7 de junho de 2025

Adeptos a religiões de matriz africana triplicam no Brasil; negros são maioria

 

Celebração ao Dia de Iemanjá, prática de matriz africana, na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro. (FOTO| Fernando Frazão | Agência Brasil).


Os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (6), revelam que os adeptos a religiões de matriz africana mais que triplicaram desde 2010. A Umbanda e o Candomblé, que somavam cerca de 127 mil pessoas (0,3%) em 2010, passaram para aproximadamente 614 mil pessoas (1%) da população com dez anos ou mais em 2022.

Esse crescimento ocorre em um cenário de revalorização das tradições de matriz africana, especialmente entre as populações negras (pretas e pardas). Os dados mostram que 26,3% das pessoas que se declararam umbandistas são pretas, e 22,4% das que seguem o Candomblé pertencem a esse grupo racial. Em ambas as religiões, pretos formam o maior percentual de autodeclarados, superando os brancos e pardos individualmente.

No Candomblé, pretos (22,4%) são seguidos por pardos (19,7%) e brancos (10,3%). Já na Umbanda, o perfil racial se distribui com 26,3% de pretos, 23,4% de pardos e 18,2% de brancos. A análise reforça a centralidade da população negra no cultivo e preservação das religiões afro-brasileiras.

Religiosidade negra também cresce entre evangélicos e sem religião

Entre os evangélicos, a população parda forma o grupo majoritário, com 49,1% dos fiéis. Os pretos representam 20,1% — proporção superior à média nacional da população preta. Entre os que se declaram sem religião, os pardos também são maioria, com 45,1%, enquanto os pretos somam 14,2%.

Já no catolicismo, que continua sendo o maior grupo religioso do país, a maioria dos adeptos se declara branca (60,2%), seguida por pardos (32,8%) e pretos (5,7%).

O espiritismo mantém uma base majoritariamente branca (72,2%), com presença reduzida de pretos (2,6%) e pardos (19,4%).

Diversidade religiosa e novos perfis educacionais

A elevação do número de adeptos das religiões afro-brasileiras também acompanha melhorias nos indicadores educacionais. A taxa de analfabetismo entre praticantes de Umbanda e Candomblé é de 2,5% — inferior à média nacional (7%) e menor que entre católicos (7,8%) e evangélicos (5,7%).

A maior parte dos praticantes dessas religiões completou o ensino fundamental (27,6%) ou o ensino médio (25,6%), com 12,3% tendo acesso ao ensino superior completo.

Sudeste e Sul concentram maior proporção de adeptos a religiões afro

As regiões com maior percentual de pessoas que se identificam com religiões de matriz africana são o Sul (1,6%) e o Sudeste (1,4%). O estado com maior proporção de seguidores é o Rio Grande do Sul, com 3,2% da população adepta de Umbanda e Candomblé.

Apesar de o Nordeste contar com forte presença histórica de terreiros e casas de axé, a autodeclaração religiosa nesses estados aparece em proporção menor no Censo. Especialistas indicam que isso pode estar relacionado ao medo da intolerância religiosa e à associação entre ancestralidade e religiosidade que nem sempre se traduz em pertencimento formal a uma religião.

Crescimento aponta para reconhecimento e afirmação identitária

A ampliação das religiões de matriz africana representa um movimento de afirmação das tradições negras no campo da espiritualidade, marcado pela valorização de saberes ancestrais, fortalecimento das casas de axé e resistência à intolerância religiosa.

As transformações sociais têm resultado em modificações na metodologia do Censo ao longo de todas essas décadas. Códigos, banco descritor, estrutura classificatória e incorporação de novas declarações religiosas foram sendo necessários para retratar a diversidade religiosa no Brasil da forma mais fidedigna possível”, afirma em nota Maria Goreth Santos, analista do IBGE.

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Com informações da Alma Preta Jornalismo.

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