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Celebração ao Dia de Iemanjá, prática de matriz africana, na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro. (FOTO| Fernando Frazão | Agência Brasil). |
Os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (6), revelam que os adeptos a religiões de matriz africana mais que triplicaram desde 2010. A Umbanda e o Candomblé, que somavam cerca de 127 mil pessoas (0,3%) em 2010, passaram para aproximadamente 614 mil pessoas (1%) da população com dez anos ou mais em 2022.
Esse
crescimento ocorre em um cenário de revalorização das tradições de matriz
africana, especialmente entre as populações negras (pretas e pardas). Os dados
mostram que 26,3% das pessoas que se declararam umbandistas são pretas, e 22,4%
das que seguem o Candomblé pertencem a esse grupo racial. Em ambas as
religiões, pretos formam o maior percentual de autodeclarados, superando os
brancos e pardos individualmente.
No
Candomblé, pretos (22,4%) são seguidos por pardos (19,7%) e brancos (10,3%). Já
na Umbanda, o perfil racial se distribui com 26,3% de pretos, 23,4% de pardos e
18,2% de brancos. A análise reforça a centralidade da população negra no
cultivo e preservação das religiões afro-brasileiras.
Religiosidade negra também cresce entre
evangélicos e sem religião
Entre
os evangélicos, a população parda forma o grupo majoritário, com 49,1% dos
fiéis. Os pretos representam 20,1% — proporção superior à média nacional da
população preta. Entre os que se declaram sem religião, os pardos também são
maioria, com 45,1%, enquanto os pretos somam 14,2%.
Já
no catolicismo, que continua sendo o maior grupo religioso do país, a maioria
dos adeptos se declara branca (60,2%), seguida por pardos (32,8%) e pretos
(5,7%).
O
espiritismo mantém uma base majoritariamente branca (72,2%), com presença
reduzida de pretos (2,6%) e pardos (19,4%).
Diversidade religiosa e novos perfis
educacionais
A
elevação do número de adeptos das religiões afro-brasileiras também acompanha
melhorias nos indicadores educacionais. A taxa de analfabetismo entre
praticantes de Umbanda e Candomblé é de 2,5% — inferior à média nacional (7%) e
menor que entre católicos (7,8%) e evangélicos (5,7%).
A
maior parte dos praticantes dessas religiões completou o ensino fundamental
(27,6%) ou o ensino médio (25,6%), com 12,3% tendo acesso ao ensino superior
completo.
Sudeste e Sul concentram maior proporção
de adeptos a religiões afro
As
regiões com maior percentual de pessoas que se identificam com religiões de
matriz africana são o Sul (1,6%) e o Sudeste (1,4%). O estado com maior
proporção de seguidores é o Rio Grande do Sul, com 3,2% da população adepta de
Umbanda e Candomblé.
Apesar
de o Nordeste contar com forte presença histórica de terreiros e casas de axé,
a autodeclaração religiosa nesses estados aparece em proporção menor no Censo.
Especialistas indicam que isso pode estar relacionado ao medo da intolerância
religiosa e à associação entre ancestralidade e religiosidade que nem sempre se
traduz em pertencimento formal a uma religião.
Crescimento aponta para reconhecimento e
afirmação identitária
A
ampliação das religiões de matriz africana representa um movimento de afirmação
das tradições negras no campo da espiritualidade, marcado pela valorização de
saberes ancestrais, fortalecimento das casas de axé e resistência à
intolerância religiosa.
“As transformações sociais têm resultado em
modificações na metodologia do Censo ao longo de todas essas décadas. Códigos,
banco descritor, estrutura classificatória e incorporação de novas declarações
religiosas foram sendo necessários para retratar a diversidade religiosa no
Brasil da forma mais fidedigna possível”, afirma em nota Maria Goreth
Santos, analista do IBGE.
________
Com
informações da Alma Preta Jornalismo.
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