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Alexandre Lucas. (FOTO| Acervo Pessoal). |
Por Alexandre Lucas, Colunista
A política de editais no campo da cultura tem sido uma das principais formas de viabilizar o acesso a recursos públicos para o fomento cultural no país. Entretanto, tais recursos ainda estão distantes de atender às demandas sociais. A relação entre o que é ofertado pelo Estado e o que é demandado pela sociedade apresenta um contraste que evidencia nossa distância de um "SUS da Cultura" — objetivo que não deve ser descartado, mas, ao contrário, reforçado. Estamos em um processo político e jurídico para fazer a engrenagem do Sistema Nacional de Cultura funcionar, com a responsabilização da União, dos estados e dos municípios. A Lei Aldir Blanc I, a Lei Paulo Gustavo e a Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) são exemplos desse processo em curso, alinhadas à regulamentação do Sistema Nacional de Cultura e ao marco regulatório do fomento à cultura.
É
evidente que a política de editais é incapaz de suprir todas as demandas da
sociedade no tocante à acessibilidade da diversidade e da pluralidade
simbólica. No entanto, esse instrumento continua sendo importante e necessário,
inclusive para combater a política de balcão e as práticas antirrepublicanas.
Porém,
é preciso repensar como otimizar e ampliar a escala de acesso da população à
produção estética, artística, cultural e tecnológica proporcionada pelas
políticas de fomento.
A
educação talvez seja uma das principais portas para reduzir a exclusão
simbólica e ampliar a democratização em escala. A escola deve ser reconhecida
como o principal equipamento cultural da classe trabalhadora, que, ao mesmo
tempo que proporciona o conhecimento estético, filosófico e científico previsto
na grade curricular, também reproduz a monocultura da ideologia das classes
dominantes, limitando o repertório crítico, político e a visão de mundo da
realidade.
Ter
políticas de editais culturais alinhadas, de forma intersetorial, à educação
significa fortalecer politicamente uma estrutura que já existe (mesmo que
minimamente) e que atende à maior parte da população periférica e rural do
país, incluindo as populações minorizadas — ou "maioria minorizada".
Vale
ressaltar que experiências nesse sentido não são novidades. O Programa Mais
Cultura, fruto de uma parceria entre os Ministérios da Cultura e da Educação, e
a própria perspectiva transversal do Cultura Viva são exemplos que apontam para
essa possibilidade.
Destinar
recursos de editais de fomento para escolas públicas é garantir a
democratização da produção e formação simbólica a um público amplo e excluído
do circuito oficial das artes e da diversidade cultural.
A interface com a escola pública — seja como centro de ações, seja como ponte para ocupações de outros territórios, equipamentos culturais ou pontos de cultura — pode indicar caminhos para novas perspectivas de fomento cultural, baseadas na transversalidade, na intersetorialidade e na desconstrução do olhar elitizado de uma "cultura para poucos".
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