Altaneirenses discutem literatura de Carolina Maria de Jesus e Manoel de Barros durante Sarau Literário on-line


(FOTO/ Reprodução/ Instagram/ Montagem/ Nicolau Neto).

Texto: Nicolau Neto

A feminista, pesquisadora e assistente social, Ana Teresa Duarte, promoveu na tarde deste sábado, 27, um sarau literário via live.

A conversação ocorreu no seu perfil no Instagram (@anateresaduarte) e envolveu mais dois conterrâneos – o professor, ativista das causas negras, integrante da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe-CE, blogueiro e colunista do site Intelectual Orgânico, Nicolau Neto; e a professora, cientista social, antropóloga e colunista do Blog Negro Nicolau, Josyanne Gomes.

Segundo Ana Teresa, a proposta era “conversar sobre o que a gente tem lido, o que mais gostamos de ler, além de propor indicação de leituras”. O sarau foi realizado de forma descontraída, onde cada um/a compartilhou experiências literárias e os convívios sociais.

O Sarau Literário

Indagado incialmente sobre como se deu contato com a literatura, Nicolau destacou que sempre gostou de ler, mas que o prazer pelos livros foi ampliado no ensino médio a partir das obras de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, “Tronco do Ipê” e “Senhora”, ambas de José de Alencar e lembrou a importância da professora de literatura de Ensino Médio na Escola Santa Tereza, Eveuma Oliveira.

Ana Tereza frisou que estudou junto com Nicolau Neto durante os três anos de ensino médio em Altaneira e relembrou que sempre gostaram de História. “Nicolau e eu participávamos muito de seminário”, disse ela, ao rememorar a importância das figuras do professor Fabrício Ferraz e Macia Davi (História, Filosofia e Sociologia). “Tempos bons”, compartilhou Nicolau. “Nostalgia”, arrematou Teresa.

Dentro desse contexto, Teresa perguntou quais livros Nicolau tem mais apreço e que “todos deveriam ler”. “Eu sempre costumo recomendar livros que fogem a essa literatura estereotipada que a gente ver nas escolas e até nas universidades. Recomendo uma literatura africana e afro-brasileira. Cito a Conceição Evaristo, Lima Barreto, Cruz e Sousa e a própria Carolina Maria de Jesus, alvo de nossa conversa”, pontou Nicolau.

Nicolau Neto apresentou a escritora Carolina Maria de Jesus, suas vivências e suas escritas. A proposta, ainda segundo Teresa, era que cada uma lesse trechos de obras da escritora ou do escritor escolhido e dialogasse com o presente. Dentre vários trechos escolhidos por Nicolau a partir do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, estão aquelas que mais deixaram evidentes suas criticas e suas denúncias a realidade, principalmente o racismo e a miséria, como por exemplo:

Antigamente o que oprimia o homem era a palavra calvário; hoje é salário”; “O maior espetáculo do pobre da atualidade é comer”; “A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago”;

Nicolau também destacou parte da escrita de Carolina em que ela dialoga com sua condição de poetisa e escritora negra. “Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade” e por fim, leu um trecho que demonstra bem o quanto nossa sociedade ainda é calcada pelo viés racista e machista:

Não digam que fui rebotalho,

que vivi à margem da vida.

Digam que eu procurava trabalho,

mas fui sempre preterida.

Digam ao povo brasileiro

que meu sonho era ser escritora,

mas eu não tinha dinheiro

para pagar uma editora”.

Josyanne Gomes trouxe para o Sarau o poeta Manoel de Barros. Assim como seu antecessor, Josyanne destacou que os primeiros passos na leitura veio com os gibis, mas que foi aprofundado realmente no ensino médio, com destaque para os livros já mencionados por Nicolau e lembrou de outros como “Cartomante” e “Dom Casmurro”, ambas de Machado de Assis.

Em que pese a proposta do sarau, Josyanne apresentou seu poeta, suas vivência e leu alguns de seus poemas mais conhecidos e que de certa forma desvela a realidade, com destaque para este:

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.

Meu fado é o de não saber quase tudo.

Sobre o nada eu tenho profundidades.

Não tenho conexões com a realidade.

Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.

Para mim poderoso é aquele que descobre as

insignificâncias (do mundo e as nossas).

Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.

Fiquei emocionado e chorei.

Sou fraco para elogios”.

Para Josyanne, é nesse embate que temos que nos situar. Precisamos reconhecer somos incompletos e, portanto, reconhecer também que somos ignorantes. Só assim para caminharmos para a construção e uma sociedade melhor para se viver.

Ela ainda contou um pouco da sua dissertação de mestrado ao ser incitada por Teresa. Com a temática "Acordos e colisões: família, sexualidade e lesbianidade”, o texto destaca as experiências e situações vivenciadas por mulheres que se autodenominam como lésbicas, no estado do Rio Grande do Norte e teve o objetivo de compreender como a (homo) sexualidade feminina, passa por um jogo entre ocultar e revelar suas identidades lésbicas de acordo com a dinâmica que estão envolvidas.

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