Abaixo
a tradução do teste:
Quantos passos você daria a frente? Como se sente vendo pessoas que se esforçam muito menos a sua frente? E como você se sente vendo que existem pessoas que ficaram atrás de você?
Abaixo
a tradução do teste:
Quantos passos você daria a frente? Como se sente vendo pessoas que se esforçam muito menos a sua frente? E como você se sente vendo que existem pessoas que ficaram atrás de você?
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(Meritocracia. (FOTO/ Shutterstock) |
O
"sistema meritocrático", que muitas vezes é a principal justificativa
das instituições para explicar a ausência de pessoas negras nos cargos de
liderança, é construído lentamente ao longo da história do país e começa muito
antes do período de inserção no mercado de trabalho.
Uma
das tantas características do "sistema meritocrático" brasileiro é
assegurar os melhores lugares sociais para quem segue o padrão europeu, branco.
Mesmo em cidades onde a maioria da população é negra, esse padrão é exigido.
É o
que se observa no caso da adolescente RMS, de 13 anos, aluna do Colégio
Municipal Dr. João Paim, em São Sebastião do Passé (BA), que foi mandada para
casa, sem aviso prévio aos seus responsáveis, porque seu cabelo foi considerado
"inchado" e inadequado para que ela assistisse às aulas.
Interpelado
por Jaciara, mãe da adolescente, o funcionário da escola sugeriu que a menina
alisasse o cabelo, mostrando a foto de uma menina branca com o cabelo liso,
como padrão adequado para frequentar as aulas.
Jaciara
diz que a filha chegou em casa chorando muito e dizendo que não queria mais
estudar no colégio e, no momento de raiva, chegou até a xingar o próprio
cabelo. A reação da adolescente mostra o que milhares de crianças, adolescentes
e jovens negros vivenciam em escolas inóspitas que lhes causam mal-estar,
impactando suas competências afetivo-emocionais, elementos fundamentais para
assegurar a aprendizagem.
E o
desejo de não mais voltar à escola explicitado pela adolescente revela também
uma das facetas da evasão escolar, que atinge muito mais a população negra do
que a branca.
Essa
situação mostra ainda uma escola que cria ambientes mais acolhedores para um
perfil do alunado em detrimento de outros, o que vai se materializar também,
futuramente, nas organizações empregadoras.
O
CEN (Coletivo de Entidades Negras) acompanha o caso da estudante, buscando
assegurar seus direitos, e que os autores dos atos racistas sejam punidos.
O
coletivo sinaliza para a discriminação contra signos e símbolos da cultura
afro-brasileira, a qual precisa ser debatida, como preconiza a LDB, alterada
pela lei 10.639/03. Ou seja, o poder público é fundamental para assegurar uma
escola mais equânime, mas o que se observa, infelizmente, é exatamente o
contrário.
O
Censo Escolar, principal instrumento de coleta de informações da educação
básica e base para construção de políticas públicas, por orientar a divisão de
recursos entre estados e municípios e a implementação de programas de
responsabilidade do Governo Federal, vem sofrendo silenciosas mudanças.
A
base de dados sobre gênero, cor e raça dos docentes e do alunado foram
alteradas e só aparecem em grandes blocos, impedindo que se amplie os estudos e
se aprofunde o conhecimento sobre o impacto de atitudes de escolas como a
citada acima, na aprendizagem e evasão escolar.
Ao
fazer um comparativo entre as bases de microdados do Censo Escolar de 2020 com
a do ano de 2021, uma série de variáveis não está mais disponível.
Não
é mais possível acessar os microdados do Censo de 1995 até 2020, apenas o de
2021 e, diferentemente das edições anteriores, os microdados trazem um único
arquivo de dados, que não contempla o perfil de professores e gestores (sexo,
raça/cor e formação).
Enfim,
não se combatem as desigualdades ocultando as informações sobre ela, mas
cumprindo a lei e implementando políticas que qualifiquem o ensino e tornem a
escola acolhedora para todas as crianças.
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Publicado originalmente na Folha de S. Paulo e reproduzido no CEERT.
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Karla Alves é historiadora e colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Facebook). |