O
ato de se manifestar e as diversas formas de se fazê-la sempre foram um símbolo
e um dos caminhos mais visíveis que qualquer classe social dispõe na luta pela
garantia de melhores condições de trabalho e de salários, se configurando como
uma ação inalienável.
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Grupo de professores em passeata pelas ruas de Altaneira por ocasião de um chamamento da CNTE. Foto: João Alves. |
Quem
não se lembra do manifesto dos pioneiros pela educação? Quem não se lembra das
diversas maneiras que os grupos que tinha como bandeira de luta um país
democrático nos sombrios tempos da ditadura civil-militar? Quem não se lembra (voltando
mais um pouco na história do Brasil), dos tempos em que negros vindos forçados
do continente africano pelos simples fato de se recusar a trabalhar no regime
escravista e muitos deles usavam a fuga como resistência e de lutar pelo que
não concordavam? E dos índios? Classes que ainda hoje sofre pelos resquícios
deixados por sistemas autoritários e arcaicos em um travestido de democrático.
A
grande questão a ser colocada é: Pelo que lutavam? Com quem lutavam? Contra
quem lutavam? Que instrumentos lhe baseavam? São perguntas essenciais e que
sobre hipótese nenhuma deve ser relegada. Se não há o risco de se fazer uma
análise superficial, rasteira. Ora,
quando assim se coloca, é perceptível que todas essas revoltas tinha algo que
as unia, mesmo ante as particularidades de cada movimento e as especificidades
de cada período histórico – A luta pela coletividade.
Essa
semana, sem dúvida nenhuma, o pequeno município de Altaneira foi, uma vez mais,
alvo dos holofotes midiáticos, inclusive aqueles de nível regional. Um grupo de
professores, atendendo a solicitação de órgãos nacional e estadual que lhes
representam saiu às ruas, ocuparam os centros de poder desta municipalidade –
Rádio Altaneira FM e Câmara dos Vereadores. Por dois dias (17 e 18/03), o
professorado foi visto além-sala de aula. Na pauta das manifestações, melhores
condições de trabalho, salário digno, etc. Isso é que deveria subsidiar o teor
das discussões. Afinal de contas, religiosamente falando (linguagem que a
grande maioria entende) era o que rezava o comunicado da Confederação Nacional
dos Trabalhadores da Educação – CNTE e a Associação dos Professores de Estabelecimento Oficiais do Ceará -APEOC, sindicato que representa a nível
estadual essa classe docente.
Percebia-se
nos semblantes e nos discursos de alguns manifestantes (aqueles mais
politizados) de tentar passar a imagem e o teor ideológico de que a paralisação não era (ou ao menos não deveria ser) política-partidária. Mas que a luta era
por uma causa maior que ultrapassa os muros do município. Haja vista ser a
educação a mola propulsora de toda comunidades e que para tanto precisa ser
tratada sem as amarras das picuinhas dos polos partidários desse município
(situação e oposição). Porém, não era o que se verificava nas ações e nos
discursos de outros professores (as) que ainda caminha a passos lentos para a politização que, vez por outra deixava entrever que a luta não era pela causa
coletiva, mas particularizada, direcionada. Onde o polo ao que ora se encontram
fala mais alto.
Outro
ponto a se destacar aqui e que merece, inclusive uma atenção redobrada, é a
atuação do órgão representativo da classe de professores desta localidade, o
Sindicado dos Servidores Municipais de Altaneira- SINSEMA. A diretoria, ao qual
respeito e que admiro (a presidenta foi minha professora) até o ponto em que
suas ações enquanto entidade fere um dos princípios que deve ser um travesseiro
a noite e sua vestimenta diária - a ideologia. Foi pela falta dela ou talvez mau
uso que os afastou desse princípio – o Sindicato deve ser um instrumento
MOBILIZADOR, INSTIGADOR da categoria e nunca simplesmente APOIADOR.
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Grupo de professores ocupam auditório da Câmara no segundo dia de movimentação. |
Ainda
aqui parabenizo o grupo de professores da Escola Estadual Santa Tereza, pela
bravura na defesa dos pontos elencados pela CNTE e APEOC e, claro, na
unanimidade dos docentes em aderir o movimento. Quanto aos do município, a
adesão não foi em massa exatamente por que falta amadurecimento dos
organizadores/líderes e principalmente pela forma polarizada em que se encontra
a localidade. Município dividido em oposição e situação é reflexo da
fragmentação também dos professores. Talvez, se o diálogo entre as partes
fossem levado sem essas amarras, o movimento ganharia outros contornos.
Finalizando
essa análise, deve-se chamar a atenção e atentar para aquelas perguntas acima
(fizeram a análise?). Ante a esse cenário, pergunta-se – Quem estava à frente
do movimento? Com quem estavam? Para quem lutavam? Quem instrumentos usaram?
Quais discursos pregaram? Já haviam se mobilizado antes? São indagações que
permite uma análise mais profunda do caso. E são essas reflexões que nos
distancia de manifestações desse quilate. Entre os líderes da paralisação havia
professores que corria da sala de aula. A sala para eles era uma espécie de “fogueira da inquisição” (se me permitem
tal comparação, sem risco de anacronismos). Hoje a frente da paralisação batem
no peite e diz ter orgulho de ser professora (a). Outros inclusive tiveram
gestões inteiras para fazer valer na educação e nada fizeram. Ao contrário, a
pasta foi um desastre para o (a) docente, o (a) discente e servidores. E
hoje..... Ah, hoje....
Quanto
ao termo “formador de opinião” muito
usado na paralisação, deve-se se afirmar que merece uma ressalva. Em primeiro
lugar fico feliz por ouvir da boca de professores tal afirmativa. Ao passo que
me felicito, entristeço-me por não perceber nas ações em sala de aula e
além-muros da escola opiniões formadas e divulgadas quanto a outras temáticas.
Quem não se lembra de constantes críticas tecidas por este signatário quanto os
trabalhos precários desenvolvidos pelos parlamentares de Altaneira? Quantos
“formadores de opinião” opinou? Ou o que os vereadores fazem ou deixam de fazer
não é de interesse da coletividade? Não merece discussão? Ou devemos cobrar
somente em tempos de eleição? Quem não se lembra de críticas direcionadas a uma
parlamentar por querer infringir a constituição e bater no frágil estado laico?
Quanto formadores de opinião se manifestou? Ah, e quem não se recorda quando
tecemos críticas à escola estadual por também bater no estado laico ao ter em
todos os encerramentos de turmas dos terceiros anos as formaturas dentro de um
templo religioso? E quantos se manifestaram? Algo que ocorre a um palmo do
nariz. Quantos professores (as)? Quantos formadores de opinião? Quantos?
Quantos?.....
Não
devemos particularizar os fatos. Ser formador de opinião é opinar e se
manifestar para além de nossas disciplinas e dos nossas causas específicas. Precisamos
pensar no todo e não apenas algo que nos atinge diretamente. Necessitamos ter
mais vozes discordantes, mais atitudes dissonantes. Mas que elas venham
acompanhadas de coerência. Que essas vozes dissonantes e discordantes não
venham apenas por interesses individualizados, ou por estar em um dos polos de
poder (situação/oposição).
Para
encerrar, fiquemos com o que disse Paulo Freire – “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho
caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar.” E o
que nos afirmou Karl Marx – “Uma ideia
torna-se uma força material quando ganha as massas organizadas”.