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Estudantes de história da Ufal lançam calendário em homenagem a personalidades negras de Alagoas

 

Calendário criado por estudantes de história da Ufal homenageia personalidades negras/(FOTO/ Reprodução: G1).

Alunos do curso de licenciatura em História da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), do Campus do Sertão, criaram um calendário 2022 para homenagear personalidades negras alagoanas que dedicaram a vida à luta antirracista.

O projeto foi desenvolvido na disciplina Atividade Curricular de Extensão. Os estudantes também fazem parte do Grupo de Cultura Negra do Sertão Abí Axé Egbé, um equipamento cultural da UFAL em Delmiro Gouveia, que promove estudos, pesquisas, debates, produtos científicos e pedagógicos, eventos, oficinas e apresentações artísticas com foco nas relações raciais e na cultura afro-brasileira.

De acordo com o diretor do grupo, professor Gustavo Gomes, a elaboração do calendário surgiu com a proposta de ir além da utilidade para organizar as atividades diárias e que deve ser visto como um importante instrumento pedagógico, ao trazer um pouco da memória cultural negra do estado.

“É uma forma de propor para as pessoas uma reflexão afrocentrada durante o ano todo, não apenas no mês da Consciência Negra. Propor que aprendam sobre outros marcos temporais, que não são aqueles eurocentrados, marcando o tempo em perspectiva negra, a partir de memórias culturais negras. O resultado ficou lindo, sensível e robusto. É um índice de que o processo de curricularização da extensão acadêmica tem dado certo”, comemora Gomes.

Entre os homenageados estão Mãe Neide, Zezito Araújo, Dona Irinéia e Mestre Tião do Samba. Segundo o grupo Abí Axé Egbé, o projeto buscou personalidades de áreas como política, movimentos sociais, artes, religião, saúde, educação e LGBTQIA+, de diferentes regiões alagoanas.

“São pessoas com vida dedicada à luta antirracista e que deixaram um legado para posteridade. É uma forma de dar visibilidade a negros e negras de Alagoas como heróis e heroínas para além de Zumbi dos Palmares. Elas precisam ter suas memórias reconhecidas, valorizadas, divulgadas, salvaguardadas e internalizadas afetivamente. As pessoas precisam reconhecer e valorizar essas pessoas negras. Ter afeto por essas personalidades”, defende o professor.

O material pode ser baixado gratuitamente no site da Ufal.
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 Com informações do G1.

Benedita, Marina e Madame Satã são devolvidas a lista de personalidades negras da Palmares por decisão judicial

 

Benedita da Silva. (FOTO/ Divulgação).

Por Nicolau Neto, editor

Na última quarta-feira (16), a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), a ex-ministra Marina Silva (Rede) e João Francisco dos Santos (a Madame Satã) voltaram a figurar na lista de personalidades negras da Fundação Palmares. A ação foi fruto de uma decisão da justiça federal que reverteu a atitude do presidente da instituição, Sérgio Camargo, conforme destacou a Revista Época.

17 pessoas negras da História que você não viu na escola


Na escola, provavelmente, você não ouviu falar sobre os guerreiros e guerreiras ou líderes quilombolas que desenharam a História do Brasil. Ao contrário da ênfase na trajetória dos imperadores Dom Pedro I e II, por exemplo, pouco se estuda dentro da sala de aula a influência negra de nosso país além da escravidão.

Do CEERT - Pensando nisso, a plataforma educacional gratuita Quizlet convidou Stephanie Ribeiro, estudante de Arquitetura da PUC de Campinas (SP) e ativista feminista negra, para elaborar uma lista com 17 pessoas importantes da cultura negra do Brasil. No site interativo é possível aprender sobre cada uma delas de forma dinâmica.


Quem é quem na história negra do Brasil” te leva a descobrir o quanto você conhece sobre as personalidades negras brasileiras. Clique aqui para acessar a plataforma e jogar. O conteúdo também traz os marcos da história negra (confira aqui). Abaixo, veja alguns dos nomes reunidos:

Abdias Nascimento

Abdias Nascimento. Foto: Reprodução - Quizlet.

Foi um poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras.

Antonieta de Barros

Antonieta de Barros. Foto: Reprodução - Quizlet.

Pioneira no combate a discriminação dos negros e das mulheres, foi a primeira deputada estadual negra do país. Atuou como professora, jornalista e escritora.

José do Patrocínio

José do Patrocínio. Foto: Reprodução - Quizlet.

Foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país.

Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus. Foto: Reprodução - Quizlet.

Considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil.

Lima Barreto

Lima Barreto. Foto: Reprodução - Quizlet.

Foi um jornalista e escritor que publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta obra em periódicos, principalmente em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX.

Lélia Gonzalez

Lélia Gonzales. Foto: Reprodução - Quizlet.

Intelectual, política, professora e antropóloga brasileira.

Luisa Mahin

Luisa Mahim. Foto: Reprodução -Quizlet.
Uma ex-escrava africana, radicada no Brasil, mãe do abolicionista Luís Gama.

Luís Gama

Luís Gama. Foto: Reprodução - Quizlet.

Foi um rábula, orador, jornalista e escritor brasileiro.

Tereza de Benguela

Tereza de Benguela. Foto: Reprodução - Quiszet.

Foi uma líder quilombola que viveu no atual estado de Mato Grosso, durante o século XVIII. Foi esposa de José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho (ou do Quariterê). Com a morte do marido Teresa se tornou a rainha do quilombo.

Zumbi dos Palmares

Zumbi dos Palmares. Foto: Reprodução - Quizlet.
Foi o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, o maior dos quilombos do período colonial.

Negro Cosme, líder da luta negra pela liberdade, é homenageado no Maranhão



Zumbi dos Palmares é o símbolo da luta negra pela liberdade no Brasil. O líder do Quilombo dos Palmares, em Alagoas, foi morto em 20 de novembro de 1695. A data de sua morte marca o Dia da Consciência Negra.

Mas a escravidão ainda teve longa vida no Brasil. Na província do Maranhão, quase 200 anos depois de Zumbi, outro importante líder negro resistia ao sistema escravista e à repressão imposta pelos colonizadores e seus decendentes. Era Cosme Bento das Chagas, o Negro Cosme. Quilombola maranhense, libertou cerca de 3 mil escravos.

Publicado originalmente no Brasileiros

Após a independência política do Maranhão, em 1822, houve uma intensa mudança nas divisões e rivalidades da elite dominante maranhense, o que gerou a “revolta da Balaiada”, entre 1838 e 1841, e opôs “bentevis” (membros ou simpatizantes do Partido Liberal) e “cabanos” (membros ou simpatizantes do Partido Conservador, do governo).

Os negros libertos integraram a insurgência liderados por Negro Cosme. A província do Maranhão era, nesse período, o terceiro estado com maior número de escravos, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, além de ultrapassar percentualmente São Paulo e Minas Gerais, regiões economicamente mais prósperas e importadoras de escravos naquela altura, como revela o estudo “Espaço, cor e distinção social em São Luís (1850-1888)”, do sociólogo Matheus Gato de Jesus, mestre e doutor em Sociologia.

A força negra era a mão de obra que fomentava a produção agrícola. “Essa conjuntura alterou a composição demográfica do Maranhão. A população livre quase triplicou em números absolutos entre 1841 e 1872, passando a representar 79,1% da população da província, enquanto que o número de pessoas escravizadas, que representava pouco mais da metade de todos os habitantes durante quase toda primeira metade do século, foi reduzido a apenas 20,9% no começo da década de 1870”, explica Matheus.

Apesar da importância de Negro Cosme, em São Luís, capital do estado, não havia até a última sexta-feira (18) qualquer homenagem a sua passagem e luta. Entender o passado é fundamental para compreender as questões de um estado que é hoje a segunda unidade da federação mais negra do Brasil, atrás apenas da Bahia.

A mesma situação que se observa como herança da escravidão em outros estados brasileiros acontece no Maranhão. A população negra é a mais pobre, a que mais sofre violência letal, a que tem os piores empregos e aquela que possui menor escolaridade. Acontece que a grande maioria da população maranhense hoje é constituída de negros (76%, de acordo com o Censo 2010). O genocídio dos jovens negros na capital maranhense é um dos principais problemas atuais. Para se ter uma ideia, esse grupo de pessoas representava 85% das vítimas de homicídio no estado, no período entre 2000 e 2012.

Na sexta-feira (18), o governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), anunciou uma série de medidas de enfrentamento ao racismo e suas consequências destinada a áreas como educação, juventude, direitos humanos e assistência social, segurança alimentar e agricultura familiar. “A premissa número um é reconhecer que o racismo existe”, disse o governador Flavio Dino à reportagem da Brasileiros. “Parece uma coisa óbvia mas durante muito tempo não se reconheceu sua existência, pelo contrário, muita gente prefere negar até hoje”, diz.

A negação do racismo naturaliza a sua existência, o que dificulta a tomada de ações de enfrentamento ao preconceito racial. Pela primeira vez no estado há a política de cotas no serviço público. “É uma medida transitória mas importante para sublinhar o problema. Porque quando muitos falam em meritocracia eu acho lindo, desde que o ponto de partida seja igual para todo mundo”, afirma o governador.

Outras medidas fundamentais para mitigar o racismo e a desigualdade também foram sancionadas. Um decreto que regulamenta como identificar e reconhecer propriedades e comunidades quilombolas foi instituído; mais de 2 milhões de reais serão aportados para a construção de uma rota cultural e de produção nas áreas quilombolas, com medidas como melhorias no abastecimento de água e construção de estradas; além de iniciativas para capacitar professores no ensino de História e Cultura da África, contemplando a lei 10.639, e a formação continuada para professores que atuam em comunidades quilombolas.

O reconhecimento simbólico da importância de Negro Cosme também foi implementado. O governador instituiu 17 de setembro, data de sua morte, como o dia em homenagem ao líder quilombola.

A pesquisa de Matheus mostra também que naquela época havia uma lei que não permitia aos negros cativos frequentarem as ruas após as 22h sem autorização de seus senhores. Nos quilombos, Negro Cosme foi ensinar o povo a ler e a escrever. Quando a repressão à Balaiada começou, o exército do novo presidente da província, Luís Alves de Lima, o “duque de Caxias” ou “duque de ferro”, matou mais de dez mil pessoas. Não foram poupadas as vidas de crianças, idosos e mulheres. 

Negro Cosme foi fugindo e resistiu até onde deu. Mas um dia essa batalha chegou ao fim. Cosme foi aprisionado no “Combate do Calabouço”, na região de Vitória do Mearim, e levado a São Luís, a 170 km para o norte. Em 17 de setembro de 1842, Negro Cosme foi enforcado na antiga Praça da Cruz. Agora, sua marca de valentia volta a ser celebrada.

É justo. A luta ainda não terminou.

Negro Cosme, líder quilombola, foi enforcado em praça pública.

Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Albert Luthuli


Em 2014 o portal de comunicação Informações em Foco iniciou a primeira fase da série “Personalidades Negras que Mudaram o Mundo”. Foi dito que neste espaço, você encontrará informações sobre algumas das personalidades negras que marcaram a história do Brasil e do mundo. Naquela oportunidade frisou-se que o espaço que estava se constituindo era inacabado e que estaria em contínua construção, porque a luta em favor da cultura negra e contra o racismo produziu e irá produzir, por tempo indeterminado, um grande número de lideranças que precisarão ser resgatadas.

Partindo desse princípio, o Informações em Foco inicia a partir desta quinta-feira, 04 de junho, a segunda fase desta série discorrendo sobre Albert Luthuli, primeiro negro a ostentar o Prêmio Nobel da Paz.

Tendo nascido em 1898 em Rodésia do Sul (atual Zimbabwe), Albert Luthuli foi, desde muito jovem considerado liderança em grupos que iam de familiares a comunitários, chegando à política. Filho de um Adventista do Sétimo Dia , era profundamente religioso, vindo a ser um pregador leigo da paz em um momento em que muitos de seus contemporâneos pediam atitudes militantes contra o Apartheid.

Um dos nortes dos seus discursos foi, não sem razão, a defesa da não-violência, se tornando forte opositor do Apartheid. Lutou de forma incansável por uma África do Sul que pertencesse a todos os que nela habitavam, fossem eles negros ou brancos. Presidiu o Congresso Nacional Africano e, em conjunto com o Congresso Indiano da África do Sul, retomou, nos anos 1950, do século XX, a luta de não violência iniciada por Ghandi.

É digno de registro ainda que ele veio a liderar milhares de pessoas que boicotaram os ônibus onde a diferença racial era a regra, não adquiriam certos produtos agrícolas e desobedeciam as leis racistas. Note-se também que como a maioria que lutava pela igualdade entre os homens, Luthuli foi preso e processado. Em 1959 foi proibido de participar de manifestações populares e obrigado a se exilar de sua terra natal durante 5 anos. Morreu misteriosamente atropelado por um trem em 1967.




Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Zumbi dos Palmares


Nascido no ano de 1655, livre, já no Quilombo que faz alusão ao seu próprio nome (Palmares), Zumbi (que quer dizer o mesmo que fantasma ou espírito, no idioma africano quimbundo, e na concepção brasileira da palavra, guerreiro)  foi um dos, senão o principal ícone da resistência negra ao trabalho escravo no período do Brasil Colônia. Com aproximadamente 6 anos de idade, Zumbi fora capturado em um dos ataques das tropas da colônia ao quilombo, sendo entregue a um missionário português, que o batizou com o nome 'Francisco' Zumbi, e educou-o com os sacramentos da igreja católica, em português e latim. Aos 15 anos de idade, Zumbi consegue fugir e retorna aos Palmares, substituindo, mais tarde, devido ao seu grande destaque como estrategista e líder, o seu tio então falecido Ganga Zumba.

Zumbi era muito respeitado por ter sido educado por brancos e ainda assim, não ter abandonado suas raízes. Em sua liderança ou reinado, como os próprios quilombolas lhe atribuíam o título de rei, conduziu o Quilombo dos Palmares ao seu apogeu militar, econômico, territorial e social, liderando os guerreiros em enfrentamentos com surpreendentes estratégias militares e táticas de guerrilha, onde se invadiam e atacavam fazendas de cana-de-açúcar e engenhos para resgatar escravos e assim adquiriam também um incrível poderio bélico, com muitas armas, usurpadas como despojo desses ataques.      

A Lenda: Zumbi dos Palmares Imortal

Devido à grande dificuldade enfrentada pelas tropas da colônia sob a autoridade da capitania de Pernambuco, e até mesmo de invasores holandeses que derrotaram a própria capitania dominante, mas não os quilombolas, criou-se entre o povo, e entre o próprio quilombo, o mito sobre a imortalidade de Zumbi, exímio comandante e capoeirista, que tinha estratégias de ataques e defesa incríveis, com metodologias bem elaboradas, Zumbi promovia ataques épicos às tropas da Capitania e mais tarde, aos holandeses que também tentaram subjugar Palmares. Zumbi, por muito tempo gerava essa atmosfera legendária de uma possível imortalidade concedida por seus deuses, que supostamente lhe fecharam o corpo, dando-o muito poder sobre seus inimigos.

O Outro Lado da História

Alguns historiadores e autores levantam Zumbi não como um herói em sua totalidade da palavra, mas sim o oposto, relatando-o em seus registros e obras como uma espécie de tirano que, muitas vezes, impunha por meio de captura aos escravos que se negavam a seguir com as caravanas de Zumbi para o quilombo, uma adesão forçada à vida nos Palmares. Considera-se até o fato de um regime de escravidão entre os próprios quilombolas e o despotismo, que era executado a negros fugitivos do quilombo, recapturados e mortos, a servir de exemplo para não se transgredir a lei dos Palmares.

A Morte de Zumbi

Após muitas tentativas de exterminar com Palmares (um século, a contar da liderança de Ganga Zumba, para ser mais preciso) por parte da capitania de  Pernambuco, o governador, ouvindo falar dos feitos,  da valentia e da habilidade dos bandeirantes que exploravam a região de São Paulo e o sudeste brasileiro,  resolve contratar o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho com suas tropas a organizar uma invasão ao quilombo, quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança dos Palmares. Em uma das investidas, em 06 de fevereiro de 1694, a capital de Palmares foi destruída e Zumbi, apesar de ferido, consegue fugir. Porém, refugiado quase dois anos depois, foi traído por Antônio Soares, um de seus aliados que, capturado pelos bandeirantes e sob a promessa de liberdade, revelou o local onde se escondia Zumbi. Esse, por sua vez, foi surpreendido e morto pelo capitão Furtado de Mendonça na Serra dos irmãos, região de Alagoas.     

O herói foi decapitado e teve, por ordem do governador, em 20 de novembro de 1695, sua cabeça exposta na capital, Recife, como uma prova de que a suposta imortalidade de Zumbi não passara de uma lenda e de que Palmares, enfim tinha sido derrotado.



Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Tereza de Benguela


A presidente Dilma Rousseff sancionou, no dia 2 (dois) de junho, a Lei Nº 12.987, que instituiu o 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e também da Mulher Negra. A lei que já tinha sido aprovada em caráter conclusivo pela Comissão de Constituição e Justiça – CCJ da Câmara dos Deputados em 1º de junho teve sua publicação no Diário Oficial da União no dia 3 (três).

Rainha Tereza”, como ficou conhecida em seu tempo, viveu na década de XVIII no Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Ela liderou o Quilombo de Quariterê após a morte de seu companheiro, José Piolho, morto por soldados. Segundo documentos da época, o lugar abrigava mais de 100 pessoas, com aproximadamente 79 negros e 30 índios. O quilombo resistiu da década de 1730 ao final do século. Tereza foi morta após ser capturada por soldados em 1770 – alguns dizem que a causa foi suicídio; outros, execução ou doença.

Sua liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que servia posteriormente para a produção de tecidos. Havia também plantações de milho, feijão, mandioca, banana, entre outros.

Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entravam os deputados, sendo o de maior autoridade, tido por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais. Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executavam à risca, sem apelação nem agravo” (Anal de Vila Bela do ano de 1770)

Após ser capturada em 1770, o documento afirma: “em poucos dias expirou de pasmo. Morta ela, se lhe cortou a cabeça e se pôs no meio da praça daquele quilombo, em um alto poste, onde ficou para memória e exemplo dos que a vissem”. Alguns quilombolas conseguiram fugir ao ataque e o reconstruíram – mesmo assim, em 1777 foi novamente atacado pelo exército, sendo finalmente extinto em 1795.

Injustiças centenárias

Números do IBGE apontam que ser mulher negra no Brasil significa sofrer com uma intensa desigualdade, como no campo profissional por exemplo. 71% das mulheres negras estão em ocupações precárias e informais, contra 54% das mulheres brancas e 48% dos homens brancos. O salário médio da trabalhadora negra continua sendo a metade do salário da trabalhadora branca. Mesmo quando sua escolaridade é similar à escolaridade de uma mulher branca, a diferença salarial gira em trono de 40% a mais para esta.

A história da “Rainha” foi relembrada em 1994 pela escola de samba Unidos da Viradouro no samba-enredo “Tereza de Benguela, uma rainha negra no Pantanal”.






Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Mestre Pastinha


Vicente Ferreira Pastinha, mais conhecido como mestre Pastinha, já faz parte da cultura popular do Brasil. Nascido em Salvador (BA), no dia 5 de abril de 1889, era visto como “um indivíduo desconfiado e prevenido, que ao aproximar-se de uma esquina, tomava logo o meio da rua.” Outras características peculiares lhe eram atribuídas, como a calça de boca larga que cobria toda a extensão dos pés, a argolinha de ouro na orelha e o tradicional chapéu de banda.

Mesmo depois de muito idoso, jogava Capoeira como um exímio jovem de pouca idade, executando todos os movimentos com grande facilidade. Esse fato e sua intensa dedicação à Capoeira fizeram dele a figura famosa e respeitada que sempre foi, dentro e fora das “rodas”.

Mas quem ensinou a Pastinha a arte da capoeiragem que exercia com tanta perfeição? Quanto a essa questão, existem controvérsias. No prefácio de um pequeno livro publicado em 1964, com o título de “Capoeira Angola” e de autoria de Pastinha, José Benito Colmenro afirma que ele teve como mestre um negro de Angola, de nome Benedito. Entre a maioria dos capoeiristas, porém, a versão aceita é a de que o seu mestre fora Aberrê. 

Em 1941, no primeiro andar de um sobrado do Largo do Pelourinho, juntamente com mestre Amorzinho, Pastinha fundou aquela que seria uma das mais famosas academias de Capoeira de Salvador: a Escola de Capoeira de Angola. Às quintas e domingos, a animação contagiava os participantes, capoeiristas ou público presente. Qualquer turista que passasse pela capital da Bahia, não perdia a oportunidade de ver o mestre, no centro de sua roda, jogando com jovens e vigorosos capoeiras, derrotando um a um. E quando saía do jogo, sem precisar descansar, segurava o berimbau e puxava as cantigas. “Aqui pratico a verdadeira capoeira de Angola e aqui os homens aprendem a ser leais e justos. A lei de Angola, que herdei de meus avós, é a lei da lealdade”( Pastinha, em conversa com seu amigo, o escritor Jorge Amado).

Berimbau, pandeiro, caxixi e agogô eram os instrumentos musicais usados na Capoeira de Pastinha que dava preferência aos toques de São Bento Grande, São Bento Pequeno, Angola, Santa Maria, Cavalaria, Amazonas e Iuna.

Um dos poucos capoeiristas de sua época a viajar para o exterior, em abril de 1966 Pastinha integrou a delegação brasileira junto ao Premier Festival International des Arts Nègres, de Dakar (África), a convite do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Ainda dedicava parte de seu tempo para dirigir o Centro Esportivo de Capoeira de Angola, destinado a preservar o jogo em sua forma pura, chamada Angola ou Tradicional.


Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Beatriz Nascimento


Quem mergulha nos pensamentos, nas angústias e na história de vida da guerreira negra Beatriz Nascimento, que deu a vida em defesa do respeito à dignidade feminina, nunca mais se sentirá como era antes. Uma história que se inicia em Aracaju, e prossegue, em 1945, quando Beatriz tinha três anos, assim como na canção de Dorival Caymmi: "peguei o Ita no norte pra vir pro Rio morar...". Foi exatamente nesse famoso navio de retirantes que embarcaram o pedreiro Francisco Xavier Nascimento, a dona de casa Rubina Pereira Nascimento e seus 11 filhos, na década de 50, para desembarcar em meio às imensas dificuldades de uma cidade em ebulição político-social, carente de infraestrutura, que já não comportava sua população negra pobre imigrante.

Nesse universo e realidade foram forjadas tanto a personalidade quanto as reflexões que se constituem no pensamento vivo dessa intelectual que iniciou sua graduação em História, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aos 28 anos. A quantidade de horas-aula, em escolas da rede pública de ensino que precisava cumprir, para garantir a própria sobrevivência, jamais foi desculpa para Beatriz Nascimento não prosseguir sua dedicação à pesquisa sobre questões relacionadas com a história e a cultura afro-brasileiras.

Militância, debates, negritude

A opressão da ditadura, marcadamente após 1968, com o Ato Institucional número 5, produziu nos movimentos sociais da época o efeito de uma mola: quanto maior a compressão, maior o impulso da reação. Desta forma, o movimento negro e o estudantil, principalmente nos grandes centros urbanos, reagiram tanto com manifestações e reivindicações quanto com a busca de aprofundamento na busca de conhecimentos sobre as questões de seu interesse. Na Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1974, onde posteriormente fez sua pós-graduação, Beatriz liderou a criação do Grupo de Trabalho André Rebouças e, por meio dele, conectava-se com pesquisadores negros e brancos que produziam saberes no país e fora dele. Ao mesmo tempo, compartilhava suas reflexões com os demais por meio de conferências e debates, como os que ocorriam, anualmente, nas Semanas de Estudos sobre a Contribuição do Negro na Formação Social Brasileira. O GT André Rebouças publicou três edições de um caderno que documentam esses eventos.

Só se é capaz de combater com eficácia o que se conhece bem. Era para enfrentar o racismo que Beatriz Nascimento se dedicava tão intensamente aos estudos. Muitos de seus artigos publicados, entrevistas, conferências, explanações e debates, em seminários e entre as militâncias, abordam a correlação entre a corporeidade negra e seus espaços permanentes - como quilombos e outros dedicados à religiosidade de matriz africana - ou transitórios, como os bailes black, os clubes sociais negros e as escolas de samba.

Suas palavras-chave são "transmigração" - sobre os deslocamentos dos africanos e afrodescendentes, ao longo do tempo, por exemplo, da senzala para o quilombo, do campo para a cidade, do Nordeste para o Sudeste - e "transatlanticidade" - decorrente da diáspora africana que recria a cultura negra na relação intercontinental -. Daí a expressão que deu origem ao título da obra do antropólogo Alex Rattz, da Universidade Federal de Goiás, Eu sou Atlântica - sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento, publicada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, em parceria com o Instituto Kuanza, em 2007.

Beatriz também se valeu da arma chamada palavra com a qual construiu poemas que desnudam sua alma de mulher negra. Ela faz parte de uma história de mulheres que combateram frontalmente o sexismo, o machismo e as violências domésticas. Pagou com a própria vida a solidariedade de abrigar, em sua casa, uma amiga, vítima desse tipo de violência. Era 28 de janeiro de 1995. O criminoso era um presidiário beneficiado pelo indulto de Natal, que não retornou à prisão na data determinada. Comenta-se que pertenceria ao esquadrão da morte, raiz das atuais milícias que promovem o genocídio da juventude negra. Que falta nos faz Beatriz Nascimento para enfrentar, de cabeça erguida, mais essa prática racista!


Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Zózimo Bulbul


Ele é um dos ícones negro dos anos 60 por suas interpretações na tevê e no cinema. Na telinha, foi o primeiro protagonista negro de uma novela brasileira, fazendo par romântico com Leila Diniz em Vidas em Conflito. Além disso, foi também o primeiro manequim negro masculino de uma grife de alta costura. Além de todo o pioneirismo que envolve seu nome, Zózimo foi um dos principais atores dos filmes produzidos no movimento do Cinema Novo. Como ator, iniciou a carreira em produções teatrais do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, passando por participações importantes em clássicos do Cinema Novo de diretores como Glauber Rocha, Cacá Diegues e Leon Hirzman. Um dos destaques na carreira cinematográfica foi em Compasso de Espera. Ele fazia par romântico com uma branca rica, interpretada pela atriz Renèe de Vielmond. O personagem era um poeta negro que convivia com problemas existenciais por causa do preconceito do qual era constante vítima. Além de ator, Zózimo já realizou trabalhos como diretor e roteirista. Seu mais famoso filme como diretor, Abolição, marcou o centenário da Abolição da Escravatura no Brasil, descrevendo várias situações enfrentadas pelos afrodescedentes brasileiros até hoje.

' Ele foi pioneiro ao registrar no cinema a temática de seu povo
JOEL ZITO '

Aos 70 anos, Zózimo Bulbul é, infelizmente, mais conhecido no exterior do que dentro de seu país. Em dezembro passado, o cineasta lançou Obras Raras do Cinema Negro na Década de 70. As raridades são cinco obras com a a temática afrodescendente, abordada por diretores negros e não negros. Como ator, não se deixou levar pela vaidade, ao ser eleito, nos idos de 70, “o negro mais bonito no Brasil”. Preferiu se pautar pela coerência e pela valorização do negro na nossa sociedade. Rejeitou tanto o estereótipo da marginalidade, como o do escravo preguiçoso ou do negro bandido. Foi assim no cinema, na tevê e no teatro. Como realizador cinematográfico, não foi diferente. Já com a câmera nas mãos, começou com o emblemático e censurado Alma no Olho, seguido de Aniceto do Império e do longa Abolição. Retomou o olhar de diretor na virada do século fazendo Pequena África, Samba no Trem e República Tiradentes. Seu mais recente trabalho, o média-metragem Zona Carioca do Porto foca a importância da zona portuária na história do Rio de Janeiro, onde a cidade começou a surgir. Com a participação da Cia dos Comuns e recheado de entrevistas e projetos que estão revitalizando a área, o filme mostra a importância do negro na formação do povo carioca. A câmera sobe o Morro da Providência, focaliza imensas áreas onde o abandono é voz comum, visita os barracões das escolas de samba e evoca a ancestralidade e resistência do lugar. Com oito filmes lançados, Bulbul passa a ocupar a posição de cineasta negro que mais realizou. “Ele foi pioneiro ao registrar no cinema a temática de seu povo”, diz o cineasta Joel Zito.


Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Vovô do Ilê


Fundador do primeiro bloco afro da Bahia, o Ilê Aiyê, Antônio Carlos dos Santos, conhecido como Vovô, tem como principal preocupação resgatar e divulgar a cultura negra e lutar pelo combate ao preconceito. Desde a criação do bloco em 1981 dedica-se exclusivamente a sua administração.

Antes, fez cursos técnicos de Patologia Clínica e, depois, de Engenharia Eletromecânica. Entre 1976 e 1981, trabalhou no Polo Petroquímico da Bahia. Hoje, é responsável pelo Projeto de Extensão Pedagógica e pela Escola Profissionalizante do Ilê, que desenvolve ações comunitárias e pedagógicas no bairro da Liberdade, onde está concentrada a maior parte da população negra de Salvador.

Com o Ilê Aiyê teve a oportunidade de conhecer diversos países, levando a cultura afro-baiana para muitos lugares do mundo. Contudo Vovô, apelido que lhe foi dado desde os 9 anos de idade, revela-se um homem simples, batalhador, determinado em suas convicções e bastante apegado às suas origens. A prova está no carnaval onde o bloco se destaca por suas cores, trajes que relembram os ancestrais africanos, contando através das músicas e danças a história de um povo forte, guerreiro.

Filho de Mãe Hilda, Vovô se mostra sempre como um mestre de garra, otimismo e determinação. Em seu discurso, ressalta que é necessária atenção quanto as formas atuais de discriminação. “Antes criticava-se o cabelo de trança, a roupa, a atitude. Hoje os afrodescendentes tem dificuldade de encontrar emprego, porque algumas empresa querem pessoas de “boa aparência”, uma forma branda de preconceito.


Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Ubirajara Fidalgo


Ubirajara Fidalgo da Silva, (São Pedro, Caxias, Maranhão), (22 de Julho de 1949) – Rio de Janeiro, (3 de Julho de 1986), foi um ator, dramaturgo, produtor, empresário, apresentador de TV e diretor de teatro brasileiro.

Foi uma das grandes figuras emblemáticas do Movimento Negro no Brasil nas décadas de 1970 e 1980 e fundador do Teatro Profissional do Negro, o TEPRON, ao lado de sua companheira, Alzira Fidalgo, que aliou a montagem de textos teatrais tradicionais às questões relevantes ao racismo e discriminação no Brasil contemporâneo. Foi pioneiro ao levar aos palcos debates políticos de cunho social com a participação e interatividade do público além de ter sido precursor na inclusão de atores de periferias e favelas em uma cia de teatro profissional, através da promoção de oficinas e workshops profissionalizantes. 

Teatro Profissional do Negro

No ano de 1968 aos 18 anos muda-se para o Rio de Janeiro e no ano de 1970 encena no Teatro Thereza Rachel o espetáculo Otelo de William Shakespeare como diretor e ator principal. Otelo foi a primeira montagem do TEPRON, Teatro Profissional do Negro, cujas encenações posteriores foram os espetáculos "A Boneca da Lapa", a peça infantil Os Gazeteiros, entre outros. A filosofia do TEPRON era a encenação de textos de Fidalgo relacionados às questões políticas e sociais e principalmente à problemática e os conflitos do negro na sociedade brasileira. O TEPRON passa a realizar oficinas de interpretação itinerantes buscando formar uma unidade como grupo pautada na questão social, atuando principalmente com alunos de comunidades carentes e periferias junto com um elenco de atores profissionais. O conceito era profissionalizar pessoas dessas camadas sociais e inseri-las no contexto artístico e político das peças da companhia. No início dos anos 1980, com a primeira montagem do monólogo "Desfulga", Fidalgo amplia ainda mais o leque político de suas encenações ao oferecer, após cada espetáculo, um debate entre ele, ilustres convidados e o público, debates esses que visavam um questionamento mais profundo acerca de assuntos sueridos pelos textos de Fidalgo o que logo chamou a atenção de políticos, artistas, pesquisadores, ativistas sociais e estudantes além de vários grupos do Movimento Negro e de outros grupos minoritários. O racísmo, o preconceito, a homofobia, a misoginia,a desigualde social e a então ditadura militar eram assuntos amplamente abordados nos debates pós-peça que percorreu teatros e ocupações da cidade. Com o TEPRON Fidalgo chegou a encenar ao mesmo tempo três peças, ("Desfulga", "Fala Pra Eles Elisabete" e a infantil "Os Gazeteiros") que ficaram três anos em cartaz.

Militância: 1975 – 1982

Em 1975, Ubirajara Fidalgo, junto com outros, é um dos principais articuladores da fundação, no Rio de Janeiro, do Instituto de Pesquisa e Cultura Negra (IPCN), organização de relevância no quadro do movimento social negro e cuja manutenção devia-se à contribuição de centenas de sócios. Uma das poucas entidades do gênero a ter sede própria, passou a enfrentar problemas financeiros no fim dos anos 1980, tendo de fechar as portas subsequentemente. Posteriormente ao lado do professor, jornalista e pesquisador das raízes históricas brasileiras, Joel Rufino dos Santos, se engaja na criação da ACAAN (Associação Cultural de Apoio as Artes Negras).

Última encenação

Seu último trabalho em vida foi no ano de 1985 com a encenação da peça "Tuti", no Teatro Calouste Gulbenkian, hoje Centro de Artes Calouste Gulbenkian. A peça ficou um ano em cartaz e Fidalgo assumiu as funções de diretor e coprodutor. A peça foi reencenada 13 anos mais tarde no Teatro Sesc Copacabana com os atores Déo Garcez,Jorge Maya, Jalusa Barcellos e Carla Costa e direção de Cyrano Rosalém, tendo sido um dos primeiros projetos culturais a percorrer o circuito das Lonas Culturais no estado do Rio de Janeiro.

Filosofia do Tepron

A filosofia do T.E.P.R.O.N era a encenação de textos relacionados às questões políticas e sociais e principalmente à problemática e os conflitos do negro na sociedade brasileira. O TEPRON foi a primeira companhia teatral afro-brasileira do Rio de Janeiro e a segunda do Brasil, depois do Teatro Experimental do Negro (TEN) fundada por Abdias do Nascimento.

Morte

Ubirajara Fidalgo faleceu aos 37 anos na manhã do dia 3 de julho, no hospital São Lucas, no Rio de Janeiro, poucos meses após ter recebido um transplante de rins. Vitima de um acidente de carro da infância Fidalgo sofria desde então de insuficiência renal.

Peças de Teatro
1975 - A Boneca da Lapa
1977 - A Superexcitação
1979 - Desfulga
1982 - Os Gazeteiros
1983 - Fala Pra Eles Elisabete
1985 - Tuti
1986 - Bambi's Son