Da abolição ao mito da ‘democracia racial’, clássico de Clóvis Moura retrata a relação da luta antirracista com a luta de classes

O negro: de bom escravo a mau cidadão? foi escrito por Clóvis Moura em 1977 . (FOTO/ Divulgação e Reprodução/Vermeho.org.)

Há 70 anos, Clóvis Moura (1925 – 2003) escrevia sobre questões que estão em pauta na atualidade. Nascido em Amarante, no Piauí, se tornou historiador, sociólogo, poeta, jornalista e, sobretudo, um grande intelectual de seu tempo. Envolvido na teoria de Marx, aprofundou-se nos estudos ligados à raça e às classes sociais nos tempos pós-abolição e deixou um notável legado ao movimento negro e a história do Brasil.

Uma parte deste material está no livro O Negro: De Bom Escravo a Mau Cidadão? (1977), reeditado este ano pela Dandara Editora, e tema de um curso promovido após o lançamento em agosto. Algumas vagas foram sorteadas entre os membros do Tamo Junto, programa de apoio à Ponte.

A obra é uma continuação do trabalho teórico do sociólogo em Rebeliões da Senzala: Quilombos, Insurreições, Guerrilhas (1959) e destrincha a situação da população negra na transição entre a Monarquia e a República brasileira e de que forma a estrutura racista da escravidão se perpetuou social e economicamente no país. Para contar esta história a partir de uma nova perspectiva, o autor divide seus estudos em três partes: da escravidão à marginalização, as lutas dos negos por emancipação na América Latina e a população negra como um grupo diferenciado de uma sociedade competitiva.

Clóvis Moura expõe as contradições do período pós-abolição, a partir de 1888, ao relatar em muitos dados estatísticos e pesquisas a condição desumana e de exploração na qual negros e negras se encontravam mesmo libertos, incluindo a falta de cidadania, auxílio e inclusão na sociedade, problemas que até hoje se refletem na marginalização dessa população. Com esta combinação, o desenvolvimento do Brasil, segundo o sociólogo, se apoiou em uma estrutura racista.

O autor também faz uma provocação no título da obra e indica que a história política e social, contada por brancos, reforçou um estereótipo racista sobre pessoas pretas, apagando suas lutas por resistência e por mobilidade social. Diante da repressão às culturas e religiões afrodescendentes, movimentos aconteceram em toda a América Latina e influenciaram no processo de independência das nações.

Todas estas reflexões propostas por Moura são objetos de estudo de pesquisadores como Gabriel Rocha, graduado em História, mestre em História Social e doutorando em História Econômica pela USP. Ele escreve o prefácio da nova edição do livro apontando a relevância dos estudos do sociólogo dentro e fora da academia, repertório ainda pouco conhecido por grande parte dos brasileiros.

Em entrevista à Ponte, Gabriel diz que só teve um contato maior com a obra quando tornou-se pesquisador, pois algumas publicações de Clóvis Moura só contaram com apenas uma edição. Ele também destaca os principais pontos da contribuição que o sociólogo deixou em seus 78 anos de vida.

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Com informações da Ponte Jornalismo. Leia a entrevista completa aqui.

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