A antropóloga altaneirense Josyanne Gomes é colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/Reprodução/Facebook). |
No
Brasil do capitão, muitas pessoas se acham no direito de comandar suas próprias
ignorâncias e aberrações. Não é raro de se ver e ler por aí, seja nos feeds do
facebook, status do Whatsapp ou nos stories do Instagram, postagens de cunho
preconceituoso, difamatório, ou ainda, trechos supra citados que contém
injúrias e discriminação. Certo dia desses estava eu visualizando a rede social
facebook, quando me deparo com o seguinte post de alguém “Nesse país de Pablo Vittar, vamos escutar algo bom” em seguida a
tal pessoa compartilhava uma música do Cantor e compositor Cearense, Raimundo
Fagner. Note-se aqui, que esta reflexão não objetiva atacar o trabalho, ou
colocar em xeque o talento de ninguém, diferente da pessoa que fez determinado
juízo de valor no seu perfil particular, sobre artistas distintos, a intenção
aqui é outra.
Com
isto, quero deixar bem nítido que: as pessoas têm o direito de ouvir e gostarem
do que quiserem, já dizia aquele velho ditado que “gosto não se discute”, não é mesmo? Mas aqui, não estamos falando
de gosto, nem tampouco de desgosto. Chamo atenção para o fato de que o
comentário em questão escolhia um artista em especial, que é submetido a
exposições conflituosas e conflitantes, senão floridas de julgamentos e pseudos
técnicos vocais, quando se trata de uma pessoa, no mínimo, autêntica e que não
se importa com os rótulos e comentários tendenciosos ao seu respeito. O
trabalho do cantor e performer Vittar, causa muita euforia entre os não fãs do
artista, talvez sua irreverência e coragem de ser quem é, assuste a maioria que
se esconde atrás de máscaras, instituições e perfis anônimos para criticar, já
que lhes falta brilho e glamour.
Pablo
Vittar não é questionado apenas pelo seu talento, pois o mesmo já provou que
sabe cantar e que canta muito bem, por sinal. Sua aparição pública causa
espanto, para não dizer que incomoda, pelo simples fato de sua performance
artística tensionar representações de gênero, que na cabeça da maioria das
pessoas se confundem com sexualidade. Em nada o comentário acrescentava ou
diminuía o trabalho de nenhum dos dois cantores citados aqui, mas a intenção
desde o início e por trás da postagem consistia em desqualificar, deslegitimar
e classificar algo como superior em detrimento de um outro considerado inferior.
Mas não é de se admirar que num país governado por um “representante” que dita ideias tão toscas e bizarras, sua voz se
faça presente entre os porta vozes como uma súplica, ecoando assim mesmo sem
filtro, sem consciência e sem escrúpulos.
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Josyanne
Gomes é
graduada em Ciências Sociais pela Universidade Regional do Cariri (URCA),
mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), professora e colunista do Blog Negro Nicolau.
Exatamente Josyanne. Isso serve de exemplo para refletirmos sobre toda uma idéia de "cultura contemporânea." O que é cultura erudita, pop ou contra- cultura? Quem define esses rótulos e à quem serve essas classificações? Me parece mais uma das representações de um jogo de poder social que cria hierarquias. Ao desqualificar "o outro", também estou desqualificado tudo o que ele representa e defende. A questão é, tal estilo musical é bom ou ruim para quem?
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