No Brasil 247
É
triste constatar que o respeito à pessoa e as opiniões esteja cada vez mais
limitado. A crise que o país atravessa, motivada por uma disputa política e
partidária, tem feito muitos reféns, e esses se encontram em um cativeiro de
ignorância, falta de bom senso e alto grau de presunção. Assim como na síndrome
de Estocolmo, onde a vítima é submetida há um tempo prolongado de intimidação e
passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu
agressor, a síndrome do golpe faz com que o psicológico das vítimas apresente
características bem parecidas. A diferença é que na segunda patologia, não
existem vítimas e nem intimidação, mas sim voluntários, que através de
identificação espontânea e ideológica, legitimam a ação de seus “sequestradores”.
Políticos,
artistas e outras personalidades que se posicionam a favor do governo e
contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, vêm sofrendo agressões
morais e ataques pessoais sejam esses nas redes sociais ou em lugares públicos.
O caso mais recente envolve o ator José de Abreu, petista e defensor ferrenho
do atual governo, que juntamente com a sua esposa foi agredido com ofensas
morais em um restaurante em São Paulo. Entre os xingamentos, os já conhecidos
clichês, vagabundo, ladrão e comunista. Na síndrome do golpe a vítima não
raciocina por si mesma, ela já entregou o próprio cérebro, por identificação e
convicção, ao seu sequestrador ideológico. É ele quem manipula as suas ações e
os seus sentimentos menos nobres, aqueles que já estavam dentro dela esperando
alguma motivação para sair do armário.
Tenho
absoluta certeza que José de Abreu não foi até a mesa do casal para chamá-los
de “coxinhas” ou de golpistas, mas tenho a mesma certeza de que o casal de
anônimos, ao vê-lo no recinto, quis fazer o seu papel de “cidadãos de bem” que
costumam enquadrar todo e qualquer petista, ou defensor do governo, para
chama-lo de vagabundo e manda-lo ir pra Cuba. Assim já fizeram com Chico
Buarque e com outros artistas que se posicionam abertamente a favor do PT. Os
caras provocam. Querem impor a sua arrogância a todo custo, como se apenas
existisse vida inteligente e útil do lado direito da política nacional e nas
rodas de carteado e pôquer dos cassinos clandestinos existentes no submundo da
elite absolutista. Chamam de vagabundo e de ladrão quem apoia o governo, mas se
levarmos em conta que Dilma teve mais de 54 milhões de votos, será que podemos
considerar o mesmo quociente para calcular o número de vagabundos e ladrões
existentes no país?
José
de Abreu revidou as agressões cuspindo no rosto do casal, assim como o deputado
Jean Willys já havia feito com Jair Bolsonaro em pleno congresso nacional
durante a votação do processo de admissibilidade do impeachment. Em minha
opinião, cuspir no rosto de alguém está errado. É uma atitude reprovável e
baixa demais. Mas também entendo que ofender moralmente as pessoas em locais
públicos, por diferenças políticas, é igualmente reprovável e tão baixo quanto.
Democracia é saber respeitar as opiniões que nos sejam contrárias. Ninguém é
dono da verdade, até porque a verdade é uma só e não se deixa corromper pela
pretensão de alguns "cidadãos de bem" que querem tomar posse dela de
maneira absoluta e inconsequente. Nenhuma forma de radicalismo tem parentesco
com a verdade e favorece o bem comum. Essa generalização que vem sendo aplicada
contra quem se opõe a direita é puro fascismo e precisa ser combatida. Não a
cusparadas, mas de forma judicial, ou na pior das hipóteses, em vias de fato,
se for necessário.
É
irracional e inconsequente acusar de banditismo quem segue uma ideologia
política contrária a nossa. Tomamos para si uma ideologia ou uma posição
política por inúmeros motivos. Eu não sou filiado ao PT, mas sou contra o
impeachment, pois acho que é golpe. As minhas convicções políticas me levam a
essa opinião. E daí? Você pode ter a Amy Winehouse como ídolo e nem por isso
querer se consumir em drogas como ela. Ou não seria inconsequente apontar como
torturadores, todos que declaram apoio ao deputado Jair Bolsonaro? Seria racional
julgar como estelionatários e charlatões todos os que congregam sob a doutrina
de Marco Feliciano e Silas Malafaia? Seria correto rotular como traidores e
indignos de confiança todos os cidadãos que apoiam um possível governo Temer?
Podemos classificar como Psicopatas todos aqueles que adotaram Eduardo Cunha
como o seu malvado favorito?
Existem
erros no PT, da mesma forma que existe no PSDB, no PMDB, no DEM, no PSB, no PTB
e em todos os partidos. Aliás, já está mais do que provado que os partidos com
o maior número de políticos envolvidos em corrupção são o PSDB, DEM e PMDB e
nem por isso os falsos moralistas e coxinhas indignados abandonam a simpatia
por essas siglas e muito menos exigem, com o mesmo rigor que exige para o PT,
uma punição para eles. Tanto é que entrega em suas mãos a esperança de um
Brasil melhor. Melhor para eles, é claro. Um Brasil que volte a ser
escravocrata com a flexibilização das leis trabalhistas e com a terceirização.
Um Brasil que volte a ser totalitarista, tendo o pobre como servo do estado e
da elite dominante. Um Brasil que volte a ser deles, para eles, como eles
quiserem e onde a onipotência, a onipresença e a onisciência da nossa direita
elitista, determine, em nome de Deus, o destino do restante da nação.
Não
nos cuspirão!
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