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Colégio no Rio de Janeiro insere na grade curricular aulas de cultura africana

 

(FOTO/ Reprodução/Geledés).

Com o objetivo de combater o preconceito racial e religioso, os alunos do Ciep Ministro Marcos Freire, em Sepetiba, na Zona Oeste, terão em suas grades curriculares, a partir do ano que vem, uma série de vivências da cultura africana. A parceria, firmada entre o colégio e o Instituto Onikoja, obedece às leis 10.639 e 11.645, que instituem a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio no Estado do Rio. O acordo alcança também os professores, que poderão aprender sobre a cultura afro-brasileira e replicá-la nas escolas.

Segundo o sacerdote de matriz africana, fundador e presidente do Instituto Onikoja, Humbono Rogério, o mesmo colégio firmara uma parceria semelhante com a instituição em 2017. Nesta última semana, para homenagear o Dia da Consciência Negra, cerca de mil alunos do Ciep, do sexto ao nono ano, participaram de atividades e vivências africanas. Foram três dias de programação rica em informação e cultura, com aulas de capoeira, culinária típica e rodas de conversa. “Fizemos esse trabalho durante a Semana da Consciência Negra para falar da importância da cultura africana, corroborando com o discurso do combate ao racismo”, disse.]

Em 2023, a ideia é levar os estudantes para uma vivência dentro do terreiro do instituto. “Ano que vem, boa parte dos alunos desse colégio farão atividades dentro do terreiro. As crianças e os adolescentes vão participar de oficinas de capoeira, dança, música, culinária, roda de conversa, entre muitas outras coisas. Elas vão comer comida da África, como acarajé, canjica, feijoada. Vamos vencer esse preconceito”, acrescentou.Segundo Rogério, o projeto ainda não tem dias certos para acontecer, mas funcionará em determinados dias da semana, podendo ser até mesmo de forma quinzenal, sendo uma vez com professores e funcionários e nas outras com os alunos. “As leis 10.639/03 e 11.645/08 preveem que todos possam tratar da cultura afro-indígena nas salas de aula, a falha é que elas não especificam que o professor precisa ser capacitado nas universidades. Essas leis não são aplicadas porque ninguém sabe falar sobre o assunto”, completou.

A lei 10.639/03 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da presença da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”. O aprofundamento do conteúdo estabelecido na lei é encontrado no texto das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, de outubro de 2004. Por meio dele as instituições de ensino, gestores e professores podem se munir de orientações, princípios e fundamentos para o planejamento e execução do conteúdo afro-brasileiro e africano dentro de sala de aula.Já a lei nº 11.645/08 torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, no entanto, não prevê a sua obrigatoriedade nos estabelecimentos de ensino superior para os cursos de formação de professores.

O Ciep Marcos Freire vai ser um piloto para capacitarmos os professores e fazermos oficinas com os alunos. O tema racismo precisa ser abordado frequentemente. Por exemplo, tínhamos um projeto musical lindo há muitos anos, com atabaques e violinos. Ficou faltando um violinista e precisávamos de alguém para substituir o que faltou, íamos tocar Chiquinha Gonzaga. Mas, muitos achavam que ela era do demônio, então não conseguimos ninguém. Está acontecendo um apagamento da cultura africana com essa mistura de religiosidade”, ressalou.

O sacerdote afirmou que os gestores do colégio nunca foram resistentes aos temas lecionados. “Especificamente, com essa escola nunca tivemos problemas. O nosso trânsito com eles sempre foi maravilhoso desde 2017. O pessoal lá tem um olhar mais avançado para questões super importantes de direitos humanos e de cultura”.Em relação aos pais, também há uma boa sintonia. “Eles não reclamam, às vezes ficam mais resistentes apenas. Quando veem que não falamos de religiosidade e que temos uma relação muito boa com as outras religiões, que as respeitamos, eles permitem a participação dos filhos”, afirmou.

Muitas crianças já falaram que tinham medo de pisar no terreiro, mas quando eu pergunto o porquê elas não sabem explicar. A criança não nasce com preconceito, até porque quem prega o preconceito não dá justificativa né? Geralmente só falam que é coisa do demônio. A gente veio para construir ponte, queremos falar de amor, porque de ódio já tem muita gente falando”, finalizou Rogério.

Para o gerente da Gerência de Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação do Rio, Ricardo Jaheem, é necessário que as escolas desenvolvam atividades para as crianças e proporcionem mais contato delas com a cultura africana. “Essa cultura de construir uma educação antirracista está muito voltada para a nossa proposta de criar um Rio antirracista. Temos que pensar nossas escolas como polo de irradiação dessas leis através da gerência étnico-raciais”, disse.

Nós produzimos materiais pedagógicos para orientar professores a fazerem suas ações, por exemplo. Em novembro lançamos a agenda modernismo negro, falando sobre artistas negros que foram deixados para trás no movimento de arte em São Paulo”, acrescentou.

Ricardo destacou ainda que é importante o entendimento da cultura afrobrasileira para além de ações como rodas de capoeira ou turbantes, e defendeu o aprendizado nas escolas. “Precisamos entender a construção de uma identidade positiva através da literatura, de práticas antirracistas consolidadas. Claro que as ações têm suas vantagens, mas elas precisam fazer parte de uma narrativa pedagógica anual da escola”, declarou.

História do Instituto OnikojaA Instituição Onikoja nasceu dentro do terreiro Humpame Kuban Bewa Lemin, em Sepetiba, há 22 anos. Junto com ele, foi criado o projeto Onikojá, que em 2017 virou um instituto.

As ações que o projeto desenvolve dentro dos terreiros visa homenagear a herança cultural africana, ajudando pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social e promovendo o diálogo intercultural e inter-religioso. “Nós fazemos um trabalho de formiga. Toda semana a gente faz roda de cidadania aqui no instituto, tanto para crianças quanto para adultos. Nesse momento, trabalhamos esses conceitos que retornaram agora, como por exemplo, que bandido bom não é bandido morto, mas ressocializado”, pontuou Rogério.

Segundo o religioso, que cresceu em um lar católico, seu olhar sempre foi diferente para a prática. “Eu trouxe para o candomblé, para esse terreiro que abri há tantos anos, o conceito que minha família me ensinou: o verdadeiro significado da palavra oração, que é olhar para o lado. Não dá para seguir em frente deixando alguém para trás”, finalizou.

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Com informações do O Dia e da Revista Raça.

Professora usa a cultura africana para ensinar matemática


Professora usa cultura africana para ensinar matemática. (Foto: Reprodução/ Educação Integral).

Ao imaginar a calculadora mais antiga do mundo, é provável que pensemos no início dos computadores, com dimensões enormes, ou lembremos do ábaco, o instrumento de cálculo composto por bastões e contas. Mas a primeira ferramenta para calcular de que se tem notícia é o osso de Ishango, desenvolvido por africanos 20 mil anos antes de Cristo, a partir do fêmur de um macaco babuíno.

Esse é o tipo de informação que raramente temos na escola, porque só estudamos os matemáticos de sempre, quando desde muito antes dos árabes e gregos, os africanos, além dos egípcios, já dominavam os conhecimentos que estudamos hoje”, diz Andreia Viliczinski, professora que tomou para si a iniciativa de ensinar matemática por meio da cultura e da história africana, com o projeto que denominou “África, berço da matemática”.

"A etnomatemática propõe ensinar matemática levando em consideração outras culturas que também produzirem e produzem conhecimento, de variadas maneiras, mas que são frequentemente apagadas das narrativas da sociedade e da escola. A afroetnomatemática, por sua vez, apresenta a matemática a partir da cultura africana. "

As atividades para ensinar matemática por meio de projetos envolvendo a cultura africana tiveram início em 2016, na Escola Estadual de Ensino Médio Governador Celso Ramos, em Joinville (SC), quando Andreia pesquisou sobre etnomatemática e apresentou a ideia para os alunos, que se entusiasmaram com o assunto.

Eu não conhecia a história dos negros no Brasil, só sabia o que aprendi no Ensino Básico. Pesquisando, passei a compreender as questões das relações raciais no País e perceber nas salas de aula e na comunidade muito preconceito e racismo. Mas durante o projeto notei também que alguns alunos se sentiram representados, se identificaram”, comenta a professora.

Conhecendo a contribuição africana

O início do projeto consistiu em assistir ao filme Besouro (2009), que traz parte da memória dos afrodescendentes no Brasil, ao relatar a história da capoeira e das religiões desse povo. Depois, a professora dividiu os alunos em turmas para realizarem, durante um mês, pesquisas sobre matemática e cultura africana.

Ao final do período, os alunos fizeram apresentações sobre o que descobriram. Estas primeiras atividades introduziram o tema, permitindo que os alunos fizessem suas primeiras descobertas e as compartilhassem com os colegas.

          


A matemática dos búzios e outros elementos

Em seguida, começaram os estudos matemáticos propriamente ditos: números primos, raciocínio lógico, geometria, ângulos, e probabilidade, envolvendo a contribuição de africanos para a ciência e sua cultura.

Andreia usou os gráficos de Sona – representações simbólicas e narrativas da África central – para explicar análise combinatória e os búzios para tratar probabilidade

Andreia conta que usou os gráficos de Sona – representações simbólicas e narrativas da África central desenhadas na areia – para explicar análise combinatória e os búzios para ensinar probabilidade, já que eles, assim como a moeda, também têm dois lados. “Eu propunha exercícios como: qual a probabilidade de, em um jogo com quatro búzios, dois caírem abertos e dois fechados?”, conta.

Com o osso de Ishango, estudaram números primos e sequências matemáticas, fazendo reproduções da calculadora primitiva em argila, aprendendo que ela foi também o primeiro calendário lunar. Ao mesmo tempo, discutia com os jovens a história de como os búzios vieram para o Brasil, os tipos de jogos, quais são as religiões africanas e afro-brasileiras que os utilizam e os seus significados.


O osso de Ishango, encontrado na atual região do Congo, possui três faces, com riscos em cada uma delas, representando sequências numéricas.

Para estudar fractais – figuras da geometria não-Euclidiana –, fizeram máscaras africanas e estudaram seus padrões geométricos. O exercício foi ponte também para abordar o uso cultural dessas máscaras, os rituais nos quais são utilizadas, os diversos significados de suas pinturas, bem como a configuração de algumas aldeias, que reproduzem fractais por meio da disposição de seus elementos.

Valorização cultural e alunos engajados

Os alunos se interessaram, se envolveram, e trouxeram a questão da música africana, que eu aproveitei para falar não só da música nos países do continente africano, mas também sobre o som, que nada mais é do que uma onda. Então fomos para trigonometria, amplitude, frequência”, conta Andreia.

Para finalizar o projeto, trabalharam dados do IBGE sobre as violências contra as mulheres negras, analisando sua incidência, atores, tipos de violência, entre outros pontos. “É nosso dever discutir as questões étnico-raciais e uma das maneiras é mostrar toda a contribuição dos negros construtores do conhecimento, porque eles têm um papel muito grande para a comunidade científica”, finaliza a professora. (Com informações do Educação Integral).

Fique por dentro da gastronomia AFRICANA. Conheça 10 pratos.


Arroz Jollof é o prato mais popular no oeste africano.

A gastronomia não se limita somente ao objetivo primário de matar a fome, com todas as suas variações ela se apresenta como instrumento de propagação da cultura e representa como ninguém os mais diversos povos e tradições. Se tratando de um continente tão complexo como a África fica ainda mais difícil resumir a preferência gastronômica de sua gente. O modo de fazer, os ingredientes selecionados, a criação de animais e os pratos refletem o ambiente em que cada pessoa vive e toda a tradição e história que envolvem o lugar.


A alta incidência de estrangeiros que desembarcaram na África ao longo dos séculos também deve ser levada em consideração na análise. Pensando nisso, o site Mail & Guardian Africa topou o desafio e selecionou os 20 pratos mais populares na cozinha africana e nós resolvemos destacar alguns deles, além de contar um pouco da história gastronômica de cada região.

A chermoula é uma mistura de ervas consumida basicamente
no Norte da África.
Vamos começar no século 7, quando os árabes chegam com suas famosas especiarias – açafrão, canela, gengibre e cravo – revolucionando a gastronomia no Oriente africano. A presença árabe na cozinha do leste do continente é fato bastante conhecido, a relação começou a mil anos atrás quando eles navegavam com arroz e especiarias, estes que hoje marcam presença na comida Suaíli das regiões costeiras. A partir do Novo Mundo eles descobriram o pimentão, tomates e batatas. Limões e porcos domésticos vindos da China e Índia completam a lista.

Ao se deslocar mais para o interior, é notável a presença do gado, ovelhas e cabras, todos considerados moeda de troca pelos pastores. Os animais também servem para a alimentação, contudo apenas para a confecção de produtos oriundos do leite, geralmente sua carne não é consumida. Os habitantes da região preferem a pesca – que fornece a proteína – e também o consumo de grãos, feijão e legumes.

Biltong é uma carne curada consumida em todo o continente.
Já a comida do Norte se destaca pelo cheiro. Egito, Marrocos, Líbia, Tunísia e Argélia, todos banhados pelo Mar Mediterrâneo, se caracterizam pelo consumo de erva-doce, alecrim, louro, cravo, canela e pimentas. A cultura do lugar foi fortemente influenciada pelos fenícios do primeiro século, que trouxeram a salsicha, seguidos pelos cartagineses, que introduziram o trigo, evidenciando a preferência da população por pratos feitos à base de trigo e de carne de cordeiro. Em tempo, muitos temperos migraram dali para países da Europa, como Espanha, França e Itália.

No chamado chifre africano, que engloba Etiópia, Somália, Djibouti e a Eritreia, a religião, especialmente as crenças islâmicas e cristãs, impactaram significativamente na mesa de jantar. Diferente de outros locais, aqui não há carne de porco, substituída pelas leguminosas, lentilha e grão de bico. Os pratos tradicionais da cozinha etíope e eritreia são semelhantes e ambos dominados por tsebhis (ensopados), que são servidos com injera – um crocante feito com teff, trigo ou sorgo -, também encontrado na Somália.

Chermoula, mistura de ervas, leva óleo, suco de limão,
alho, cominho e sal.
Com toda a diversidade citada ao longo do texto, pode-se dizer que a África Austral é dona de umas das maiores variedades culinárias de todas as regiões do continente. Isso se deve a mistura entre as culturas das sociedades tradicionais africanas com os índios, europeus e populações asiáticas. A África do Sul, por exemplo, fazia parte da rota marítima que ligava o Oriente ao Ocidente e com isso sua cozinha se diversificou bastante. Em geral os sul-africanos consomem carne vermelha e um dos pratos favoritos da população é o bobotie, um cozido de carne moída, pão, leite, cebola, castanhas, passas, damascos e  curry. A comida era uma das preferidas de Nelson Mandela.

Por fim falamos da África Ocidental e Central, que teve sua culinária muito menos influenciada pelos europeus do que os outros. Com o mínimo contato com o exterior, a cozinha destas duas regiões continuam próximas dos ingredientes e técnicas tradicionais. A única adição foi a mandioca, amendoim e plantas de pimenta, que chegaram junto com o comércio de escravos em meados do século 16.

As injera são úmidas e fofas e são consumidas principalmente na Somália e Etiópia.

Depois da introdução, com vocês alguns dos destaques da lista:

Biltong – Original da África do Sul, é uma carne curada consumida em todo o continente. Geralmente o prato é preparado com pimenta preta, salta, açúcar, vinagre e molho barbecue.

O Fufu (em amarelo) é feito com mandioca e inhame. O prato é bastante popular em Gana. Foto/Blog Mundi.

Fufu – Popular no Oeste, é feito a partir da fervura da mandioca e do inhame (pode ser substituído pela banana) e em seguida é batido até ficar com a consistência de massa.

Parecido com o bolinho de chuva, o mandazi é um dos principais da culinária Suaíli.

Mandazi – Com forma que lembra o nosso bolinho de chuva, o prato é um dos principais na culinária Suaíli e acompanha qualquer prato ou pode servir de aperitivo. Os ingredientes básicos são amendoim, leite de coco e amêndoas.

Injera – Crepe com farinha fermentada na água por dois ou três dias. Depois eles são assados numa chapa de ferro ou blaca de barro, colocadas sobre um fogão. As injera são úmidas e fofas e consumidas principalmente na Somália e Etiópia.

Arroz Jollof – O prato mais popular no Oeste africano, o alimento tem como ingredientes básicos arroz, tomate, molho de tomate, cebola, sal e pimenta vermelha. Ele é consumido principalmente na Nigéria, Togo, Gana, Serra Leoa e Libéria.

Chermoula – Uma mistura de ervas, leva óleo, suco de limão, alho, cominho e sal. Ele é consumido basicamente no Norte e os ingredientes variam de acordo com o país.

O Nyama Choma é uma carne assada servida em restaurantes chiques ou no comércio de rua. Popular no Quênia.
Nyama Choma / Braaivleis / Mechoui – Com nomes e técnicas de cozinhar diferentes, é apreciado quase que em todo o continente. É um tipo de carne assada servido em restaurantes chiques ou no comércio de rua de Nairóbi, no Quênia. Também vai bem com cerveja.

O cuscuz, que também está presente na mesa dos brasileiros, é apreciado na Argélia e Marrocos.
Couscous – Alternativa interessante para o arroz e massas no Norte da África, o cuscuz é feito no vapor e com trigo. O prato também está presente na mesa dos brasileiros.

Original de Portugal, o piri-piri é um molho picante e adotado pela cozinha sul-africana.
Piri Piri – Original de Portugal, é um molho picante e adotado pela cozinha sul-africana.


Conheça o Tambor de Crioula: Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro



O Tambor de Crioula do Maranhão é uma forma de expressão de matriz afro-brasileira que envolve dança circular, canto e percussão de tambores. Seja ao ar livre, nas praças, no interior de terreiros, ou associado a outros eventos e manifestações, é realizado sem local específico ou calendário pré-fixado.


Reconhecido em 2007 como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Desde então, o 18 de junho se tornou Dia Nacional é marcada por festas em diversas cidades do estado.

Trazida para o estado por escravizados de diversas regiões africanas nos séculos XVIII e XIX, como divertimento ou uma forma de louvor e pagar promessa a São Benedito.

Essa manifestação afro-brasileira ocorre na maioria dos municípios do Maranhão, envolvendo uma dança circular feminina, canto e percussão de tambores. Dela participam as coreiras ou dançadeiras, conduzidas pelo ritmo intenso dos tambores e pelo influxo das toadas evocadas por tocadores e cantadores, culminando na punga ou umbigada – gesto característico, entendido como saudação e convite.

Participação sociocultural de povos e terreiros de matriz africana será discutida em oficinas



Como parte das comemorações do lançamento da Lei Cultura Viva, será realizada nos dias 6 e 7 de abril, em Brasília, a Oficina Nacional de Participação Sociocultural dos Povos, Comunidades e Terreiros de Matriz Africana. O evento tem o objetivo de estimular a participação de agentes desse segmento na construção, desenvolvimento e acompanhamento de políticas públicas que fortaleçam a autonomia e a cultura afro-brasileira.

Entre as atividades do evento estão oficinas sobre temas como Patrimônio e Cultura, Lei Cultura Viva, Plano Nacional de
Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de atriz Africana, Fomento Participativo e
Juventude e Cultura. Foto: Oliver Kornblihtt.
Entre as atividades do evento estão oficinas sobre temas como patrimônio e cultura, Lei Cultura Viva, Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, fomento participativo e juventude e cultura. Também será constituído grupo de trabalho para elaboração e implementação do I Fórum Nacional de Participação Sociocultural dos Povos, Comunidades e Terreiros de Matriz Africana.

Para o coordenador da Rede Nacional de Cultura Ambiental Afro-brasileira, Aderbal Ashogun, a oficina é importante para a criação e empoderamento de espaços de participação social. "E também para o estabelecimento e fortalecimento de redes interministeriais e socioculturais entre os povos e comunidades tradicionais de matriz africana", destaca.

A oficina está sendo realizada pela Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC), em parceria com o Grupo de Trabalho de Matriz Africana da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC), a Omo Aro Companhia Cultural, a Rede Nacional de Cultura Ambiental Afro-Brasileira, e a Agência Popular de Fomento à Cultura Solano Trindade.

Dança africana: Os sentidos estéticos




Por que muitas das danças africanas são realizadas em círculos? Por que na música tradicional os tambores se alternam e se repetem? O que significa o bater contínuo de palmas? Na África, mais do que expressões artísticas, as danças são um poderoso meio de comunicação, que traduzem e refletem suas sociedades. Os sinais cognitivos na coreografia, costumes, instrumentos musicais e a até mesmo disposição dos corpos expressam profundos aspectos culturais. As danças, em todas as suas dimensões, carregam mensagens centrais para o funcionamento e dinamismo de uma sociedade.

Dança africana e os sentidos estéticos.
Se hoje, a mídia é a formadora de opiniões do mundo contemporâneo, as danças outrora foram encarregadas desse papel, e ainda o são muitas vezes. Elas podem se constituir em uma forma de autocrítica, sendo uma grande ferramenta para dirigir mudanças de comportamento, tendo a vantagem de se comunicar sem esforços, através da edudiversão, explica o historiador zimbabuano Pathisa Nyathi. Nesse conjunto, elas se tornaram uma peça chave na cultura local e seus simbolismos não apenas são contextuais, como representam a visão do mundo e ideologia dos povos que a performam.

Não apenas os tons e as rimas, mas também os trajes, posturas corporais, cores, arranjos, formas e desenhos dos instrumentos musicais compartilham um aspecto em comum: os sentidos da estética africana, expressando a inter-relação entre a humanidade e o meio ambiente. Pathisa explica que são oito os sentidos estéticos da dança, denominados por sentidos Welsh-Asante’s: polirritmia, repetição, qualidade de conversação, policentrismo, sentido curvilíneo, dimensionalidade, memória épica e sentido holístico.

No contexto mais prático, polirritmia refere-se aos ritmos diversos por diferentes instrumentos musicais; repetição é a reiteração de uma nota, frase, sequência, cor, forma, movimento, bater de palmas ou pés, ou mesmo uma dança ou música inteira; e policentrismo é o senso estético que tem a ver com multiplicação de um movimento e/ou som, textura e cor dentro do produto artístico. Já os outros cinco conceitos são mais complexos, tratando-se de perspectivas culturais.

Qualidade de conversação é o sentido que reitera a importância da conversa durante uma performance, podendo significar a simples troca de palavras durante a música cantada até a conversa entre instrumentos como os tambores, que são tocados alternadamente para reproduzir tal efeito. Outro importante aspecto é o sentido curvilíneo, que representado com a forma, figura ou estrutura curva nos produtos artísticos e na posição dos corpos, é diretamente relacionado com os conceitos-guia das sociedades africanas de continuidade e fertilidade.

O sexto conceito é a dimensionalidade, que tem a ver com a impressão e emoção que um participante sente, ouve ou vê através de um produto artístico. Trata-se de uma experiência extrassensorial. É uma dimensão percebida. Já a memória épica tem em si uma grandeza metafísica, tratando-se das memórias e lembranças que são proporcionadas durante uma dança, em que sentimentos, experiências, ethos e pathos são recuperados. Por fim, o sentido holístico, que é o efeito de todo o conjunto da dança. Sons, cores, movimentos: tudo consumido ao mesmo tempo como um todo, formando uma unidade artística.

Na análise da Woso, dança da chuva no Zimbábue, por exemplo, de diversas maneiras os sentidos estéticos são reproduzidos. O batuque simboliza trovões, os chocalhos amarrados nas pernas dos dançarinos criam a ambientação das gotas de chuvas, as roupas são em branco e preto simbolizando as cores das nuvens, os trajes são confeccionados com penas de avestruz também em preto e branco, representando novamente as cores das nuvens, mas também as cores dos pássaros migratórios, símbolos de chuva na cultura local. E a chuva, ou seja, o conjunto simboliza a fertilidade da terra, que em termos culturais, significa a continuidade da espécie humana.

Pathisa explica que não é possível falar da fertilidade do homem sem falar da fertilidade da terra. Só com a chuva, a terra é fértil e só com a terra fértil, o homem subsiste. Nesse contexto, a preocupação no caso da Woso é a ideia de continuidade e preservação da espécie. A dança se torna assim um santuário para a fertilidade. O historiador observa ainda que nas sociedades africanas, a arte tem um propósito, uma função e que a dança, associada tanto a eventos sagrados quanto profanos, desempenha um papel crucial na educação, entretenimento, política e religião. E assim conclui: “A dança é uma explosão da experiência emocional. A dança é um microcosmo de uma sociedade em particular. É a sociedade em movimento. E é lindo”.



Tons de Angola: Influência é vista em vários traços culturais do brasileiro



A influência africana no Brasil aparece em uma série de traços culturais e pode ser vista no idioma, na comida, na música, nas manifestações religiosas e no próprio jeito de se comportar do brasileiro. De tradição bantu, Angola foi um dos países que mais contribuíram para essas influências.


O povo bantu é originário de várias regiões do Continente Africano, como o Sul da África e a África Central, na qual se encontra Angola. As várias etnias desse povo se misturaram nos navios negreiros a caminho do Brasil e, mesmo perdendo muito de sua individualidade no processo de escravização, traços fortes se mantiveram até hoje. Palavras como “quitanda”, “cafuné”, “chamego” e “moleque” são derivadas do vocabulário de povos da região onde hoje está Angola.

São termos relacionados a práticas de relações domésticas, familiares, em festividades. A gente não percebe a profundidade da influência desses costumes. As palavras, sozinhas, aparecem como curiosidades, mas “quitanda”, por exemplo, vem das práticas comerciais, “chamego” e “cafuné”, dos modos de cuidar, educar, criar os filhos”, analisa a professora de antropologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Luena Nunes Pereira.

Ela considera que uma das principais heranças culturais dos povos que vieram da África para o Brasil é o jeito de se comportar. Segundo ela, os brasileiros incorporaram vários maneirismos dos africanos. “A maneira como a gente se conduz corporalmente, o jeito de andar, gesticular, se comportar com os outros, com abraços e tapinhas nas costas. Isso tudo tem uma influência africana muito forte. É como dizia Gilberto Freyre, até no jeito de andar dos brancos você encontra um pouco de África.”

O país também deve a Angola uma expressão artística alçada a ícone tipicamente brasileiro. O conhecido samba nasceu do semba, angolano. O semba é dançado como se fosse um sapateado em ritmo mais acelerado. “A matriz do samba é angolana. O toque do samba, a percussão, a rítmica, isso é bantu. Todas as formas musicais reconhecidas como afro-brasileiras são bantu”, explicou Luena, citando o samba, o maracatu, o jongo e o batuque.

Paula Barreto, professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisadora do Centro de Estudos Afro-Orientais, ressalta que o semba é um dos estilos musicais mais fortes da cultura angolana. “O samba é uma expressão cultural de trajetória longa, mas é possível verificar essa aproximação com Angola porque o semba continua existindo como uma parte forte da produção musical angolana. A questão do ritmo, da marcação, da cadência, o modo de dançar, as características mais importantes do samba.”

Outro expoente da cultura nacional trazido pelos povos de Angola é a capoeira. A mais antiga das formas de jogar é batizada capoeira de Angola. “É uma capoeira jogada em um andamento predominantemente lento e com movimentos mais baixos”, diz o mestre Zulu, mineiro de 63 anos de idade, 48 deles dedicados à capoeira. Segundo ele, o jogo da capoeira de Angola é mais estudado, estratégico, tentando induzir o oponente ao erro.

Há muito meneio de corpo para distrair o oponente e apanhá-lo de alguma forma. A capoeira de Angola usa muita movimentação com as mãos no chão, muito equilíbrio de cabeça para baixo, muita 'malemolência' e, subitamente, sai um golpe.”

O acompanhamento rítmico da capoeira de Angola e da capoeira regional, desenvolvida no Brasil pelo Mestre Bimba, em 1927, também é diferente. Enquanto a capoeira regional usa apenas um berimbau de afinação média, dois pandeiros e as palmas, a capoeira de Angola é mais diversificada e explora bastante a percussão. São três berimbaus, com três afinações diferentes – viola, médio e gonga, este sendo mais grave –, atabaques, pandeiro, reco-reco e agogô.

Quando falamos em herança culinária, no entanto, foi o Brasil quem mais influenciou Angola. “A mandioca foi levada pelos portugueses para lá e hoje é base da alimentação angolana. É um país muito dependente da mandioca. É uma influência indígena vinda do período colonial”, detalhou Luena. É possível, contudo, enxergar detalhes de Angola na culinária brasileira, como a forma de cozinhar os alimentos e o uso frequente da banana, do inhame e do azeite de dendê, muito utilizado na cozinha baiana.

Hoje, na avaliação da socióloga da UFBA, Angola conhece muito mais o Brasil do que os brasileiros conhecem os angolanos. “A produção cultural brasileira chega fortemente a Angola. A música, a televisão, a literatura. Eles acompanham nossas novelas e alguns artistas, como Martinho da Vila. O ângulo inverso, da entrada da cultura angolana no Brasil, é que me parece que ainda poderia crescer.”

Ela cita que pelo menos três escritores angolanos circulam no cenário literário brasileiro com alguma desenvoltura. José Eduardo Agualusa; o jovem Ondjaki, vencedor, no Brasil, do Prêmio Jabuti de Literatura; e o veterano Pepetela que destaca, em sua obra, os problemas da sociedade contemporânea de Angola.

Como alternativa para as referências portuguesas, esses escritores beberam da fonte literária brasileira. “Eles reconhecem que foram influenciados por grandes nomes da nossa literatura, como Guimarães Rosa e Jorge Amado”, diz a especialista da UFBA.

Eles também aproveitam as semelhanças com o Brasil para poder agregar mais à sua forma de ver o mundo e até mesmo criar seu estilo. Na opinião de Paula, é algo que dá uma dica do que os brasileiros poderiam fazer.

Devemos nos voltar muito mais para o Continente Africano e, em especial, para Angola. Temos grande facilidade de troca cultural. O idioma, o passado e a memória compartilhada colaboram. Nós devemos e podemos nos conhecer muito mais.”

Do Geledes: Os Significados das Máscaras Africanas


Máscara tem origem no latim mascus ou masca = “fantasma”, ou no árabe maskharah = “palhaço”, “homem disfarçado”.

Principais funções de uma máscara são: disfarce, símbolo de  identificação, esconder revelando, transfiguração, representação de  espíritos da natureza, deuses, antepassados, seres sobrenaturais ou  rosto de animais, participação em rituais (muitas vezes presente, porém sem utilização prática), interação com dança ou movimento,  fundamental nas religiões animistas e mero adereço.

Saiba os significados das máscaras africanas.
Foto: Divulgação.
Uma das sociedades que mais se expressam simbolicamente através de suas expressões artísticas e tornou-se conhecida através de suas máscaras são as etnias africanas. Dentro da África encontram-se várias sociedades, onde cada uma possui traços específicos e particulares respeitando seu contexto cultural.

Dentro da arte africana, as esculturas são as expressões de maior destaque e mais conhecidas universalmente. Diferente da concepção artística ocidental, a arte africana possui um teor e um sentido mágico religioso.

Para os africanos, as esculturas são objetos rituais, comunicação com os deuses e uma maneira de se mostrar e distinguir-se das demais comunidades.

O continente africano é enorme e habitado por várias etnias, por isso apresenta diferenças Culturais, estéticas e religiosas de uma região para outra. Conseqüentemente, a máscara africana não tem traços homogêneos, cada comunidade possui seu próprio estilo artístico.

A maioria das máscaras é feita em madeira, afinal para os africanos a árvore é guardiã de poderes mágicos. O artista parte de um tronco cílindrico e vai afinando com o auxilio de suas ferramentas. A madeira escolhida deve ser verde e para que não rache, ele a carboniza jogando óleos de palmeira.

Além da madeira, outros materiais podem ser usados nas esculturas, como pedra, marfim, ouro, cobre e bronze.

Não é qualquer um que pode esculpir máscaras em uma sociedade africana. O artista não é um ser individual, pois através de suas mãos a coletividade fala. Cabe a ele o papel de interpretar os valores de todos e concretizar em sua obra.

Reprodução de máscara africana. Foto: Divulgação.
Na maioria dos casos, o escultor pertence a uma família ou casta de artistas. Inclusive será ali que ele irá aprender o uso e os instrumentos para a atividade artística. No entanto, pode acontecer de algum jovem da aldeia se interessar pela arte, mesmo sem ser da família de artistas. Neste caso, ele começará como aprendiz, copiando os modelos do mestre para depois criar os seus próprios, sempre obedecendo ao estilo vigente.Totalmente oposto a nossa a visão ocidental do artista, o escultor africano embora tenha uma posição de respeito e poder, deve ficar incógnito e passar por um processo de abstinência e purificação antes de iniciar a escultura. Pois confeccionar uma máscara é um ato sagrado, e quem o faz deve estar livre de todas as impurezas. Não importa quem é o artista, mas a mensagem social de que é portador.

A posição do escultor dentro de cada comunidade poderá variar, em algumas ele é visto antes do agricultor, em outras é inferior. Em alguns reinados, o artista torna-se um instrumento de ostentação do rei. Neste caso ele irá fazer obras onerosas para mostrar como aquele rei é rico.

As várias estéticas da arte africana

Cada região da África tem seu estilo artístico e materiais diferenciados. Isso varia pelas diversas influências e Culturas que o continente sofreu durante a sua história. As mais antigas esculturas africanas foram encontradas no Norte da Nigéria, em uma mina nos arredores de Jos, a Cultura Nok (cabeças humanas de dois metros de altura em formato cilíndrico, com enfeites nas orelhas, lábios e pupilas feitas em terracota).

Apreciar uma escultura africana de qualquer uma destas sociedades é ler a história, ouvir a voz de uma coletividade ou antepassado da população. A própria peça fala por si, é um objeto de testemunho.