Ele
é um dos ícones negro dos anos 60 por suas interpretações na tevê e no cinema.
Na telinha, foi o primeiro protagonista negro de uma novela brasileira, fazendo
par romântico com Leila Diniz em Vidas em Conflito. Além disso, foi também o
primeiro manequim negro masculino de uma grife de alta costura. Além de todo o
pioneirismo que envolve seu nome, Zózimo foi um dos principais atores dos
filmes produzidos no movimento do Cinema Novo. Como ator, iniciou a carreira em
produções teatrais do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, passando por
participações importantes em clássicos do Cinema Novo de diretores como Glauber
Rocha, Cacá Diegues e Leon Hirzman. Um dos destaques na carreira
cinematográfica foi em Compasso de Espera. Ele fazia par romântico com uma
branca rica, interpretada pela atriz Renèe de Vielmond. O personagem era um
poeta negro que convivia com problemas existenciais por causa do preconceito do
qual era constante vítima. Além de ator, Zózimo já realizou trabalhos como
diretor e roteirista. Seu mais famoso filme como diretor, Abolição, marcou o
centenário da Abolição da Escravatura no
Brasil, descrevendo várias situações enfrentadas pelos afrodescedentes
brasileiros até hoje.
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Ele foi pioneiro ao registrar no cinema
a temática de seu povo
JOEL ZITO
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Aos
70 anos, Zózimo Bulbul é, infelizmente, mais conhecido no exterior do que
dentro de seu país. Em dezembro passado, o cineasta lançou Obras Raras do
Cinema Negro na Década de 70. As raridades são cinco obras com a a temática
afrodescendente, abordada por diretores negros e não negros. Como ator, não se
deixou levar pela vaidade, ao ser eleito, nos idos de 70, “o negro mais bonito
no Brasil”. Preferiu se pautar pela coerência e pela valorização do negro na
nossa sociedade. Rejeitou tanto o estereótipo da marginalidade, como o do
escravo preguiçoso ou do negro bandido. Foi assim no cinema, na tevê e no
teatro. Como realizador cinematográfico, não foi diferente. Já com a câmera nas
mãos, começou com o emblemático e censurado Alma no Olho, seguido de Aniceto do
Império e do longa Abolição. Retomou o olhar de diretor na virada do século
fazendo Pequena África, Samba no Trem e República Tiradentes. Seu mais recente
trabalho, o média-metragem Zona Carioca do Porto foca a importância da zona
portuária na história do Rio de Janeiro, onde a cidade começou a surgir. Com a
participação da Cia dos Comuns e recheado de entrevistas e projetos que estão
revitalizando a área, o filme mostra a importância do negro na formação do povo
carioca. A câmera sobe o Morro da Providência, focaliza imensas áreas onde o
abandono é voz comum, visita os barracões das escolas de samba e evoca a
ancestralidade e resistência do lugar. Com oito filmes lançados, Bulbul passa a
ocupar a posição de cineasta negro que mais realizou. “Ele foi pioneiro ao registrar no cinema a temática de seu povo”,
diz o cineasta Joel Zito.