Michelle Obama, ex-primeira-dama dos Estados Unidos. (FOTO | Reprodução).
Apenas
Michelle Obama, esposa do ex-presidente democrata Barack Obama, venceria de
Donald Trump em um confronto hipotético nas eleições presidenciais de 2024, por
50% a 39%, segundo uma pesquisa Reuters/Ipsos.
Thiago Amparo é advogado. (FOTO | Reprodução | Twitter).
Escolha
não é identitarismo, é ocupar o poder para reparação histórica.
Pessoas
negras têm nome e sobrenome e trajetórias construídas coletivamente, por vezes
longe dos tapinhas nas costas em Brasília ou das rodas de vinho em Portugal. É
hora de pararmos de demandar em abstrato que Lula nomeie uma jurista —e,
sobretudo, negra— ao STF; devemos dizer seus nomes. Escolher uma mulher negra
progressista não é identitarismo. É política em sentido puro; é ocupar o poder
para reparação histórica.
Listo
aqui nove juristas, sem prejuízo de outras. Começo com três nomes de juízas
negras, que já destoam da regra: estima-se que mulheres negras ocupem apenas 7%
do Judiciário e tão somente 2% na segunda instância.
Minha
favorita, Adriana Cruz é juíza titular no Rio de Janeiro, doutora em direito
penal pela Uerj e professora na PUC-Rio —deverá ser secretária-geral do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Outras duas juízas negras despontam como
excelentes nomes: Karen Luise Souza, do TJ-RS, que ocupa o Comitê Executivo do
Observatório de Direitos Humanos do Poder Judiciário no CNJ e auxilia Rosa
Weber; e Flávia Martins de Carvalho, do TJ-SP, diretora de Promoção da
Igualdade Racial da Associação de Magistrados do Brasil.
Tirar
o foco do eixo sudestino também é fundamental. Outra favorita, Lívia Sant’Anna
Vaz é promotora de Justiça no Ministério Público da Bahia, doutora em ciências
jurídico-políticas em Lisboa e foi nomeada uma das 100 pessoas de descendência
africana mais influentes do mundo. Já Vera Lúcia Araújo é advogada baiana com
longa e respeitada trajetória, chegando a ter integrado a lista tríplice do TSE
em 2022. Dentro da academia e advocacia pretas, não posso deixar de citar Thula
Pires, Silvia Souza e Alessandra Benedito.
Já
Joenia Wapichana se destaca como a primeira advogada indígena a fazer
sustentação oral no Supremo, e sua nomeação seria uma reparação aos anos de
morticínio.
O
STF somente será equânime quando tivermos 11 mulheres na corte e ninguém achar
isso estranho: não achavam quando eram apenas homens por 110 anos até os anos
2000.
_______
Texto de Thiago Amparo, originalmente na
Folha de São Paulo e replicado no Geledés.
A escritora e ativista bell hooks (Foto: Divulgação)
Na última semana o mundo perdeu uma personalidade importante no movimento feminista atual. Gloria Jean Watkins, conhecida mundialmente pelo pseudônimo bell hooks, foi uma a autora, professora, teórica feminista e artivista americana. Ela faleceu aos 69 anos no dia 15 de dezembro deste ano, em decorrência de doença renal crônica.
Ao longo de sua vida, hooks publicou mais de trinta livros e inúmeros artigos acadêmicos sobre temas como interseccionalidade de raça, capitalismo e gênero eram assuntos bastante frequentes. Seu trabalho contribuiu para o movimento feminista como conhecemos hoje e também para desmistificar a vivência da mulher negra na sociedade.
Watkins assumiu o pseudônimo bell hooks no início da carreira como autora em homenagem à avó materna, Bell Blair Hooks. Desde lá, queria que a grafia do nome fosse em letras minúsculas para que seu conteúdo fosse o ponto de atenção, e não sua personalidade. Assim, bell hooks construiu um legado que ultrapassa as barreiras da literatura e vai perdurar enquanto suas leitoras existirem.
Não conhece o trabalho de bell hooks? Confira agora 4 livros da autora!
O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras
Falando de política, beleza, luta de classes, direitos reprodutivos e violência, para que a sociedade seja mais justa, hooks defende que o feminismo é para todo mundo. Homens, mulheres, crianças, pessoas de todos os gêneros e de todas as idades. Disponível na Amazon por R$ 34,35.
Tudo sobre o amor: novas perspectivas
Falar de amor pode ser revolucionário. Nesta obra, bell hooks busca entender o que é o amor em todas as suas esferas e apresenta os desafios de colocá-lo na centralidade da vida, a partir de uma ótica patriarcal e racista. Encontre na Amazon por R$ 53,68.
Teoria Feminista: da Margem ao Centro
Nesta obra, hooks defende uma revolução feminista que transcenda reformas, com enfrentamento das ideologias do sexismo, do racismo e do capitalismo, entre outras. A proposta é envolver todas as esferas da sociedade e promover uma revolução feminista através de mulheres negras. Segundo a autora, só assim haverá a libertação de todx. Disponível na Amazon por R$ 37,31.
E eu não sou mulher? Mulheres Negras e Feminismo
Discutindo racismo, sexismo, intersecção entre raças e o impacto desses comportamentos na vida de mulheres negras, hooks discorre sobre a perpetuação de práticas excludentes de opressão e dominação desde a escravidão até os dias atuais. Disponível na Amazon por R$ 31,90.
Sueli Carneiro, 71 anos (FOTO/ Andre Seiti/Divulgação).
Apesar
de não ser muito afeita a entrevistas, as palavras são a principal ferramenta
de trabalho de Sueli Carneiro. Há mais de três décadas, a filósofa e ativista
escreve incansavelmente e, por meio de suas palavras, contundentes como espada
afiada, luta pela construção de um país antirracista, mais justo, igual e
solidário. Aos 71 anos, completados em junho de 2021, ela é uma das
intelectuais negras mais atuantes no país e um dos nomes que abriram os
caminhos do feminismo negro brasileiro.
Da
menina nascida no bairro da Lapa, zona oeste da capital paulista, à doutora em
educação pela Universidade de São Paulo (USP), sua trajetória foi recentemente
recontada na biografia “Continuo preta” (Ed. Companhia das Letras), escrita
pela jornalista Bianca Santana, e agora é celebrada na Ocupação Sueli Carneiro,
inaugurada no sábado (28), no Itaú Cultural, em São Paulo. A exposição segue em
cartaz até 31 de outubro.
—
A Sueli faz parte de uma geração que ajudou a construir o movimento de mulheres
negras e o movimento negro como um todo. Então, contar a história dela é contar
uma historia coletiva e poder celebrá-la em vida é algo muito bom — afirma
Santana, que também é cocuradora da exposição.
A
geração a qual a biógrafa se refere é aquela que, em 1978, fundou o Movimento
Negro Unificado (MNU), visando “defender a comunidade afro-brasileira contra a
secular exploração racial e humana”. Inserida neste contexto, Sueli foi uma das
primeiras a argumentar que era preciso incluir no debate os recortes de gênero,
raça e classe.
Em
1985, ela lançou seu primeiro livro, “Mulher negra: política governamental e a
mulher”, escrito com Thereza Santos e Albertina de Oliveira Costa, seguido de
“Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil”. Mais tarde, em 1988, fundou o Instituto
da Mulher Negra, o Geledés, onde passou a colocar em prática sua visão como
socióloga e militante.
Com
mais de 140 itens, entre fotografias, documentos, vídeos, artigos e livros, a
Ocupação Sueli Carneiro celebra a construção da obra e da militância da
ativista, sua ancestralidade, suas memórias pessoais, a paixão pelo futebol, a
força e a simbologia de sua religiosidade e sua jornada de formuladora de debates
fundamentais sobre o país.
Nesta
rara entrevista, ela reflete sobre como é ver sua história contada em livro e
exposição e o que mais a emociona ao olhar para trás. Sueli também fala sobre a
atuação da Fundação Cultural Palmares sob o governo Bolsonaro: “Não importa o
tempo que será necessário, faremos Palmares de novo”.
_____________
Com
informações do Geledés. Clique aqui e confira a íntegra da entrevista.
Bruna Brelaz é
amazonense, estudante de Direito e primeira mulher negra a ser eleita
presidente da UNE/Imagem: Divulgação/UNE
Pela
primeira vez em 84 anos de história, a UNE (União Nacional dos Estudantes)
elegeu uma mulher negra para ser presidente: Bruna Chaves Brelaz, 26 anos.
Natural do Amazonas, a estudante de Direito — sua segunda graduação — é também
a primeira representante da Região Norte do Brasil a comandar a entidade.
"Devido à pandemia e a impossibilidade de
realizar um evento que chega a reunir 10 mil estudantes, a UNE indicou a nova
diretoria respeitando a proporcionalidade eleita na votação do seu 57º Conune,
realizado em 2019. A nova composição terá duração de um ano, podendo ser
estendida", diz a UNE, em comunicado divulgado em seu site.
O
primeiro contato de Bruna com a UNE aconteceu em 2013, por meio de sua amiga
Gabriela Cativo, à época uma das coordenadoras da Bienal dos Estudantes, em
Recife e Olinda. "Tinha 18 anos,
entrando para aquele mundo novo de política, de mobilização, e ter uma mulher
das minhas origens já num cargo de coordenação foi uma grande referência",
lembra.
Gabriela
foi uma das vítimas da covid-19 em meio à crise do oxigênio em Manaus, em
janeiro.
Como
integrante da UNE, Bruna ajudou a construir, em março, a principal campanha dos
estudantes brasileiros na pandemia da covid-19, o movimento "Vida, Pão, Vacina e Educação", que
viralizou nas redes sociais como síntese das atuais demandas da população jovem
do país.
Recentemente,
a nova presidente da UNE também atuou, ao lado dos principais movimentos
sociais brasileiros, na retomada das grandes manifestações populares de rua,
mais especificamente na coordenação dos protestos de 29 de maio, 19 de junho e
3 de julho que pedem o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Além
da saída de Bolsonaro, Bruna também se preocupa com a herança deixada pela
crise atual para os próximos anos, principalmente na área da educação. Ela, que
teve acesso à universidade como cotista — dentro das políticas públicas de
inclusão que promoveram mudanças no ensino superior na última década — acredita
que esse legado está sob risco.
"Gritamos 'fora, Bolsonaro' sobretudo para
interromper o processo violento de destruição das universidades, das escolas,
do sistema educacional no país. A gente precisa reverter o corte de quase R$ 2
bilhões no orçamento da educação, a política desumana do teto de gastos, os ataques
à autonomia universitária. Tem estudante que está passando fome, desempregado e
a evasão do ensino superior é uma grande realidade", diz.
"Na época do 'fora, [Fernando] Collor', o
movimento pelo impeachment teve a participação mais focada nos alunos de
escolas particulares, da classe média. Hoje a cor e a origem dos jovens que
estão nas ruas mudaram muito." Bruna Brelaz, nova presidente da UNE
"Orgulho"
Nas
redes socias, Bruna comemorou a eleição e disse estar "orgulhosa" de
assumir a presidência da UNE.
"Trago a força de ser mulher negra e
amazonense, pronta para lutar junto aos milhões de estudantes brasileiros por
um país digno e potente. Orgulho de fazer parte de uma entidade tão combativa.
Seguimos!", escreveu a estudante.
25 de julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha / Foto: Divulgação/EBC.
Mesmo
pertencendo a maior parcela da população, uma vez que vivemos em um país no
qual temos uma maioria de negros e mulheres, as mulheres negras permanecem
sendo as mais exploradas e negligenciadas socialmente. Realidade que pode ser
constatada nos dados que tratam do mercado de trabalho, no mapa da violência ou
na representatividade política. A frente e por trás disso, o racismo e
preconceito, cada vez mais arraigados. O dia 25 de julho, Dia Internacional da
Mulher Afro-Latina, Americana e Caribenha e também Dia Nacional de Tereza de
Benguela e da Mulher Negra, é uma boa oportunidade para a reflexão sobre essa
situação.
No jogo com elementos de exploração e sobrevivência, a personagem Cícera auxilia os sertanejos a superarem a seca. (Foto: Reprodução/ AOCA).
"Qual
o botão que atira?", essa é a pergunta mais frequente dos jogadores que
buscam novas experiências por meio de jogos eletrônicos. Na contramão do padrão
dessa indústria, o game baiano Árida surge com o objetivo de divertir, mas ao
mesmo tempo educar, desconstruir estereótipos e ser uma plataforma de
reconhecimento identitário.
Inserido
no contexto do sertão nordestino durante o século 19, o jogo é uma aventura com
elementos de exploração e sobrevivência. Ele traz a história da jovem Cícera,
que auxilia os sertanejos a superar a seca. O protagonismo da mulher negra e
nordestina é considerado uma "ocupação"
dentro do universo do jogo.
De
acordo com Filipe Pereira, game designer e diretor geral da Aoca – produtora
responsável pelo jogo –, é difícil sair do clichê dos jogos desenvolvidos no
Brasil e no mundo. "Todos os
componentes que estão no nosso jogo colocam a gente num percentual bastante
diminuído pela indústria, não só pelo local do sertão, mas também pelo viés
mais social. Sem falar do protagonismo de uma personagem mulher, negra e
nordestina, o que não vemos nos outros jogos", afirma à RBA.
Inicialmente,
o jogo seria ambientado na região de Canudos, interior da Bahia, durante o
confronto entre o Exército e os integrantes do histórico movimento popular
liderado por Antônio Conselheiro, no fim do século 19. Entretanto, após iniciarem
as pesquisas, os desenvolvedores decidiram agregar questões simbólicas de
outras regiões do sertão baiano. Para isso, o grupo recebeu a colaboração de
historiadores e especialistas na Universidade do Estado da Bahia (Uneb).
"A gente fez a pesquisa em campo após seis
meses de projeto, em Canudos e região, o que foi muito bom. Nós validamos
caminhos que já tínhamos traçado. Uma coisa curiosa é que lá encontramos
personagens como retratávamos já no game. É algo que vai de encontro com vários
paradigmas que a gente tem na nossa história, como não conseguir se organizar
socialmente, com um viés de resistência e utopia. Canudos, guardados as devidas
proporções, é o socialismo na prática", explica Filipe.
Identidade visual
As
visitas ao sertão e o próprio desenvolvimento do projeto permitiram a ampliação
de repertório da linguagem visual. Contrastes entre as texturas, a contemplação
do horizonte como um elemento de reforço à imensidão do ambiente foram
características estratégica adotadas, com o objetivo de oferecer alternância e
antecipação à experiência de jogo.
Victor
Cardozo, diretor de arte do projeto, explica que há um cuidado especial para o
público que não conhece o nordeste, mas que possui uma imagem estereotipada.
"A gente contempla o horizonte porque
lá é um ambiente muito único. Desde o solo até a flora local, então queríamos
passar outra visão, mostrando que há um ambiente duro, mas também bonito."
A
franquia será dividida em quatro episódios. A data de lançamento do primeiro
episódio do game está prevista para o primeiro trimestre de 2019, com o
computador como plataforma inicial. Victor explica que haverá um amadurecimento
e uma dramatização do ambiente, na qual a arte será transformada ao decorrer da
história. "As mecânicas vão evoluir também. Hoje, tem diversos aspectos
universais e uma paleta de cores diversa; já no capitulo dois vamos explorar
mais os detalhes, terá mais textura. O capitulo três será menos saturado, com
mais aspectos de dramas e cores mais frias", conta.
Em
2017, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) selecionou o jogo em seu edital de
games. De acordo com o programa, é previsto que Árida receba R$ 250 mil para
investir no projeto. O valor deverá ser usado para a elaboração do terceiro e
quarto episódio.
"A gente foi o único da Bahia a ganhar. Ao
mesmo tempo que estamos orgulhosos, estamos tristes por saber que há outros
talentos que poderiam ser contemplados. O fato da Ancine elogiar nosso projeto
é um alento, ao mesmo tempo que produzimos socialmente algo forte, também é interessante
para o mercado", comemora Victor.
O
universo do jogo mistura o cartoon com o realismo. A arte nordestina também faz
bastante parte da ambientação do jogo, com a música e o cordel, sendo
utilizados para a história. "Dentro
da pesquisa nas artes conceituais, pegamos um novo olhar e trouxemos o grafite
para dentro do jogo e chamamos o Bigode (Josivaldo Santos Silva), de Salvador,
que atua há 20 anos aqui", acrescenta Cardozo.
Reconhecimento identitário
Com
o mercado gamer escorado no eixo Rio-São Paulo, os desenvolvedores acreditam
que Árida, carregando a identidade nordestina, pode mudar esse cenário. Ao
participar de diversos eventos do gênero pelo país, eles enfrentam a xenofobia
e o rótulo de "jogo nordestino".
"Porém, ao estarmos nesses ambientes, é uma
intervenção não só para consumidores, mas para os desenvolvedores também.
Muitas pessoas de São Paulo, por exemplo, são filhos de nordestinos, então tem
uma identificação com essa raiz. É uma forma de reconhecimento identitário que
as pessoas terão", conta Filipe.
A
experiência do jogo pode rever os olhares que tinham para o nordeste, acredita
Victor. "Nós vamos levar a
informação e cultura para o público, mas de uma forma divertida. Ensinar o que
é cacimba ou um caçuá são coisas que fazem parte do Brasil que muitas pessoas
não têm contato", explica o diretor de arte.
A
ideia é levar a franquia para o mundo dos quadrinhos. Apesar da equipe que
conta com sete pessoas, hoje, eles buscam ampliar os colaboradores para tornar
o projeto ainda maior, conta o diretor geral. "O jogo tem um universo que permite expandir a narrativa em outras
plataformas e até com maior qualidade." (Com informações da RBA).
Negra,
pobre e favelada. Dona de uma das escritas mais contundentes da literatura
brasileira, Carolina Maria de Jesus reunia características que até hoje fazem
milhões de mulheres serem discriminadas. Agora ela é homenageada nas páginas de
“Carolina”, biografia em quadrinhos lançada pela editora Veneta.
Carolina
foi um dos grandes fenômenos literários do Brasil nos anos 1960. Foi descoberta
pelo jornalista Audálio Dantas, que a ajudou a publicar seu livro de estreia
“Quarto de Despejo”. ficou no topo da lista de mais vendidos e foi publicado em
mais de 13 países.
A
HQ é fruto de uma parceria entre Sirlene Barbosa, doutoranda em educação pela
PUC-SP e professora de língua portuguesa e o artista visual João Pinheiro,
autor de “Kerouac,” e “Burroughs”.
Mãe
de três filhos, Carolina Maria de Jesus narrou em seu livro o cotidiano na
favela do Canindé, na zona norte de São Paulo. A HQ retrata sua infância pobre
em Minas Gerais, sua vida sofrida, a fama alcançada com a publicação do livro e
as ilusões, decepções e o esquecimento que vieram depois.
A
escritora também é tema de “Carolina Maria De Jesus – Uma Escritora Improvavel”
de Joel Rufino dos Santos. No título da editora Garamond, Rufino conta a vida
de Carolina entrelaçando-a com a história do Brasil com reflexões sobre classe,
sociedade e escrita.
CAROLINA
AUTORES
Sirlene Barbosa e João Pinheiro
EDITORA
Veneta
QUANTO
R$ 33,90 (preço promocional*)
*
Atenção: Preço válido por tempo limitado ou enquanto durarem os estoques.
Acontece
de 15 e 19 de julho a Conferência anual da IAMCR – International Association
for Media and Comunication Research, na cidade de Hyderabad, na Índia. As
conferências da IAMCR são um dos principais eventos da pesquisa em comunicação
no mundo. O órgão internacional tem como objetivo incentivar pesquisas na área
de comunicação e vem incentivando, nos últimos anos, a inclusão de estudos
emergentes e de regiões economicamente desfavorecidas, fora do eixo hegemônico
na área. O IAMCR 2014 tem como tema Region as frame: politics presence e
practice, que visa explorar a dinâmica dos sistemas de mídia, padrões de
comunicação e relações organizacionais dentro deste novo “enquadramento” da
região como uma categoria física e conceitual. Este ano será homenageado o
estudioso da Comunicação, Stuart Hall, um dos fundadores dos Estudos Culturais,
que faleceu em 10 de fevereiro deste ano.
Professora Rosane da Silva Borges, jornalista e doutora em ciências da comunicação, fará conferência na Índia sobre novas propostas de representação da mulher negra tomando como referência e Educomunicação.
Para
as conferências, o evento conta com grandes nomes da comunicação e de outras
áreas, como o premiado sociólogo espanhol Manuel Castells. O Brasil terá dois
conferencistas, entre eles a professora doutora Rosane da Silva Borges (UEL)
que fará conferência na sessão Mediating Marginalities: Caste, Race, Ethnicity
e o professor doutor Carlos Affonso Souza (UERJ). Autora de oito livros, entre
eles Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro (Imprensa Oficial) e a
biografia de Sueli Carneiro (Summus), Rosane Borges transita em diversos campos
da pesquisa em comunicação, com enfoque para o tópico do imaginário e das
representações sociais em torno de grupos historicamente discriminados.
Qual a importância deste evento?
Os
congressos internacionais da IMACR são um evento importante para repor o debate
em torno das principais demandas da comunicação, uma área que se converteu em
vetor majoritário para pensarmos o dinamismo das sociedades contemporâneas.
Sabemos que além do seu aspecto técnico e veicular, a comunicação comporta uma
dimensão fundante que nos provê os modos de sociabilidade em curso, colaboram
para tecer as identidades fluidas que nos habitam e oferecer horizontes
possíveis para os sentidos da vida cotidiana. Nesse sentido, esse congresso oferece
um painel atualizado sobre as principais interrogações que movem as pesquisas
na área em seus diversos aspectos, numa perspectiva transdisciplinar. Revolver
o campo da comunicação e deslocar os eixos geográficos de sua atuação no âmbito
da pesquisa tem sido um desafio para a IMACR.
Quais são os pontos principais da
sua conferência?
Irei
apresentar uma reflexão em torno das representações das mulheres negras e como
tais representações derivam de um imaginário que, de per si, nos institui, social
e simbolicamente. Proponho uma aliança entre educação e comunicação, para que
tal imaginário seja implodido e construamos, a partir de outros referenciais,
um outro imaginário que restitua efetivamente a nossa humanidade. Tomo essa
questão como essencial no território da comunicação, em geral, e das mídias, em
particular. Existe uma inequívoca correlação entre o racismo e o prodigioso
imaginário que dá sustentação a um ideal de superioridade de uns e
inferioridade de outros. Sabemos que imagem é poder, um bem importante para a
disputa da hegemonia. A visibilidade do mundo, não atende apenas ao princípio
iluminista da transparência, mas aos processos de instituição das crenças com
as quais concordamos ou discordamos. As redes sociais vem dando escala inaudita
a esse fato. É certo que algumas dessas imagens são postas sob suspeita, a
exemplo das veiculadas ad nauseum sobre o conflito israel-palestino nesses
últimos dias. Não temos dúvida da ação desmedida e massacrante de Israel. Por
outro lado, não podemos deixar de considerar que várias dessas imagens são,
comprovadamente, montagens para sensibilizar o mundo. Tal recurso nos coloca o
desafio de pensar o estatuto da imagem e das crenças que elas conseguem
suscitar. A disputa por atenção e adesão passa, necessariamente, pelo poder
mobilizador das imagens que se multiplicam em escala exponencial. Pensar
imagem, imaginário, racismo e sexismo constitui-se em urgência política.
As
mulheres negras têm pouca participação em eventos como este. Como você observa
isso?
Normalmente
sim, principalmente na composição de conferencistas. Quando participamos de
grandes conferências como essa ingressamos no rol dos grupos de trabalho,
apresentando nossas pesquisas. É preciso consolidarmos grupos de pesquisa,
alicerçados em bases disciplinares comuns, para que possamos partilhar as
nossas investigações em escala amplificada.
Como este quadro pode ser alterado?
Por
meio de incentivo à pesquisa com foco nas relações raciais. No campo da
comunicação, onde a presença de pesquisadoras negras é ínfima, faz-se
necessário estimular o ingresso de mulheres negras nas áreas de pesquisa afins.
Quais são suas expectativas com a
Conferência?
As
melhores possíveis. Acredito, pela própria natureza da Conferência, que as
discussões políticas serão um fio condutor para pensarmos o tempo presente que
não se permite uma compreensão mais acurada, tendo em vista a velocidade
informacional. Há quem diga que devemos ser dromoaptos, ou seja, ter a
capacidade de acompanhar o ritmo veloz que os suportes comunicacionais imprimem
aos eventos cotidianos. Faz-se necessário dar a comunicação, do ponto de vista
da investigação científica, a centralidade que ela ocupa nos desdobramentos
tecnológicos que não podem, por si sós, explicar os fenômenos recentes que nos
atordoam.
Texto de Silvia Castro,
jornalista e pesquisadora na área da Comunicação e foi publicado originalmente
no Portal Áfricas.