O
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) chega aos 80
anos e tem conseguido se atualizar diante dos debates sobre preservação de bens
materiais e imateriais. É o que avalia Humberto Cunha, advogado especialista em
direito cultural e autor do livro Proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro
Por Meio de Tombamento. “O Iphan tem
compreendido as mudanças sociais e jurídicas no País”, pontua. No dia em
que o órgão celebra oito décadas com programação pela Capital, O POVO reúne
especialistas para discutir como o Iphan tem se renovado.
Humberto
aponta que houve “uma grande mudança conceitual” dentro do instituto desde sua
criação em 1938. “O sistema de proteção
que foi instituído por Getúlio Vargas durante o Estado Novo tinha uma ideia
unificadora de identidade nacional. Em 1988, com a Constituição, tivemos uma
grande guinada. Saímos de um estado autoritário, centrando da ideia de
identidade, para um estado de pluralidade”, aponta, destacando que a noção
de patrimônio se tornou mais democrática.
O
perfil mais plural do órgão, que é uma autarquia vinculada ao Ministério da
Cultura (Minc), abriu ainda mais espaços para valorização de outros bens, indo
além de prédios históricos. Nesse contexto, o patrimônio imaterial ganhou
também protagonismo. De 1997, quando aconteceu o Seminário Internacional
Patrimônio Imaterial e efetivamente começou a se proteger essas manifestações
de saberes e ofícios, para cá, 38 bens imateriais foram registrados no País.
Aqui no Ceará são quatro: a Festa do Pau de Santo Antônio de Barbalha, a Roda
de Capoeira, Ofício dos Mestres de Capoeira e Teatro de Bonecos.
“O que hoje é considerado patrimônio
cultural, há 20 anos, talvez não fosse. Esse debate não cessa”, destaca o
arquiteto Romeu Duarte, que atuou como superintendente do instituto no Ceará
entre 1998 e 2008. “O Iphan completa 80
anos sendo respeitado no mundo inteiro”, celebra, pontuando, porém, o baixo
orçamento e o quadro de funcionários aquém do necessário, problemas que
historicamente acompanham a autarquia. De acordo com a Lei Orçamentária Anual
(LOA), o montante previsto para o Instituto em 2017 é de R$ 18 milhões para
todo o País, valor que é somado a R$ 250 milhões previstos para serem
investidos pelo PAC Cidades Históricas, programa do Governo Federal.
“A ideia do que é monumento mudou. Agora
inclui todas as manifestações culturais que falam a todas as etnias, não se
exclui mais os bens ecléticos na busca por afirmar uma nacionalidade única”,
reflete Geovana Cartaxo, superintendente do Iphan no Ceará. A gestora, porém,
reconhece que aqui no Estado existem muitos bens que precisam ser registrados.
“As procissões de Juazeiro do Norte e
Canindé, Os barcos bastardos de Camocim, a renda”, enumera. Ela, porém,
afirma que o processo de registro desses bens é mais lento. “É bem mais democratizado e mais dialogado do
que tombamento. Depende de mobilização dos detentores desses saberes. É um
processo longo, envolve pesquisas mais aprofundadas”, justifica.
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Festa do Pau de Santo Antônio de Barbalha, reconhecida como patrimônio imaterial pelo Iphan em 2015. Foto: Fernando Jorge. |