Primeiras homenagens com "Comenda João Zuba" são aprovadas na Câmara de Altaneira. (FOTO/ Reprodução/ Perfil da Câmara no Facebook). |
Por Nicolau Neto, editor-chefe
A Câmara de Altaneira aprovou na manhã desta quarta-feira, 11, durante sessão virtual, quatro projetos de decretos legislativos que homenageiam personalidades do município com a “Comenda João Zuba.”
A
condecoração é dada a pessoas físicas que tenham prestado ou prestem
importantes serviços em prol do desenvolvimento da cultura popular do município
e de acordo com o projeto de lei nº 003 que cria a “Comenda João Zuba” aprovado
ano passado, a indicação é de iniciativa do legislativo devendo vir amparada de
justificativa e documentos comprobatórios do mérito do ou da possível
agraciado/a.
A
mestre da cultura popular Dona Angelita, Luiz Manoel, um dos idealizadores da
Banda Cabaçal, a integrante da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe,
Socorro Lino e o ex-secretário municipal de Cultura, Ivanildo Cidrão, foram as
personalidades escolhidas para receberem a comenda.
Três
dos quatro projetos de decretos legislativos foram de autoria conjunta (as
vereadoras Silvânia Andrade e Zuleide Oliveira, do PT) e o que homenageia
Ivanildo Cidrão foi de iniciativa do vereador e presidente da Câmara Adeilton
Silva (PSD).
A
entrega da medalha será feita pelo Poder Legislativo, em evento aberto ao
público, a ser realizado, preferencialmente, no dia 05 de junho de cada ano
(data de nascimento de João Zuba), após divulgação no sítio eletrônico da casa
e nos demais veículos de comunicação, conforme preceitua o Art. 5º do PL.
O idealizador
da “Comenda João Zuba” (Clique aqui e saiba mais), o professor, editor-chefe do Blog Negro Nicolau,
integrante da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe e ativista dos
direitos civis e humanos das populações negras, Nicolau Neto, destaca que essa
ação visa contribuir para manter viva a memória e a história de um dos maiores
símbolos da cultura popular de Altaneira, o mestre da Banda Cabaçal João Zuba,
além de poder homenagear em vida todos aqueles e todas aquelas que de alguma
forma por meio de seus saberes e fazeres continuam realizando cultura. É ao
mesmo tempo uma das maneiras de reconhecermos a importância que a cultura tem
no crescimento e desenvolvimento de um povo.
Conheça duas das quatro pessoas homenageadas
Luiz Manoel (Seu Luiz)
Luiz
Manoel de Almeida é como tantos altaneirenses um homem que vive da agricultura.
Residente no conjunto populares é difícil encontra-lo em casa em dias de semana
e em poucas vezes que isso é possível ele está praticando outra atividade que
tão bem lhe marca e pela qual as pessoas mais lhe procuram – consertar bicicletas.
Luiz Manoel (esq.) e João Zuba, idealizadores da Banda Cabaçal. (FOTO/ João Alves). |
Nascido
em 1946 (74 anos), “seu Luiz”, nome pelo qual é conhecido, exerce com maestria
o trabalho de mecânico de bicicletas em um local ao lado de sua casa,
principalmente o enraimento de rodas.
Outras
artes que seu Luiz domina bem é tocar pífano e zabumba. Companheiro de João
Zuba, foi, ao lado desde, responsável por uma das bandas cabaçais de Altaneira.
Na banda, ele era responsável por tocar no intervalo de terça, por fazer o
arranjo.
Uma
de suas últimas aparições foi em 2012 durante a conferência municipal de
cultura. Naquela oportunidade, do som dos pífanos saiu o Hino de Altaneira. Seu
Luiz teve a companhia de seu fiel companheiro e que o ajudou a idealizar a
Banda Cabaçal, João Zuba.
A
partida de João Zuba chegou a impactar o município vizinho de Assaré que por
tanto tempo foi utilizado como um dos locais para a apresentação do grupo. Luiz
Manoel conta que depois de falecimento do mestre o grupo parou de tocar. Ele
ainda tem em sua residência os instrumentos pífano e zabumba e chegou a
apresenta-lo para seus familiares que já ousam a tirar algumas notas, mas não o
suficiente para dar continuidade a banda. Luiz afirma que seu sonho é gravar um
DVD relatando os feitos da banda cabaçal.
Dona Angelita
Maria
Isabel, 77 anos, é uma mulher altaneirense que carrega os traços de seus
ancestrais indígenas. A fisionomia não nega e ela também não. Basta entregar um
conjunto de artefatos e ela logo decifra de onde vieram e como eram usados.
Dona Angelita. (FOTO/ Heloisa Bitu). |
Filha
de Maria Glória da Conceição, a parteira Mãe Gulora, e José Serafim, poucas são
as pessoas que a conhecem pelo nome de batismo. Em Altaneira ela é Dona
Angelita, a mulher que reza. Muitos a procuram para “curar algum tipo de
doença”. O historiador e servidor público do município Aldemir Ribeiro garante
que foi curado por ela. “Eu estava com dores nas costas e mal conseguia andar.
Algumas pessoas recomendaram Dona Angelita. A procurei e ela rezou e fiquei sem
dores”, disse ele durante o I Seminário Público do município com a temática
“Que Patrimônio Queremos Preservar?” realizado no dia 27 de setembro de 2019 no auditório da
Escola de Tempo Integral 18 de Dezembro.
Ela
reza de tudo, disse Dona Neusa, 71 anos, amiga e companheira do grupo dos
idosos. “Ela canta músicas para Padre Cícero que corta o coração, completa”. O
dom da música revela outra face de Angelita. Desde 2014 ela coordena o Grupo de
São Gonçalo que emergiu durante a Mostra Sesc Cariri de Culturas, em Crato, por
meio do ponto de Cultura Projeto Arca. Ela dança, canta, monta a coreografia em
roda e ensina os passos aos dezesseis integrantes do grupo que é mesclado, com
adultos e jovens. Destes, doze são mulheres.
A
mestra do São Gonçalo contou em uma entrevista em 2015 que o grupo tem boa
receptividade por onde passa, embora não tenha um calendário definido para a
realização da manifestação. A dança hoje é organizada em pagamento de promessa
devida a São Gonçalo. O promesseiro ou a promesseira é quem organiza a função,
administrando todo o processo necessário à realização deste ritual. É realizada
dentro de casa ou em local coberto, onde se arma um altar com a imagem deste
santo e outros de devoção do/a promesseiro/a. Em frente a este altar é que se
desenvolve toda a dança.
Além de rezadeira e mestra da dança São Gonçalo, ela também está a frente da dança do côco, dança do maneiro pau, reisado e arrisca na poesia. Duas delas sempre estão presentes nos eventos realizados no município, seja relativo aos encontros do grupo dos idosos ou a programações de cunho educacional e cultural.
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