O
ano de 1984 marcou a história política e social em todo o mundo. Foi quando o
vírus da Aids começou a se propagar, a Guerra Fria assombrava com a ameaça de
guerra nuclear e um dos momentos em que a recessão econômica atingiu muitos
países, principalmente na América Latina, onde o período ganhou a alcunha de
“década perdida”. No Brasil, vivia-se intensamente a campanha pelas Diretas Já,
que pedia o restabelecimento das eleições diretas para a Presidência da
República.
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Campanha pelas eleições diretas é colocada em xeque graças ao radicalismo de Caio e seus amigos anarquistas. |
É
neste ambiente que se desenrola o primeiro longa-metragem da dupla baiana
Cláudio Marques e Marília Hughes, Depois da Chuva, que teve estreia nacional
nesta quinta-feira (15). O filme acompanha Caio (Pedro Maia), um jovem
anarquista que desperta para a política e para o amor ao mesmo tempo que a
população brasileira vive a euforia do fim da ditadura e vai às ruas para
gritar com a voz que ficou por tanto tempo calada.
O
filme começa com uma reunião de estudantes em um colégio de classe média. Os
alunos debatem a importância de fazerem, pela primeira vez, uma eleição direta
para escolher seus representantes estudantis. Uns ponderam que é preciso
paciência, afinal, a sociedade reconquistava naquele momento a liberdade tirada
pelo regime militar; outros bradam a importância de se tomar o poder de uma
vez, sem meio-termo. Caio demonstra desde as primeiras cenas sua postura
questionadora e incrédula. “Tive uma
ideia: votem nulo. Não me matem de tédio”, diz irritado o garoto, ao deixar
a reunião.
Mesmo
a ensolarada capital baiana ganha tons cinzas e pesados no longa. A campanha
pelas eleições diretas, quase sempre retratada a partir da beleza do povo na
rua, é colocada em xeque graças ao radicalismo de Caio e de seus amigos
anarquistas, responsáveis pela rádio pirata e pelo fanzine Inimigos do Rei.
Desiludido pelo contexto político, o amigo de Caio, Talis (Talis de Castro)
afirma: “Não aguento mais essas pessoas.
Elas fazem acreditar que podem mudar alguma coisa, dão asas para depois cortar.
Essa é a queda mais perigosa”.
A
frase, dita no último encontro entre Caio e Talis, demonstra bem a vibração
negativa e descrente do filme, reforçada pela trilha sonora composta de punk e
hardcore e regada a muita maconha. Mas a obra não é apenas política, é também
um retrato da juventude, cheio de rebeldia, de questionamentos e de
descobertas. Caio desperta politicamente ao mesmo tempo que conhece o amor com
a colega de classe Fernanda (Sophia Corral) e vê nascer as questões e as
dúvidas ligadas à transição para a vida adulta. Este é o trunfo do filme já que
traz a leveza necessária para equilibrar o amargor e o pessimismo político.
O
filme ganhou os prêmios de Melhor Roteiro, Trilha Sonora e Melhor Ator no
Festival de Brasília. A interpretação de Pedro Maia lhe rendeu o título de mais
jovem vencedor deste festival.
Depois da Chuva
Direção: Cláudio Marques e Marília
Hughes
Roteiro: Cláudio Marques
Produção: Coisa de Cinema
Elenco: Pedro Maia, Sophia Corral,
Talis Castro, Aícha Marques, Ricardo Pisani, Victor Corujeira
Distribuição: Espaço Filmes
Ano: 2013
País: Brasil
Gênero:
ficção
Duração:
90 minutos