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O coronel Brilhante Ustra em audiência pública promovida pela Comissão Nacional da Verdade. Foto: Sergio Lima/Folhapress |
"Toda
vez que o presidente da República chama o coronel Carlos Alberto Brilhante
Ustra de "herói" e defende seus atos de violência na ditadura militar
é como se os torturados, sequestrados, mortos e desaparecidos no período fossem
novamente colocados no pau-de-arara, na cadeira do dragão, fossem xingados,
humilhados, espancados. Mas não apenas eles. Toda vez que Jair Bolsonaro faz
isso, ofende, ataca, desrespeita a todos nós, que somos familiares de mortos e
desaparecidos, e lutamos há décadas por memória, verdade e justiça.
Brilhante
Ustra, o homem que Bolsonaro tem como ídolo a ponto de dizer que seu livro
repousa na cabeceira de sua cama, torturou e assassinou meu tio durante a
ditadura.
Nesta
quinta (8), o presidente convidou para almoço, no Palácio do Planalto, Maria
Joseíta Ustra, viúva de Ustra, que morreu em 2015. Questionado sobre o
encontro, disse que ela “tem histórias
maravilhosas para contar” e novamente chamou Ustra de “herói nacional”.
Não
bastasse a enorme repercussão negativa por conta das declarações recentes sobre
o desaparecimento e morte do militante político Fernando Santa Cruz e da forma
como se dirigiu a seu filho, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, dizendo
que podia lhe contar o paradeiro do corpo do pai, Bolsonaro segue homenageando
uma pessoa que comprovadamente praticou crimes contra a humanidade.
Meu
tio, Luiz Eduardo Merlino, jornalista e militante do Partido Operário Comunista
(POC), foi assassinado sob tortura, em julho de 1971, aos 23 anos, em uma
sessão comandada por Brilhante Ustra. Preso na casa de minha avó, em Santos,
Luiz Eduardo foi levado ao DOI-Codi e torturado no pau-de-arara por 24 horas
até que uma de suas pernas gangrenou. Então, foi deixado em uma cela forte, sem
poder andar e comer. Depois, jogaram ele em um camburão e levaram-no ao
hospital militar.
Outro
preso político que estava sendo torturado por Ustra ouviu sua conversa ao
telefone. Decidiam se amputavam ou não a perna gangrenada, para que a vida de
meu tio fosse salva. Para amputar, teriam que avisar a família. “Deixa morrer”,
sentenciou o coronel.
Como
o presidente de uma República pode seguir repetidas vezes louvar um criminoso
que reconhecidamente matou e torturou? Vamos ter que encarar e responder essa
pergunta se não quisermos ser cúmplices de uma escalada autoritária que pode
levar ao assassinato da democracia."
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Texto
da jornalista Tatiana Merlino, especial para o Blog do Sakamoto.
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