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A antropóloga altaneirense Josyanne Gomes é colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/Reprodução/Facebook). |
Homofobia,
essa palavra pode até parecer só mais uma palavra, conceito ou termo que está
na crista da onda das discussões modernas e contemporâneas, mas a questão é que
só parece mesmo. Na verdade, apesar do termo ter entrado em uso recentemente e
ter se tornado assunto nas esferas midiáticas, jurídicas e sociais como um todo
atualmente, não quer dizer que atitudes homofóbicas sejam apenas práticas dos
dias de hoje. Vale ressaltar que a etimologia da própria palavra se refere ao
radical Homo que significa igual, e fobia que seria algo equivalente a medo,
repulsa, ou aversão. Sendo assim, temos que a junção desses dois termos poderia
ser lido como algo que sugere medo daquilo que é igual. Até aí tudo bem, ou
não? A pergunta é, ou, deve ser: por que deveríamos ter medo daquilo que é
igual, uma vez que, historicamente são as diferenças que assustam e sempre
foram combatidas?
Grosso modo, indo além na nossa imaginação,
poderíamos pensar que a palavra homofobia poderia ser usada para o processo de
globalização, por exemplo, afinal a globalização tende a padronizar modelos de
consumismo e marcas em todo o mundo. Mas curiosamente, não usamos essa palavra
para tal fenômeno econômico, politico e social. Então a nossa homofobia de cada
dia, não se aplica apenas a sua definição sintática, ela é marcada por questões
de interesse cultural, particular e subjetiva. Vejamos, se nós perseguimos,
julgamos, ignoramos, demonstramos ódio e repulsa por determinadas pessoas, ou
por determinados comportamentos que frustram nossas expectativas sociais, de
gênero e, sobretudo sexuais, nosso problema não é com o significado ou (des)uso
da palavra, mas sim com a nossa aplicação dela no cotidiano.
É muito comum ouvirmos ou até mesmo falarmos coisas do tipo – “Senta como menina”, “Fala como homem”, “homem não chora”, “mulher não deve cortar o cabelo curto demais”, “muda seu jeito, porque não é que eu tenha nada contra, mas a sociedade não vai te aceitar assim”, “se você fez suas escolhas, agora aguenta as consequências”, não tenho preconceito, até tenho amigos gays, agora filho meu não dá”, “lá na rua tudo bem, mas aqui dentro da minha casa tem que me respeitar”, “seja gay entre quatro paredes, não precisa demonstrar ou andar assim”, “pode ser gay, mas precisa ser assim?”. Enfim, o repertório é tão vasto que páginas e páginas seriam insuficientes para dar conta de tantas expressões do tipo. Tipo homofóbicas mesmo, sem mais nem menos, assim diretamente mesmo e como costumamos falar no nordeste, sem arrodeios.
Acontece que uma vez estando imersos numa
sociedade que produz e reproduz esse tipo de linguagem, seja como forma de
manifestação pública da tão proclamada e vociferada “liberdade de expressão” ou
como forma de repressão e punição, estamos todos e todas sujeitos e sujeitas a
sermos homofóbicas/os em algum momento, com alguém.
Falando em outras palavras, é como se
existisse um ethos (conjunto de crenças, traços, costumes e comportamentos que
distinguem um povo) próprio da sociedade que caracteriza determinadas práticas
como positivas e outras como negativas. Com isto, pensamos o seguinte: existem
pessoas que estão se sentindo no poder de usar essa palavra para enquadrar,
rotular e isolar seres humanos que escapam ou fogem de expectativas culturais
como: união monogâmica, relacionamento heterossexual, carreira focada no lucro
e por aí vai. O ponto da questão é que aqui neste caso do uso da palavra
homofobia, aplicada para definir o comportamento daquela pessoa que repele e
rejeita gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e não binários parece dizer o
contrário do seu significado, afinal o estranhamento consiste na diferença e
não igualdade, que seria, em tese e via de regra a heterossexualidade. Percebem
a ideia fulcral do debate?
A escola, enquanto instituição social e
aparelho do estado não se execra ou se exclui da sociedade e, portanto leva
todas essas práticas sociais e culturais para dentro dos muros e salas de
aulas. Desse modo, falar que existe homofobia na escola, ou que a escola é um
espaço homofóbico seria, no mínimo, algo coerente com a nossa realidade. O
desafio, por sua vez, está em reconhecer esse papel da escola como ente
organizativo da sociedade que pretende formar cidadãos, mas que também produz e
reproduz o ethos cultural do pré-conceito o tempo todo, inclusive dentro do
ambiente escolar. Então não se assuste se num ambiente que deveria educar,
orientar e ensinar o respeito pelo outro e a valorização da diferença esteja
acontecendo justamente o contrário, ou o oposto.
Acontece que a humanidade caminha em passos
lentos e apesar não estarmos parados no tempo, nem no espaço, o movimento não é
linear, mas antes, cíclico. Todavia, é necessária muita paciência, reparo,
discussões, lutas, manifestações sociais, mobilizações e que a escola ocupe de
fato o lugar e papel que lhe cabe nesse espectro moderno ocidental e
capitalista, ao qual denominamos por sociedade e assim ficou.
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Josyanne Gomes é
graduada em Ciências Sociais pela Universidade Regional do Cariri (URCA),
mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), professora e colunista do Blog Negro Nicolau.
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