Todo
o processo que culminou com a votação na Câmara dos Deputados no domingo (17),
admitindo o prosseguimento do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff,
mostrou que "as instituições estão
desmanteladas", segundo o sociólogo Laymert Garcia dos Santos,
professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Com as instituições do jeito em que estão, o
STF incluído, acho que a única força que existe, para de certo modo dar um rumo
que não seja o rumo do horror, são as ruas. Não tem outra. O ponto de
interrogação é saber em que medida as ruas vão responder e se dar conta desse
desmantelamento das instituições", afirma.
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"Não há o que esperar das instituições, não tem mais estado de direito", diz sociólogo da Unicamp. |
Para
ele, a sucessão de fatos que levaram o país ao dia 17 de abril de 2016 deve ser
analisada sob três aspectos. "A
primeira coisa é a consolidação, através desse espetáculo, de uma classe
política lúmpen. Não é à toa que na Europa, nos países, digamos, democráticos,
que não são nenhuma maravilha, eles estão entre horrorizados e estupefatos com
o nível de baixaria que é o Parlamento brasileiro."
O
segundo aspecto, segundo ele, é ainda pior, pois diz respeito a uma regressão
que o lado progressista da sociedade, principalmente quem viveu o período
sombrio da ditadura, não esperava que pudesse retornar. "O que vimos ontem concretiza e sela a
vitória da regressão. Mesmo que se consiga uma saída mais ou menos daqui para a
frente, acho difícil a gente conseguir no curto prazo contornar ou conseguir
esvaziar uma regressão como essa que aconteceu", avalia. "A gente voltou para a casa-grande e a
senzala no que ambas têm de pior. A gente pensava que estava se afastando
disso, aos poucos, e que a chamada herança maldita tinha ficado para trás, mas
ela está atual. Esse segundo aspecto é terrível."
O
terceiro aspecto se refere a algo relacionado à experiência subjetiva da
história, que não poderia ser experimentada por quem não viveu o período do
regime ditatorial no país. "Por
causa da idade, fiquei com uma sensação que eu já tinha tido na vida: a
sensação do dia seguinte à promulgação do AI-5, em dezembro de 1968. Do ponto
de vista do impacto afetivo e subjetivo, a sensação é a mesma. O AI-5, e não
1964, foi o momento em que a ditadura efetivamente se concretizou enquanto tal,
porque foi quando ela apareceu com toda a sua violência, quando o corte foi
operado do ponto de vista subjetivo."
Para
Laymert, as novas gerações "não têm
experiência do desmoronamento subjetivo da geração que viu seu futuro
absolutamente comprometido com a chegada da ditadura, e a sensação diante do
que a gente vê nas forças que estão vencendo é essa".
A
evolução dos acontecimentos é "chocante",
diz, também pela cumplicidade dos poderes em torno da construção do cenário e a
culminância do processo na Câmara. "Depois
do que a gente foi vendo nos últimos tempos, até chegar ao domingo, com todas
as cumplicidades dos outros poderes, as bombas informacionais detonadas em
conluio com o Judiciário, tudo isso junto já mostrou que não há o que esperar
das instituições, não tem mais Estado de direito", afirma Laymert.
"É quase inimaginável, mas isso foi
sendo construído e a gente não queria acreditar que podia chegar, e chegou."
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