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| Deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em ato bolsonarista. (FOTO | Reprodução/Instagram stories Nikolas Ferreira). |
Um novo estudo do AtlasIntel em parceria com a Bloomberg revelou que a direita aparece ligeiramente à frente da esquerda quando se olha o conjunto da população brasileira: 42% contra 40%. Mas a vantagem conservadora cresce justamente entre os mais jovens, chegando a uma diferença de até 27 pontos percentuais entre gerações.
De
acordo com a pesquisa, 25% dos baby boomers, de 61 a 79 anos, se declaram de
direita ou centro-direita. O índice sobe para 34% na geração X, de 45 a 60
anos, e dá um salto entre os millennials, de 29 a 44 anos, chegando a 51%. Na
geração Z, de 16 a 28 anos, a proporção permanece alta, alcançando 52%. Ao
Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o cientista social João Feres identificou
três elementos principais para explicar o fenômeno.
O
primeiro é o distanciamento histórico. “As
pessoas da geração X e dos baby boomers viveram durante a ditadura militar e a
transição, conhecem os dois regimes muito de perto”, disse. Já os jovens “não conhecem nada, conhecem só de ouvir
falar”, o que gera percepções distintas sobre a democracia, o autoritarismo
e riscos políticos.
O
segundo ponto é o ambiente informacional. “A
informação sobre política geralmente é mediada, e isso mudou muito”,
afirmou. Enquanto gerações mais velhas se formaram sob o domínio da grande
imprensa, jovens cresceram na internet e nas redes sociais, onde há uma “pluralidade maior” e mais espaço para
discursos de extrema direita. “As outras
gerações têm hábitos de consumo de mídia muito diferentes”, indicou.
O
terceiro fator é a precarização do trabalho. “Essas gerações mais novas estão submetidas a condições de trabalho
muito mais precarizadas, sobrou só a uberização”, afirmou, reconhecendo o
exagero para efeito didático. Segundo Feres, essa realidade alimenta frustração
e ceticismo. “Faz com que as pessoas
tenham muito mais insegurança, achando que o governo não resolve porque, de
fato, o governo não consegue resolver problemas dessa monta”, observou.
Apesar
das teses, Feres destacou que é preciso ter cautela ao interpretar os dados.
Como afirmou, “geralmente as perguntas
sobre identificação de direita e esquerda mostram que as pessoas têm uma
compreensão um pouco falha do que significa isso”. Ele ressaltou também que
pesquisas dessa natureza costumam observar apenas uma variável por vez, sem
controlar fatores como renda ou escolaridade. “Essas pesquisas só pegam a variável, embutindo o tal efeito de outras
variáveis que não estamos vendo”, explicou.
Questionado
se o individualismo crescente também influenciaria escolhas políticas
conservadoras, o cientista social ponderou tratar-se de um fenômeno difícil de
medir. Ainda assim, afirmou que “a
doutrina neoliberal é ultra individualista” e que esse tipo de visão “está presente na cultura”. Ele destacou
ainda o papel das religiões pentecostais, que reforçam a lógica da relação
direta entre indivíduo e Deus e carregam camadas de empreendedorismo e valores
individualizantes. “Isso acaba inculcando
nas pessoas esse sentimento”, disse.
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Por Adele Aobichez e Aline Macedo e Bara Nacerda no BdF.

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