cuidado, respeito à trajetória e conquistas dos movimentos sociais e muita escuta.

As portas do Ministério da Igualdade Racial estão abertas para que possamos dialogar e construir juntas. Digo essas palavras pensando também nos excelentíssimos ministros e ministras com quem compartilho o desafio da união e reconstrução.

E, para nós, não seria possível falar em reconstrução sem que pensemos na nossa memória e naqueles que nos antecederam, na restauração das conquistas que foram ameaçadas pelos retrocessos dos últimos anos e na reparação, sobretudo, daquilo que ainda não conseguimos olhar com a devida atenção e cuidado.

Após quase quatrocentos anos de escravidão negra, e 133 anos de uma abolição que nunca foi concluída, a população brasileira ainda enfrenta múltiplas faces do racismo que gera condições desiguais de vida e de morte para pessoas negras e não negras no país. Isso não pode ser esquecido e nem colocado de lado.

É lamentável e inadmissível pensar que diante de um dos marcos sociais mais cruéis da nossa história, se não o mais cruel, a escravização de pessoas negras trazidas do continente africano, mediante torturas, estupros, assassinatos e uma série de outras violências, ainda existam pessoas que questionem a importância de um Ministério como o Ministério da Igualdade Racial no Brasil.

Desde o sequestro dos nossos bisavós e tataravós em África, à luta pela garantia de políticas públicas e da existência do Ministério da Igualdade Racial, inclusive no que diz respeito aos recursos orçamentários, temos nos empenhado visceralmente em um projeto de sobrevivência. Projeto este que vai desde o enfrentamento ao racismo científico e suas políticas eugenistas, do branqueamento e da aniquilação da população negra, à desmistificação das narrativas de meritocracia e de democracia racial na sociedade brasileira.

A desigualdade econômica; a fome; a falta e a precarização de emprego; o desmonte de políticas de ações afirmativas; a insuficiência de políticas sociais; o colapso do sistema de saúde; o racismo religioso e ambiental, a violência estatal e o encarceramento são alguns dos exemplos que podemos citar para ilustrar múltiplas dimensões do genocídio da população negra.

Também não podemos deixar de mencionar o negacionismo do último governo federal com relação às políticas de prevenção e enfrentamento à covid-19, bem como o atraso na vacinação, dentre outras questões que culminaram em resultados que atingiram de forma desigual a população brasileira, sendo a população negra a mais afetada. Me solidarizo com todas as pessoas que perderam familiares, entes queridos e amigos em decorrência da pandemia que atravessamos. Cumprimento todos os profissionais de saúde que atuaram na linha de frente desse momento tão duro em nossa história, em especial as mulheres e homens negros que atuam na ponta deste sistema.

Estamos falando de diferenças raciais hierárquicas que instituem condições materiais desiguais de vida e de morte de brasileiros e brasileiras. Não podemos mais ignorar ou subestimar o fato de que a raça e a etnia são determinantes para a desigualdade de oportunidades no Brasil em todos os âmbitos da vida. Pessoas negras estão sub-representadas nos espaços de poder e, em contrapartida, somos as que mais estamos nos espaços de estigmatização e vulnerabilidade.

Apesar de a maioria da população brasileira se autodeclarar negra, é possível observar que os brancos ocupam a maior parte dos cargos gerenciais, dos empregos formais e dos cargos eletivos. Por outro lado, a população negra está no topo dos índices de desemprego, subemprego e de ocupações informais, além de receber os menores salários.

A população negra está mais exposta ao analfabetismo, às piores condições de moradia, sendo inclusive a grande maioria das pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Os negros também são os que mais são mortos no Brasil, sobretudo vítimas da letalidade policial; e as mulheres negras também são as mais vitimadas por feminicídio e as que mais estão expostas à mortalidade materna e à violência obstétrica.

Os homens e as mulheres negras também correspondem à maior parcela da população carcerária no país, e muitas dessas pessoas estão presas provisoriamente, sem uma condenação formal.

Afinal, de que Estado de Direito estamos falando? Definitivamente, não é esse o modelo de democracia racial que queremos. Como nos lembra a Coalizão Negra por Direitos, composta por mais de 200 organizações negras do país: enquanto houver racismo não haverá democracia.

Reitero o que foi dito no pronunciamento de posse do Presidente Lula: O Brasil do futuro precisa responder às dívidas do passado! E é por isso que em um governo de reconstrução, nós gostaríamos também de falar com os não negros. O enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade racial é um dever de todos nós. A população brasileira não pode ser onerada com o custo das violações das quais é vítima.

Esperamos poder contar com vocês nessa tarefa de reconstrução em prol de respeito, cidadania, dignidade e igualdade de oportunidades. E, me dirijo especialmente aos demais ministros e ministros cujas pastas não poderiam funcionar sem um recorte pontual e transversal sobre o racismo e a racialidade no Brasil. E, também por isso, o Ministério da Igualdade Racial se coloca à disposição para reconstruir esse novo Brasil coletivamente. O compromisso com a Igualdade Racial no Brasil não pode ser o compromisso apenas deste Ministério!

Às queridas ministras Marina Silva e Sônia Guajajara, contem com o Ministério da Igualdade Racial para defender nossos povos indígenas e nosso meio ambiente lutando contra o que reconhecemos como Racismo Ambiental e pela justiça climática. Afinal, somos nós quem mais sofremos com as enchentes, deslizamentos e doenças produzidas pelas mudanças do clima.

Às queridas ministras Simone, Esther e ministro professor Haddad, contem com o Ministério da Igualdade Racial, para materializarmos a promessa que o Presidente Lula tanto repetiu ao longo da sua campanha: colocar os pobres no orçamento. Sabemos qual a cor da população mais pobre desse país e trabalharemos incansavelmente para dar dignidade através de políticas públicas ao nosso povo.

Às queridas ministras Nísia Trindade, Margareth Menezes, Ana Mozer, Luciana Santos e ministro Camilo Santana, contem com o Ministério da Igualdade Racial para pensarmos políticas de Educação, Saúde, Cultura e Esporte, Ciência, Tecnologia e Inovação que serão essenciais para garantir o direito ao futuro e à vida digna da população negra brasileira.

Aos queridos ministros Flávio Dino, Silvio Almeida e minha querida ministra Cida Gonçalves Contem com o Ministério da Igualdade Racial para promovermos a verdadeira justiça social, racial e de gênero que esse país precisa alcançar.

A todos os demais colegas ministros, advocacia geral da união liderada por meu colega Jorge Messias, controladoria geral da união por meu querido Vini, secretarias, e demais parlamentares e autoridades aqui presentes, contem com o ministério da Igualdade Racial para impulsionarmos políticas internas e externas que garantam efetivamente a democracia que tanto sonhamos.

Só iremos vivenciar uma verdadeira democracia a partir do momento em que a preocupação com a dignidade da população negra seja também uma preocupação de cada um dos outros ministérios, e esperamos poder contar com vocês para enfrentar este desafio. Só conseguiremos dar uma resposta eficaz às dívidas do passado se trabalharmos juntas.

Reconhecemos a demanda dos movimentos sociais com relação à necessidade de uma institucionalidade própria para a formulação, coordenação e articulação de políticas e diretrizes governamentais para a promoção da igualdade racial. Aos movimentos, organizações, sociedade civil, contem com o Ministério da Igualdade Racial para retomar o nosso poder de agência institucional.

Nós precisamos confrontar o esvaziamento e o enfraquecimento das políticas raciais conquistadas e construídas ao longo da história do enfrentamento ao racismo e da promoção da igualdade racial no Brasil. É nossa prioridade lutar pelo fortalecimento e ampliação de políticas que culminem na dignidade da vida do povo negro brasileiro.

E neste dia histórico em que o verdadeiro Brasil toma posse, a partir da caneta de nosso presidente Lula e com o peso de uma luta de gerações pela criminalização do racismo, damos mais um passo no caminho da promoção de reparação e igualdade. Saúdo a todos os juristas, ministros e secretários envolvidos na construção do PL que será assinado agora e que sinaliza um país do futuro sem racismo.

Nos comprometemos aqui também com a revogação dos atos que não reflitam a missão do Ministério da Igualdade Racial e com a promoção de políticas concretas.

Trabalharemos nos próximos quatro anos para fortalecer a Lei de Cotas e ampliar a presença de jovens negros e pobres nas universidades públicas;

Buscaremos aumentar a visibilidade e presença de servidores negros e negras em cargos de tomada de decisão da administração pública;

Relançaremos junto a ministérios parceiros o plano juventude negra viva, que promoverá ações que visem a redução da letalidade contra a juventude negra brasileira e a ampliação de oportunidades para jovens de nosso país;

Avançaremos em uma articulação interministerial pelo fortalecimento da política nacional de saúde integral da população negra;

Retomaremos programas que propaguem direitos para comunidades quilombolas e ciganas, incidindo para a regularização fundiária, a infraestrutura, a inclusão produtiva e o desenvolvimento local com direitos e cidadania para estes povos;

Será, também, a partir da maior estruturação e fortalecimento do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial que iremos realizar ações que busquem a equidade racial em diálogo com todos os municípios, estados e órgãos da união.

Essas serão as primeiras medidas de uma longa caminhada para recuperar o que foi destruído e fortalecer e ampliar o legado que vem sendo construído há tantas gerações.

É preciso reconhecer que este país foi sedimentado sob hierarquias raciais, consequências do colonialismo escravocrata, das políticas eugenistas, e das narrativas pautadas na desigualdade racial. Aqui se desenvolveu o “racismo à brasileira”, negando a nossa história e falseando uma memória em prol da farsa da democracia racial. O racismo merece um direito de resposta eficaz e nós gostaríamos de convidar a todas, todos e todes, negros e brancos, para que possamos formular e executar juntas essa proposta.

Nós estamos aqui porque temos um outro PROJETO DE PAÍS: Um projeto de país onde uma mulher negra possa acessar e permanecer em diferentes espaços de tomada de decisão da sociedade, sem ser interrompida ou violentada.

Um projeto de país onde uma mãe de um jovem negro não sofra todos os dias na dúvida se o seu filho vai voltar pra casa porque ele corre o risco de ser assassinado pelo próprio estado.

Um projeto de país onde nossos jovens negros possam ter acesso a educação pública, gratuita e de qualidade, através de escolas, universidades e serviços públicos que lhes permitam sonhar e construir outras possibilidades de futuro.

Um projeto de país em que negros, brancos, indígenas, populações tradicionais, e todas as pessoas independentemente de sua raça, cor, etnia, gênero e sexualidade tenham seus direitos constitucionais garantidos, e sejam tratados com dignidade e igualdade de oportunidades.

Um projeto de país pautado na busca pelo bem viver coletivo, pela melhoria da qualidade de vida e pela garantia da cidadania.

Nós temos um projeto de país e esperamos contar com vocês nessa construção. E é por isso que eu faço esse pedido a toda a população brasileira: caminhem conosco.

Caminhem conosco nessa estrada por onde nossos antepassados caminharam e por onde os nossos filhos e filhas caminharão.

Caminhem conosco até que nosso povo seja verdadeiramente livre, protagonista de sua própria trajetória, acessando direitos, dignidade e uma vida plena com justiça, reparação e felicidade.

Caminhem conosco até que os sonhos de nossas ancestrais se tornem realidade.

Gostaria de encerrar este pronunciamento com um poema muito especial para mim e que representa um pouco de tudo isso que quisemos trazer aqui no dia de hoje:

Vozes-Mulheres — Conceição Evaristo

A voz de minha bisavó

ecoou criança

nos porões do navio.

Ecoou lamentos

de uma infância perdida.

A voz de minha avó

ecoou obediência

aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe

ecoou baixinho revolta

no fundo das cozinhas alheias

debaixo das trouxas

roupagens sujas dos brancos

pelo caminho empoeirado

rumo à favela

A minha voz ainda

ecoa versos perplexos

com rimas de sangue

e

fome.

A voz de minha filha

recolhe todas as nossas vozes

recolhe em si

as vozes mudas caladas

engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha

recolhe em si

a fala e o ato.

O ontem – o hoje – o agora.

Na voz de minha filha

se fará ouvir a ressonância

O eco da vida-liberdade.

Nós somos essas filhas e não vamos nos furtar à fala e ao ato. Não recuaremos!

Iremos construir o Ministério da Igualdade Racial que a população brasileira merece. Agradeço a cada um de vocês que vieram até aqui, aos que não conseguiram entrar, aos que estão assistindo em casa, na rua, no transporte coletivo, agradeço sobretudo a todas as mulheres negras que construíram esse país no anonimato.

Como diz os versos de uma música considerada um hino para o movimento de mulheres negras, cantada no encerramento o 1º encontro nacional de mulheres negras em 1988, em Valença, no Rio de Janeiro:

África liberta,

em suas trincheiras

Quantas anônimas

Guerreiras brasileiras

mais uma vez

África liberta,

Tem suas trincheiras

Quantas anônimas

Guerreiras brasileiras.

Agradeço novamente a confiança depositada neste projeto coletivo, não chegamos aqui sozinhas e seguiremos juntas reafirmando nosso compromisso em trabalhar dia e noite por um Brasil do futuro com igualdade, justiça e reparação para todas as pessoas.

Vamos juntas.

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Com informações do Geledés e do Portal UOL


Lula sanciona lei que equipara injúria racial ao crime de racismo

 

(FOTO | Reprodução).

O presidente Lula (PT) sancionou a lei que equipara injúria racial ao crime de racismo, na noite desta quarta-feira (11), durante a posse da Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, realizada junto com a posse da Ministra do Povos Indígenas, Sonia Guajajara, no Palácio do Planalto.

A assinatura foi feita, entre aplausos e comemorações, após os discursos das ministras empossadas, que firmaram o compromisso do governo com a população negra e indígena. A lei sancionada prevê que o crime de injúria racial tenha uma pena maior, de 2 a 5 anos de reclusão.

Conforme diz o texto, a pena será aumentada da metade se o crime for cometido por duas ou mais pessoas, assim como no caso de ser cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las.

Também está previsto no texto aprovado a pena de suspensão em caso de racismo praticado em locais esportivos e artísticos, e para casos de racismo religioso. O Projeto de Lei 4566/2021 já havia sido aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro do ano passado, e só aguardava a sanção do Presidente da República, que tinha até esta quarta-feira (11) para ser feita.

Agora, assim como nos casos de racismo, a injúria racial é considerada inafiançável e imprescritível. Por fim, o texto também cita o crime de racismo realizado dentro dos estádios. Caso condenada, a pessoa poderá ser proibida de frequentar o local por até três anos.
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Com informações do Notícia Preta.