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O legado de Bell Hooks

 

(FOTO | Reprodução).


bell hooks faleceu em 2021, aos 69 anos, deixando no mundo, nas mentes e na militância de muitas pessoas uma impressão firme da sua existência e resistência. Nascida Gloria Jean Watkins, adoptou o pseudónimo bell hooks em homenagem à sua bisavó materna e fez da sua vida um contributo teórico e prático para o movimento de libertação das mulheres negras, com vista à superação das divisões por raça, género, orientação sexual, classe etc.

bell hooks: 4 livros para conhecer o trabalho da ativista e feminista negra

 

A escritora e ativista bell hooks (Foto: Divulgação)


Na última semana o mundo perdeu uma personalidade importante no movimento feminista atual. Gloria Jean Watkins, conhecida mundialmente pelo pseudônimo bell hooks, foi uma a autora, professora, teórica feminista e artivista americana. Ela faleceu aos 69 anos no dia 15 de dezembro deste ano, em decorrência de doença renal crônica.


Ao longo de sua vida, hooks publicou mais de trinta livros e inúmeros artigos acadêmicos sobre temas como interseccionalidade de raça, capitalismo e gênero eram assuntos bastante frequentes. Seu trabalho contribuiu para o movimento feminista como conhecemos hoje e também para desmistificar a vivência da mulher negra na sociedade.

Watkins assumiu o pseudônimo bell hooks no início da carreira como autora em homenagem à avó materna, Bell Blair Hooks. Desde lá, queria que a grafia do nome fosse em letras minúsculas para que seu conteúdo fosse o ponto de atenção, e não sua personalidade. Assim, bell hooks construiu um legado que ultrapassa as barreiras da literatura e vai perdurar enquanto suas leitoras existirem.

Não conhece o trabalho de bell hooks? Confira agora 4 livros da autora!

O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras 

Falando de política, beleza, luta de classes, direitos reprodutivos e violência, para que a sociedade seja mais justa, hooks defende que o feminismo é para todo mundo. Homens, mulheres, crianças, pessoas de todos os gêneros e de todas as idades. Disponível na Amazon por R$ 34,35.

Tudo sobre o amor: novas perspectivas

Falar de amor pode ser revolucionário. Nesta obra, bell hooks busca entender o que é o amor em todas as suas esferas e apresenta os desafios de colocá-lo na centralidade da vida, a partir de uma ótica patriarcal e racista. Encontre na Amazon por R$ 53,68.

Teoria Feminista: da Margem ao Centro

Nesta obra, hooks defende uma revolução feminista que transcenda reformas, com enfrentamento das ideologias do sexismo, do racismo e do capitalismo, entre outras. A proposta é envolver todas as esferas da sociedade e promover uma revolução feminista através de mulheres negras. Segundo a autora, só assim haverá a libertação de todx. Disponível na Amazon por R$ 37,31.

E eu não sou mulher? Mulheres Negras e Feminismo

Discutindo racismo, sexismo, intersecção entre raças e o impacto desses comportamentos na vida de mulheres negras, hooks discorre sobre a perpetuação de práticas excludentes de opressão e dominação desde a escravidão até os dias atuais. Disponível na Amazon por R$ 31,90.
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Com informações do Geledés.

Bell Hooks, escritora e ativista, morre aos 69 anos deixando grande legado sobre feminismo

 

Bell Hooks. (FOTO/ Reprodução).

A escritora e ativista bell hooks morreu nesta quarta-feira (15), aos 69 anos. “É com extrema tristeza que a família de Gloria Jeans Watkins confirma a morte de nossa amada irmã, neste dia 15 de Dezembro de 2021. A família honrou seu pedido de descansar em casa com sua família e amigos ao lado“, escreveu sua família em um comunicado.

Gloria Jean Watkins, nome de registro de hooks, publicou seu primeiro livro de poemas “And There We Wept” sob seu pseudônimo em 1978. O nome artístico era uma homenagem à bisavó.

Ao total, Bell escreveu 40 livros publicados em 15 idiomas diferentes. Os temas tratados pela ativista eram feminismo, racismo, cultura, política, papéis de gênero, amor e espiritualidade.

Watkins frequentou escolas segregadas no Condado de Christian, depois foi para a Universidade de Stanford na Califórnia e fez mestrado em inglês na Universidade de Wisconsin. O doutorado em literatura, por sua vez, foi na Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

O trabalho de bell hooks foi descrito como “a redefinição do feminismo”. Para o jornal “Washington Post”, ela conseguiu ampliar um movimento que muitas vezes era visto principalmente como associado a mães e esposas brancas, de classe média e alta.

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Com informações do Notícia Preta.

Descolonizar escola, nova batalha de Bell Hooks

 

(FOTO/ The Badger Heald)

Este texto é o prefácio de Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança, de Bell Hooks, recém-lançado pela Elefante, parceira editorial de Outras Palavras. Título original: “Reaprendendo a esperançar.

Começar por sempre pensar no amor como uma ação, em vez de um sentimento, é uma forma de fazer com que qualquer um que use a palavra dessa maneira automaticamente assuma responsabilidade e comprometimento.

Bell Hooks, Tudo sobre o amor

A obra de bell hooks ocupa especialíssimo espaço na formação ativista de muitas brasileiras, sobretudo as pretas, que, como eu, afetuosamente acessaram seus textos a partir das traduções e da circulação entre pares, décadas antes de sua aguardada publicação no país. Suas reflexões e seus estudos sobre raça, gênero e educação sacudiram ambientes acadêmicos e de militância negra e feminista, incitando diálogos potentes com o pensamento de intelectuais ativistas, como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Luiza Bairros, Beatriz Nascimento, entre tantas outras que, em suas trajetórias, confrontaram a especificidade das experiências de racismo e sexismo vivenciadas pelas mulheres negras brasileiras com o alcance do ideal de justiça social tão central na face pública dos movimentos feminista e negro.

Em Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança, bell hooks narra seu processo de formação acadêmica e identifica como epicentro de sua brilhante carreira a vivência como estudante de escola segregada onde professoras e professores alicerçaram o processo de ensino no fortalecimento da autoestima e na crença absoluta na capacidade de estudantes negros e negras construírem trajetórias acadêmicas com a excelência necessária para sustentá-los no confronto com o poder e com os efeitos do pensamento supremacista branco que enfrentariam ao longo de suas carreiras futuras.

Diante disso, a transformação da sala de aula em ambiente de afirmação da autoestima de jovens e crianças negras é central em sua experiência como educadora do ensino básico e superior e no desenvolvimento dos pilares de sua pedagogia engajada.

O exercício de transposição desse ponto de partida defendido por bell hooks para a realidade do Brasil encontra desafios similares e outros bastante específicos das relações raciais por aqui: de similar, destaco a necessária atenção à autoestima, à saúde mental e emocional de estudantes e profissionais da educação, em especial negras e negros cotidianamente submetidos à descrença de suas capacidades e ao descrédito em relação a seus conhecimentos e sua cultura ancestral. De específico, destaco a disseminação do mito da democracia racial que atua direta e fortemente no silenciamento dos efeitos do racismo institucional no estabelecimento de processos educativos qualificados em todos os níveis e para a totalidade dos estudantes.

Para nós, o reconhecimento das desigualdades raciais implica, sobretudo, a necessidade de ampliação de ações afirmativas que explicitem o comprometimento dos sistemas de ensino com a aprendizagem e o sucesso escolar e acadêmico de todos os estudantes. Esse processo de ampliação das políticas de Estado em prol das reparações históricas conta com um ator imprescindível, o Movimento Negro brasileiro.

É Nilma Lino Gomes quem define o Movimento Negro como “importante ator político, que constrói, sistematiza, articula saberes emancipatórios produzidos pela população negra ao longo da história social, política, cultural e educacional brasileira em prol da superação do racismo” 1.

Apropriar-se da interpretação histórica das relações raciais desenvolvida pelo Movimento Negro brasileiro é essencial para a construção de uma proposta político-pedagógica comprometida com o direito de alunos e alunas vivenciarem trajetórias escolares ou acadêmicas de excelência.

Esse fundamento indica a educadores, educadoras e sistemas de ensino a urgência da disseminação de uma narrativa crítica da história do país que situe, na resistência negra e indígena às opressões, a concretização do ideal de nação cidadã e equitativa.

Em obras anteriores2, bell hooks orienta a construção de um ambiente educacional onde estudantes e professores, por meio da alegria, do amor, da cumplicidade e da autorrealização, articulam conhecimentos de diferentes procedências e nesse processo constroem aprendizagens significativas e transformadoras com repercussões ao longo de toda a vida. Essa defesa do ambiente escolar como espaço de inovação, descolonização de mentes e zelo pela integridade emocional de estudantes e professores se aprofunda nos dezesseis ensinamentos presentes em Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança, no qual bell hooks confronta duas visões de qualidade nas relações estabelecidas na sala de aula.

Por um lado, a autora apresenta a perspectiva que situa positivamente a representação das regras de dominação características do pensamento supremacista branco, capitalista e patriarcal. Essa sala de aula que se apresenta como um “microcosmo da cultura do dominador” concede ao professor ou à professora o poder autocrático de decisão quanto à relevância ou à insignificância de experiências de um conhecimento ou outro.

Diametralmente oposta a essa proposição, bell hooks situa e defende a educação como prática da liberdade e a sala de aula como ambiente de intensos questionamentos direcionados à formação do pensamento crítico e ao enfrentamento direto da naturalização da subordinação e da humilhação em relações baseadas na manutenção do poder. Essa sala de aula que se configura em espaço de pertença, cuidado mútuo e valorização das diferenças também possibilita a conexão da educação com um território que extrapola a formação acadêmica para encontrar na humanização e no amor a Pedagogia da esperança de Paulo Freire e nela assentar os fundamentos das comunidades educativas e de resistência: “A luta pela esperança significa a denúncia franca, sem meias-palavras, dos desmandos, das falcatruas, das omissões.Denunciando-os, despertamos nos outros e em nós a necessidade, mas o gosto também, da esperança” 3.

Esperançar, para bell e Freire, é condição para o estabelecimento de comunidades educativas dispostas a reagir à violência das opressões vigentes em ambientes estruturalmente hostis à liberdade de expressão e a questionamentos das relações verticalizadas que as sustentam. É justamente nesse ponto que os ensinamentos encontram o desejo de ser feliz em sala de aula vivenciando a troca e o afeto mútuo: bell hooks não romantiza sua trajetória de professora progressista e intelectual negra; muito pelo contrário, apresenta os desafios contidos na experiência de desenvolver uma prática de ensino fundada no diálogo crítico, no antirracismo e feminismo, concebida em ambientes historicamente favorecidos pelos sistemas de opressão que ela denuncia e combate de maneira sistemática.

No oitavo ensinamento deste Ensinando comunidade, “Superando a vergonha”, bell hooks alerta para os sentimentos e as percepções potencialmente destrutivas da continuidade do sucesso acadêmico de estudantes que apresentavam qualidades evidentes em suas comunidades no ensino médio, mas que se viram invisibilizados ou humilhados no ensino superior:

Tomamos conhecimento de estudantes negros que apresentam desempenho aquém de suas habilidades. Ouvimos dizer que eles são indiferentes, preguiçosos, vítimas que querem usar o sistema para ganhar algo sem precisar retribuir. Mas não tomamos conhecimento das políticas de vergonha e de humilhação. (p. 157)

Nos ensinamentos da autora, o estabelecimento de comunidades de resistência, que por meio do exercício do mutualismo praticam acolhimento e proporcionam pertencimento, é essencial para a sustentação da capacidade de cultivar esperança, afeto e reconhecimento de um sentido comum na experiência de formação acadêmica de estudantes negras, negros e lgbtqia+. Na falta delas, o aumento dos casos de suicídio de estudantes negros nas universidades públicas brasileiras demonstra que o enfrentamento ao racismo, quando solitariamente vivido, configura-se em campo minado para a saúde mental e porta aberta para o risco de humilhação, desonra e finalmente interrupção das possibilidades de autorrealização, desenvolvimento coletivo e sobrevivência.

É possível construir essa comunidade de resistência que aproxima estudantes, professores e gestores dos diferentes sistemas de ensino que constituem a formação acadêmica; porém essa rede é insuficiente para a proteção social e emocional que garante à totalidade de estudantes negras e negros vidas maiores que sobrevidas no cotidiano das exigências da produção acadêmica. É preciso uma comunidade mais conectada que promova a aproximação mais profunda entre estudantes e professores com o mundo além da academia, pois é nesse mundo que reside o sentido de coletividade que sustenta o engajamento como possibilidade para o enfrentamento ao racismo e a disposição para “trocas dialéticas” nas salas de aula.

A rede de sustentação das microrresistências diárias ao racismo e ao sexismo reafirmada em Ensinando comunidade é composta por pessoas e situações que envolvem família, amor, sexualidade, espiritualidade, professoras dedicadas a fortalecer a autoestima e estudantes que desafiam o status quo. Essa rede é convocada também para o acolhimento dos que sucumbem à humilhação e o enfrentamento daqueles e daquelas dedicados à desonra de estudantes negras e negros.

Ainda no oitavo ensinamento, bell hooks nos conta que, no ambiente segregado onde iniciou sua escolarização, era considerada boa escritora, e isso era natural; nos ambientes escolares brancos, conviveu, perplexa, com questionamentos acerca da autoria de seus textos bem escritos. Em vários ensinamentos contidos nesta publicação, me reconheci como educadora, e em muitos outros momentos o fio da memória da estudante preta foi puxado. Nesse caso, especificamente, revivi a surpresa e a irritação de minha primeira professora de literatura ao descobrir que eu já havia lido todos os livros que ela tentara me indicar, logo eu, a estudante preta, filha da servente escolar e do restaurador de livros. Meus conhecimentos nunca foram reconhecidos ou valorizados nas aulas de literatura, mas sorrateiramente participei da formação daquela primeira comunidade de resistência leitora, forjada por meus amigos da quinta série, dialogando sobre personagens e sugerindo novos desfechos para as histórias pouco animadoras impostas e nunca discutidas em sala de aula.

Em Letramentos de reexistência 4, a pesquisadora Ana Lúcia Silva Souza alerta para o necessário reconhecimento dos estudantes como portadores de conhecimentos complexos e importantes para a qualificação dos processos de escolarização que se estabelecem a partir da apropriação, por parte da escola, das práticas de uso da linguagem em circulação nos territórios ativistas e no cotidiano de resistência às várias camadas de exclusão, racismo e discriminação enfrentadas por crianças e jovens pretos e pretas no Brasil.

Ensinando comunidade reensina o esperançar de Paulo Freire e nos convoca a praticar a pedagogia desassossegada que constrói aulas perfeitas, descritas por bell hooks como um improviso de jazz, momentos únicos em que todos estão presentes por inteiro e no agora.

1GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017, p. 24.

2Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. 2ª ed. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2017; Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática. Trad. Bhuvi Libanio. São Paulo: Elefante, 2020.

3FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. 11ª ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2015, p. 215.

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4SOUZA, Ana Lúcia Silva. Letramentos de reexistência — poesia, grafite, música: hip-hop. São Paulo: Parábola, 2011.

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Por Ednéia Gonçalves, no Outras Palavras.

Curso sobre bell hooks celebra mês das mulheres negras


(FOTO/ Reprodução).

A Escola Longa irá oferecer, em julho, várias atividades relacionadas às mulheres negras, entre elas o curso online “O pensamento pluriversal de bell hooks.” As atividades fazem parte da celebração do 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, data em que os feminismos negros no Brasil e em diversos países renovam a agenda de lutas.

O curso apresenta as principais linhas das teorias de bell hooks, que vem ganhando nos últimos anos tradução em série de seus livros para o português. É um curso composto por cinco encontros, com o objetivo de fazer “reflexões essenciais para a compreensão do nosso tempo, profundamente marcado por assimetrias e exclusões''.

A inscrição de intelectuais como bell hooks no domínio da reflexão dá-se, portanto, por meio de uma via em que ética, estética e política compõem um laço indissolúvel, capaz de oferecer caixa de ferramentas analíticas e práticas para ação e transformação do mundo e da vida”, diz a divulgação do evento.

Sobre a autora

Nascida Gloria Jean Watkins, em Hopkinsville, cidade rural de Kentucky, nos Estados Unidos, bell hooks -  em caixa baixa mesmo, em homenagem à avó materna - é formada em literatura inglesa pela Universidade de Stanford, onde começou seus estudos sobre gênero, educação, raça e classe, e seguiu com as temáticas para o mestrado na Universidade de Wisconsin e o doutorado na Universidade da Califórnia.

Desde 2019, seus livros têm ganhado tradução para o português. A Editora Elefante já trouxe para as livrarias brasileira quatro títulos: ‘Olhares negros: raça e representação’, ‘Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra’, ‘Anseios: Raça, Gênero e Políticas Culturais’ e 'Tudo sobre o amor: novas perspectivas'. Já a Editora Rosa dos Tempos lançou o ‘Eu não sou uma mulher?’.

O pensamento pluriversal de bell hooks” será realizado nos dias 8, 13,15, 20 e 22 de julho, das 19h às 21h30. O investimento é de R$ 320,00. As inscrições podem ser feitas pelo site da Escola Longa.

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Com informações da Alma Preta.