4 de dezembro de 2025

Alunos de escola cívico-militar cantam música do Bope que incentiva violência em favelas

 

(FOTO | SEED).

Um vídeo gravado no Colégio Estadual Cívico-Militar João Turin, em Curitiba, gerou indignação após mostrar alunos marchando e cantando músicas do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) que fazem apologia à violência, especialmente em favelas. O registro foi divulgado pelo APP-Sindicato no último sábado (29), e mostra crianças entoando versos como “entrar na favela e deixar o corpo no chão” e “o Bope tem guerreiros que matam fogueteiros”, que reforçam estereótipos criminosos associados a territórios periféricos e, historicamente, à população negra.

O secretário estadual de Educação, Roni Miranda, classificou o episódio como inaceitável e afirmou que o colégio passará por acompanhamento psicológico e pedagógico para enfrentamento da violência e da discriminação. Segundo ele, a pasta investiga se o vídeo é recente ou se se trata de um caso semelhante ocorrido em 2023, quando um registro de outro ângulo já havia circulado.

De acordo com a gestão escolar, os alunos teriam iniciado o canto a pedido de uma estudante, mas a atividade foi interrompida assim que o monitor militar percebeu o teor da canção. No vídeo divulgado, porém, o monitor aparece supervisionando a marcha sem que a interrupção seja visível.

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) instaurou uma Notícia de Fato para apurar o caso. A repercussão reacende o debate sobre o modelo cívico-militar, adotado em 345 escolas do estado, em que a gestão é dividida entre um diretor civil, responsável pela parte pedagógica, e um diretor militar da reserva, que cuida da disciplina, com apoio de policiais e bombeiros também da reserva.

Movimentos sociais e entidades da educação alertam que a militarização escolar tende a reforçar práticas de controle e hierarquia que afetam de forma desigual estudantes negros e periféricos. Em um país onde a letalidade policial recai majoritariamente sobre jovens negros, a reprodução de cantos militares que naturalizam a violência em favelas é vista como um risco pedagógico e social.

O programa das escolas cívico-militares no Paraná é alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF), que questiona a falta de participação da comunidade escolar na escolha dos diretores e possíveis violações à autonomia pedagógica. O ministro relator Dias Toffoli já encaminhou o caso ao plenário, mas ainda não há data para julgamento.

Enquanto isso, o vídeo expõe a urgência de discutir quais modelos educacionais reforçam direitos e quais podem aprofundar desigualdades históricas dentro da escola pública.

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Por Joana Angélica, no Notícia Preta.

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