Gilvania Silva é professora da UnB e teve um projeto selecionado sobre políticas públicas quilombolas no edital Itaú Social e do Ceert. (FOTO/ Arquivo Pessoal). |
Quinze pesquisas aplicadas junto a escolas e/ou organizações da sociedade civil irão buscar soluções para a redução das desigualdades étnico-raciais na educação básica brasileira. Os projetos foram selecionados por meio de edital e receberão investimento total de R$ 3 milhões para o desenvolvimento.
A
iniciativa é do Itaú Social com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e
Desigualdades (Ceert) e parceria do Instituto Unibanco, da Fundação Tide
Setubal e do Fundo das Nações Unidas para a Infância.
Quatro
projetos são voltados para a educação infantil, quatro para anos iniciais do
ensino fundamental, quatro para anos finais e três para ensino médio. Alguns
dos temas desenvolvidos são educação quilombola, processos de formação docente
e lideranças territoriais, e práticas pedagógicas para o ensino de relações
étnico-raciais.
Cada
pesquisa receberá investimento de R$ 150 mil cada, além de uma bolsa no valor
de R$ 3 mil por mês para o pesquisador durante o período de desenvolvimento.
Pesquisa busca consolidar dados da
educação quilombola
No
Distrito Federal, o projeto “Quilombos e educação: políticas públicas e
práticas pedagógicas”, de autoria da professora substituta da
Universidade de Brasília (UnB) Givania Silva, foi um dos contemplados com o
investimento.
Givania é quilombola e escolheu a docência por acreditar que ser professora é uma “ferramenta para participar da luta antirracista e da defesa dos direitos quilombolas”. Ela faz parte do coletivo de educação da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
O
projeto visa trazer para a sociedade, em uma linguagem simples, o que diz as
diretrizes curriculares para a educação quilombola, a fim de que, após a
análise, ocorram ações por parte da sociedade.
A pesquisa
está em fase de levantamento de dados e, para o ano que vem, Givania afirma que
ela e equipe esperam que as condições da pandemia estejam melhores para que
seja feita uma pesquisa de campo. O objetivo é ir até duas escolas quilombolas
e ver como a educação nesses territórios se relacionam com políticas públicas e
com as lutas raciais.
O
resultado do projeto será publicado ao fim do processo, de forma completa e
simplificada, para que seja uma ferramenta utilizada pelos professores em sala
de aula e pelo governo ou entidades responsáveis por políticas públicas.
Para
a professora Givania, os projetos científicos são ferramentas que permitem
avançar no campo e fazer com que a temática seja mais discutida nas escolas. “Um dos principais desafios da educação
quilombola é lidar com o racismo estrutural que não reconhece os espaços e
territórios dos quilombos, e isso reflete no nosso pensamento educacional”,
conta a professora.
Educação só é de qualidade se for
igualitária
O processo selecionou ainda nove artigos científicos sobre o tema, três em cada modalidade: doutorado, mestrado e graduação. O primeiro e segundo colocados receberão reconhecimento financeiro (de R$ 3 mil a R$ 8 mil) e o terceiro colocado, menção honrosa.
Práticas
pedagógicas antirracistas, feminismo negro, representatividade na literatura
infantil e reprodução de racismo nas escolas estão entre os temas dos artigos
vencedores.
Segundo
a especialista da área de pesquisa e desenvolvimento do Itaú Social, Esmeralda
Correa Macana, 39 anos, a educação é um direito fundamental para o pleno
desenvolvimento de toda criança, jovem e adolescente e só será de qualidade
quando valer para todos esses atore, independentemente da raça.
Esmeralda Macana é especialista de pesquisa e desenvolvimento do Itaú Social e acredita que os projetos vão valorizar a equidade na educação. (FOTO/ Patrícia Stavis). |
“A educação de qualidade não é só desempenho
acadêmico, é aquela que se concretiza com equidade”, pontua a economista.
“Nós acreditamos que essas pesquisas vão ser um fruto muito importante.”
Para
a diretora executiva do Ceert, Cida Bento, os projetos ajudam a fortalecer o
coletivo de pesquisadores dedicados aos temas raciais, bem como reduzir o
racismo dentro das escolas. “Isso (o
racismo) interfere nas competências afetivo-emocionais do aprendizado. Os
índices de desempenho e evasão são sempre piores para crianças e adolescentes
negros”, afirma.Cida Bento espera que as
pesquisas fomentem políticas
públicas efetivas e que todas
as crianças, brancas e negras,
aprendam a história do país.
(FOTO/ Divulgação/ Ceert).
Impactos esperados
O
Edital Equidade Racial na Educação Básica recebeu 863 inscrições de todo o
país. Após a divulgação dos selecionados, ocorreu a primeira oficina de
trabalho, a apresentação dos projetos e artigos selecionados e a assinatura do
termo de outorga. As pesquisas deverão ser desenvolvidas em 18 meses.
As cinco instituições parceiras formaram uma estrutura de governança, a fim de garantir a transparência em todo o processo, com o apoio de um conselho consultivo constituído por especialistas da temática racial, educação básica, assim como fomento e organização de editais de pesquisa.
Cida
Bento acredita no potencial desses projetos para que no futuro sejam pensadas
políticas públicas na área da educação que sejam mais efetivas. “Esperamos que as pesquisas ajudem o Brasil a
compreender como estão os seus gargalos na área de educação, não só sobre os
negros, mas a educação como um todo”, reflete a doutora em psicologia
social.
Para
conferir a lista completa dos selecionados, acesse o site do edital.
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Com informações do Correio Braziliense.
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