Para
Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor
no Insper, discutir meritocracia em um país tão desigual em oportunidades como
o Brasil não faz sentido. “Sem resolver a
desigualdade de oportunidades, ficar falando em meritocracia é piada. Como
discutir o mérito de quem chegou em primeiro lugar em uma corrida onde as
pessoas saíram em tempos diferentes e a distâncias diferentes?”, questiona
Paes de Barros, um dos principais especialistas em desigualdade social.
“Não faz nenhum sentido discutir o mérito em
uma regata na qual os barcos não são iguais, ou em uma corrida de Fórmula 1 em
que não se está sujeito ao mesmo regulamento.” Para ele, o
país já avançou ao reduzir a discriminação, que ocorria até nas escolas, contra
alunos menos favorecidos.
“No passado havia ações, tradições e
procedimentos que reforçavam a desigualdade que vinha da família. Porque uma
coisa é eu pegar uma criança de família desestruturada e não conseguir ensinar.
Outra coisa é dizer: não vou nem ensinar esse aí, porque não aprende mesmo. O
professor ia para escola em um bairro pobre e nem se esforçava muito em
ensinar. Era discriminação”, afirma Paes de Barros, que acredita que o que
falta agora é discriminar os alunos positivamente, dedicando a eles toda a
atenção extra necessária.
Hoje,
diz, a sociedade considera natural a existência de “educação de pobre e educação de rico”. Essa postura precisa ser
combatida. “Você está naturalizando o
fato de que uma criança pobre pode aprender menos, e uma criança rica tem que
aprender mais. É o conformismo, o naturalismo”, afirma.
“Temos que sair de ações que discriminavam
negativamente, não para ser neutro, mas para discriminar positivamente”, diz
Paes de Barros. “A escola tem que ser um lugar onde a gente reduz desigualdade
e trata de maneira diferente pessoas que precisam mais. Pegar os que entram em
desvantagem e tentar eliminar essa desvantagem, porque o objetivo final da
escola não é lavar as mãos e deixar que a desigualdade seja reproduzida. O objetivo
da escola é eliminar essa desigualdade inicial e fazer com que todo mundo saia
igual, e aí sim ser meritocrático”, explica.
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