![]() |
Darleno Avelino. (FOTO/ Acervo Pessoal/ Maria Rosalina). |
Nas eleições municipais de 2020, cerca de 500 nomes de quilombolas estão à disposição dos eleitores de todo o Brasil, segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais e Quilombolas (Conaq). O número representa um aumento de 40% em relação ao pleito de 2016.
De
acordo com o coordenador executivo da organização, Antônio Crioulo, que tem
acompanhado as candidaturas, o aumento expressivo se deve a um processo de
resistência e sensibilização das lideranças territoriais.
Apesar
de comemorar o crescimento, a entidade contabiliza que só cerca 350 estão, de
fato, comprometidas com pautas coletivas. “Boa parte dos candidatos são fruto
de uma vontade política municipal, não passa pela discussão comunitária.
Infelizmente, o processo político é cruel e muitas pessoas votam em troca de
pequenos favores e ações imediatistas. Um exemplo disso é que há quem não
consiga visualizar o que foi construído e a dedicação do movimento no
fortalecimento de política habitacional, de acesso ao recursos hídricos e
fortalecimento do território. Mas também, não temos interesse e nem estrutura
política para partir para esse tipo de atuação política”, pontua o coordenador
executivo.
Para ele, o aumento nos registros de candidaturas ocorre principalmente em função do contexto de perda de direitos e ataques que as comunidades remanescentes de quilombos vêm sofrendo. “Entendemos que neste momento de tanto ataque, o povo começou a despertar para se colocar à disposição e disputar não só voto, mas o espaço político de controle social, de elaboração de política pública. Entendemos que isso é um grande ganho para as comunidades quilombolas”, considera Crioulo.
“A política é o único meio possível de mudar a vida das pessoas”
![]() |
Rosalina Piaui. (FOTO/ Acervo Pessoal/ Maria Rosalina). |
“Considerando que somos nós, contribuintes,
que fazemos a máquina girar. Para isso, é necessário está nos espaços de
decisões. Ganhei a eleição e fui eleito presidente da Câmara, fiz projetos e
emendas orçamentárias que mudaram um pouco o peso da legalidade contra os mais
fracos”, complementa Avelino.
Natural
da comunidade quilombola Lajinha, 280 quilômetros distante da capital Palmas,
Darleno foi um dos nove filhos de um trabalhador rural. Cursou até a 4ª série
na comunidade, depois seguiu para capital com o objetivo de terminar o ensino
fundamental e médio.
Ele
lembra que durante anos só teve duas calças para vestir e que apesar de todas
as dificuldades o foco sempre foi no estudo. Em 2009, terminou a primeira
graduação e atualmente, é estudante de Direito. Neste ano, ele é o primeiro
candidato a prefeito quilombola da cidade. “É um grande desafio ser negro e pobre
disputando uma eleição contra o poder econômico e se manter no processo
eleitoral, uma vez que as pessoas mais pobres sequer têm poder de mobilidade.
Mas busquei em Deus fé e sabedoria. Reuni apoiadores e conseguimos fechar a
chapa”, analisa.
“Não basta só votar, é preciso
participar”
Quilombola
de Tapuio, na cidade de Queimada Nova, 522 km distante da capital do Piaui,
Maria Rosalina já foi candidata à prefeita e agora lançou o nome pelo Partido
dos Trabalhadores para vereadora.
“Em 2004, concorri a prefeita. Não fui
eleita. Há uma cultura, principalmente em municípios pequenos de as eleições
serem leiloadas, então leva quem tem mais dinheiro. Por essa razão o eleitorado
acaba se deixando levar pelo ‘toma lá e da cá’. Mas foi uma experiência muito boa
porque pude perceber a importância de se fazer um trabalho de formação política
para que em longo prazo o eleitorado comece a descobrir o significado do voto.
Comecei a fazer isso com as comunidades do meu município. O resultado disso foi
que em 2008, concorri como vereadora e fui eleita” relata a candidata à
vereadora.
Ela
destaca que um dos pontos positivos das experiências como candidata pode ser
visto agora, com o aumento de candidaturas quilombolas. “As comunidades hoje já têm a visão de que não basta só votar, é preciso
participar. Na medida que você participa, você conhece e aí você cobra
realmente o comprometimento de cada um que está na câmara dizendo representar a
população”, ressalta.
“Outra coisa que me ajudou no mandato de
vereadora foi perceber que poderia contribuir não só com o meu município, mas
motivar outras lideranças quilombolas a concorrerem para que tenhamos a nossa
legitima representação nesses espaços. Que bom que essa iniciativa não ficou só
para mim, mas pude multiplicar com outras pessoas de outros quilombos do Brasil”,
comemora Rosalina.
____________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!