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(FOTO | Marcelo Camargo |Agência Brasil). |
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(FOTO | Marcelo Camargo |Agência Brasil). |
(FOTO | Divulgação). |
Cena de caminhão com ossos e restos de carne em disputa no Rio de Janeiro é um dos retratos da fome no Brasil (Foto: Domingos Peixoto 28.set.2021/Agência O Globo). |
O
que há para se comemorar no Dia Internacional dos Direitos Humanos em 2021?
Hoje, 10 de dezembro, é a data que remete à oficialização da Declaração
Universal dos Direitos Humanos pela ONU (Organização das Nações Unidas). No
Brasil e no mundo, enfrentamos uma crise sanitária, que é também uma crise de
direitos humanos, sem precedentes.
Aqui,
chegamos a mais da metade da população brasileira com o esquema vacinal
completo. Não dá para comemorar: as desigualdades internas ainda são marcantes
e poucos estados atingiram patamares de vacinação que dão proteção à população.
Mais de 615 mil vidas de brasileiras e brasileiros foram perdidas para a
Covid-19. Os que aqui estamos, somos sobreviventes.
Milhões
de famintos estão na luta por ossos e lixo; o desemprego atinge recordes; há os
que estão doentes nas filas do SUS sem previsão de cuidado; há milhões de
crianças e adolescentes privados da escola ou sem condições adequadas para
retornar ao estudo presencial; a população indígena, as comunidades quilombolas
e as comunidades das águas e das florestas estão sendo atacadas; e ainda falta
coragem e compromisso a alguns políticos em dar nome às desgraças —eles tentam
se esquivar das suas responsabilidades constitucionais de agir em defesa dos
direitos de todas e todos.
Os
direitos humanos foram negligenciados no Brasil desde o início da pandemia da Covid-19.
E essa triste situação de 2020 permanece —inerte e nefasta— nessa retrospectiva
que fazemos de 2021. A Anistia Internacional Brasil denuncia a má gestão da
pandemia e as negligências do Estado em relação à garantia de direitos, à
redução das desigualdades sociais e à formulação e implementação de políticas
públicas efetivas para atender a população, especialmente os grupos sociais sistematicamente
vulnerabilizados.
Esta
população teve os seus direitos violados em diversas áreas, inevitavelmente conectadas
entre si —emprego e renda, educação, acesso a medicamentos e equipamentos de
saúde, alimentação, moradia, segurança, entre muitas outras. O Estado continua
falhando em seu dever constitucional de zelar pelos direitos econômicos,
sociais e culturais e solucionar ou mitigar os efeitos de suas violações, que
impactam sobremaneira uma parcela expressiva da população, historicamente
marginalizada e discriminada.
Estamos
falando de desigualdades que, arraigadas no racismo e em outras iniquidades
estruturais, tiveram influência sobre as mortes por Covid-19 e sobre todo tipo
de sofrimento que atravessa a vida das pessoas no Brasil atual. Por exemplo,
falamos das mulheres negras, que já representavam a maior parcela da população
pobre do país antes da crise sanitária, e que, durante a pandemia, foram as
mais impactadas —38% delas passaram a viver em situação de pobreza.
Não
podemos esquecer do desemprego, da evasão escolar, das condições inadequadas de
moradia, da violência policial, e de outras mazelas que afetam
desproporcionalmente população negra, moradores e moradoras de favelas e
periferias, pessoas em privação de liberdade, incluindo jovens do sistema
socioeducativo, pessoas em situação de rua, pessoas com condições inadequadas
de moradia, mulheres cis e trans, quilombolas, povos indígenas e outras
populações tradicionais, trabalhadores e trabalhadoras autônomas, população
LGBTQIA+, crianças, adolescentes e idosos.
É
por essas pessoas, que precisam viver com dignidade e ter de volta seus
direitos, que a Anistia Internacional Brasil lança, hoje, o relatório “Covid-19
e direitos humanos no Brasil: caminhos e desafios para uma recuperação justa”.
O estudo reúne múltiplos dados alarmantes referentes à violação de direitos humanos
no contexto da pandemia.
São
informações relacionadas aos direitos ao trabalho, à educação, à moradia, à
saúde, à alimentação, à segurança, ao território e a outros temas. Elas foram
coletadas de organismos públicos —como o Ministério da Saúde, a Fiocruz, a
Secretaria Especial de Saúde Indígena, o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) e o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada)—
e de monitoramentos feito por coalizões e organizações de sociedade civil —como
o grupo do Alerta, a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e a Conaq
(Coordenação de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas). O
estudo traz, também, conteúdos produzidos por universidades e instituições de
desenvolvimento científico e tecnológico. Além, claro, das informações do consórcio
dos veículos de imprensa.
Nós,
da Anistia Internacional Brasil, apresentamos um conjunto de recomendações para
uma recuperação justa, que só será possível quando as medidas para a superação
desta crise de saúde pública e seus impactos sobre a população, especialmente
sobre os grupos mais vulnerabilizados, privilegiem o cumprimento dos direitos
humanos de todas e todos. O Brasil, como Estado-parte de diversos tratados
internacionais de direitos humanos, possui obrigações imediatas relacionadas à
pandemia e a temas a ela relacionados ou por ela agravados.
São
incontáveis os direitos que foram desrespeitados até aqui. Chegamos ao fim de
2021 devastados e devastadas, mas com a força que precisamos ter para
identificar os desafios que persistem no nosso horizonte. Com a campanha
Omissão Não é Política Pública, ao longo de 2021, a Anistia Internacional
Brasil e outras 19 organizações da sociedade civil exigiram responsabilização
pelas mortes evitáveis —e ainda aguardamos que as denúncias apresentadas no
relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 sejam apuradas pelo
Ministério Público Federal. Mas precisamos ir além.
É
urgente interromper e reparar as incontáveis violações de direitos humanos
causadas por ação e inação do Estado brasileiro. O tempo está passando e é
urgente que as autoridades entrem em ação e cumpram suas responsabilidades e
deveres. Precisamos de justiça e de uma recuperação justa: abrangente, efetiva
e urgente.
____________
Por Jurema Werneck, na Folha de S. Paulo e reproduzido no Geledés.
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(FOTO/ Reprodução). |
O
lançamento, ontem (6) à noite, do livro Direitos Humanos no Brasil 2021
(editora Outras Expressões), relatório da Rede Social de Justiça e Direitos
Humanos, aponta retrocessos e resistências. “Para reagir aos impactos da
política governamental genocida – que terão consequências de longo prazo para
toda a sociedade –, movimentos e organizações sociais buscam construir
condições para a superação e a transformação”, diz o texto de apresentação,
entre 32 artigos, de 46 autores, publicados na obra.
Em
254 páginas, o livro trata de crise ambiental, exploração de mão de obra em
suas várias formas, criminalização de movimentos sociais, moradia, saneamento,
militares, trabalho, desigualdade, gênero, cultura, racismo e pandemia. No ano
em que “a sociedade civil brasileira viu nossa frágil democracia ser atacada e
ferida”, como diz o monge beneditino, teólogo e escritor Marcelo Barros, que
assina o prefácio. E aponta o que chamou de “tarefa urgente da reorganização da
esperança e da utopia”.
Contra a fome
No
artigo da advogada Andréia Aparecida Silvério dos Santos, da Comissão Pastoral
da Terra, por exemplo, se expõe essa resistência. “Em contrapartida ao recorde
nos números de conflitos registrados em 2020, também a CPT registrou o maior
número de manifestações de luta (1.348), incluindo ações de solidariedade,
especialmente doações de alimentos realizadas pelos movimentos sociais do campo
e entidades populares”, escreve. “Essas ações foram fundamentais para aliviar a
fome de milhares de famílias do campo e da cidade, agravada pela pandemia. Em
2021, as manifestações continuam.”
Em
outro texto, o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Jr., e a supervisora
de produção técnica, Patrícia Costa, analisam o “pífio” desempenho do mercado
trabalhista, somado aos contínuos ataques a direitos. “Em momentos de crise
como a vivida pelo país, direitos trabalhistas e sociais podem servir de apoio
a toda a sociedade, minimizando impactos econômicos e ajudando na recuperação.
Infelizmente, o governo atual faz outra aposta e investe no caos”, afirmam.
Polícia em vez de projetos
Transmitido pela TVT, o evento virtual incluiu, além do lançamento da 21ª edição do livro, a entrega do prêmio João Canuto (líder rural assassinado em 1985). O primeiro a recebê-lo foi o Instituto Paulo Freire. A premiação é do Movimento Humanos Direitos (MHuD, presidido pela atriz Dira Paes.
Assim,
também foi feita homenagem ao educador, que completaria 100 anos em setembro.
“As violações evidenciam um cenário que é histórico, mas que se acentuou nos
últimos anos”, diz o historiador e programador cultural Eleilson Leite, da Rede
Social, que escreve no livro. Ele observa, no entanto, que o relatório não traz
apenas mazelas. E conjuga o verbo “esperançar”, cunhado por Paulo Freire.
O
líder comunitário Rumba Gabriel, do complexo do Jacarezinho (“Quilombo urbano”,
como ele define), na zona norte do Rio de Janeiro, ofereceu a premiação todas
as favelas cariocas. Ele lembra que o Estado, ao longo dos anos, levou a
polícia às comunidades em vez de projetos. “Mas a gente não desiste. Também
temos momentos felizes”, afirmou Rumba, que é compositor da Mangueira.
Profissionais da saúde
O
João Canuto foi dado também ao Levante Indígena pela Terra, ao líder Daniel
Kuikuro, ao MST (Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente), à Rede de
Comunidades Tradicionais Pantaneiras e à pneumologista Margareth Dalcolmo, da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ela agradeceu em nome de todos os
profissionais da saúde: “Como médica, pesquisadora, engajada no sentido de
promover conhecimento, interpretar a informação científica, certamente nós
chegamos mais perto de todos vocês”.
Pela
Rede, Cláudia Pinho recebeu o prêmio. “Momentos como este nos fazem refletir
sobre a invisibilidade das comunidades, mas também sobre outras formas de
buscar ajuda”, afirmou.
Homenagem a Sérgio Mamberti
Outro
homenageado foi o indiano Kailash Satyarthi, Prêmio Nobel da Paz, por sua
atuação contra o trabalho infantil, “negação de todos os direitos humanos”,
como definiu. “Vocês podem sempre me considerar um irmão, um amigo”, disse o
ativista.
Quase
no final, um momento de emoção foi a homenagem ao ator e ativista cultural
Sérgio Mamberti, que morreu em setembro. Seu filho Carlos e o chargista Renato
Aroeira se manifestaram. “O esperançar é o tema que vai nos ajudar a pensar em
outras possibilidades, na construção de um país mais justo e igualitário”,
disse no encerramento Maria Luisa Mendonça, diretora da Rede Social. “Em 2022,
estaremos firmes e fortes em nome dos direitos humanos”, completou Dira Paes.
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Com informações da RBA.
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“Passar fome no Brasil é uma grande mentira”, disse Bolsonaro. (FOTO/Reprodução/Hypeness). |
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(Foto: Reprodução/CartaCapital). |
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(Foto: Reprodução/RBA). |
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Índios tentam impedir atos da Comissão Especial da Câmara dos Deputados sobre a PEC 215/2000. |
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O Arcebispo e Nobel da Paz Desmond Tutu. Foto: Divulgação |
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De acordo com o CIMI somente entre 2003 e 2011 foram assassinados 503 índios, dos quais 273 são do povo Guarani Kaiowá. Foto: EBC |