7 de dezembro de 2025

Avanço da direita entre jovens vem da precarização, da internet e do distanciamento histórico, indica cientista social

 

Deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em ato bolsonarista. (FOTO | Reprodução/Instagram stories Nikolas Ferreira).

Um novo estudo do AtlasIntel em parceria com a Bloomberg revelou que a direita aparece ligeiramente à frente da esquerda quando se olha o conjunto da população brasileira: 42% contra 40%. Mas a vantagem conservadora cresce justamente entre os mais jovens, chegando a uma diferença de até 27 pontos percentuais entre gerações.

De acordo com a pesquisa, 25% dos baby boomers, de 61 a 79 anos, se declaram de direita ou centro-direita. O índice sobe para 34% na geração X, de 45 a 60 anos, e dá um salto entre os millennials, de 29 a 44 anos, chegando a 51%. Na geração Z, de 16 a 28 anos, a proporção permanece alta, alcançando 52%. Ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o cientista social João Feres identificou três elementos principais para explicar o fenômeno.

O primeiro é o distanciamento histórico. “As pessoas da geração X e dos baby boomers viveram durante a ditadura militar e a transição, conhecem os dois regimes muito de perto”, disse. Já os jovens “não conhecem nada, conhecem só de ouvir falar”, o que gera percepções distintas sobre a democracia, o autoritarismo e riscos políticos.

O segundo ponto é o ambiente informacional. “A informação sobre política geralmente é mediada, e isso mudou muito”, afirmou. Enquanto gerações mais velhas se formaram sob o domínio da grande imprensa, jovens cresceram na internet e nas redes sociais, onde há uma “pluralidade maior” e mais espaço para discursos de extrema direita. “As outras gerações têm hábitos de consumo de mídia muito diferentes”, indicou.

O terceiro fator é a precarização do trabalho. “Essas gerações mais novas estão submetidas a condições de trabalho muito mais precarizadas, sobrou só a uberização”, afirmou, reconhecendo o exagero para efeito didático. Segundo Feres, essa realidade alimenta frustração e ceticismo. “Faz com que as pessoas tenham muito mais insegurança, achando que o governo não resolve porque, de fato, o governo não consegue resolver problemas dessa monta”, observou.

Apesar das teses, Feres destacou que é preciso ter cautela ao interpretar os dados. Como afirmou, “geralmente as perguntas sobre identificação de direita e esquerda mostram que as pessoas têm uma compreensão um pouco falha do que significa isso”. Ele ressaltou também que pesquisas dessa natureza costumam observar apenas uma variável por vez, sem controlar fatores como renda ou escolaridade. “Essas pesquisas só pegam a variável, embutindo o tal efeito de outras variáveis que não estamos vendo”, explicou.

Questionado se o individualismo crescente também influenciaria escolhas políticas conservadoras, o cientista social ponderou tratar-se de um fenômeno difícil de medir. Ainda assim, afirmou que “a doutrina neoliberal é ultra individualista” e que esse tipo de visão “está presente na cultura”. Ele destacou ainda o papel das religiões pentecostais, que reforçam a lógica da relação direta entre indivíduo e Deus e carregam camadas de empreendedorismo e valores individualizantes. “Isso acaba inculcando nas pessoas esse sentimento”, disse.

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Por Adele Aobichez e Aline Macedo e Bara Nacerda no BdF.

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