Por
Jack Correia, no Overmundo
Respeito e cidadania no Brasil, e porque não dizer, no mundo, são agora sinônimos de luta. A luta por consciência, igualdade e dignidade hoje é fundamental para garantir uma sociedade civil justa e democrática amanhã, pois, uma transformação só é possível quando não somos inertes aos acontecimentos em nossa volta.
É
preciso “arregaçar as mangas” para buscar essa mudança necessária e para
enfrentar com dignidade as dificuldades que surgem! Uma política linear, capaz
de construir uma sociedade equilibrada, onde as diferenças naturais, como as
características físicas, também não sejam motivos capazes de gerar conflitos. É
preciso criar forças... A união de um grupo formado por pessoas que tenham um
mesmo propósito, que “plantem juntos a mesma semente que germinará” no dia
seguinte, gerando os “bons frutos” tão desejados.
Assim
é o Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC, entidade sem fins
lucrativos, formado em Crato-CE no ano de 2001 com o objetivo primordial de
promover a igualdade étnica/racial e a auto-estima da população de cor negra na
Região Caririense, além de propagar a consciência sobre nossa afrodescendência,
valorizando a nossa história e cultura. Ele conta com o apoio de entidades
governamentais e não governamentais, profissionais liberais, autoridades
religiosas, empresários e de qualquer pessoa da própria população que pretenda
se engajar num propósito político-social consistente.
O
GRUNEC foi idealizado de uma forma inusitada. Depois de uma aula de natação, 5
pessoas que conversavam sempre sobre injustiças sociais resolveram criar algo
maior e sair dos meros discursos individuais. Depois de uma reunião na garagem
da casa de um deles, surge o GRUNEC, que agora com 7 anos de formação, já conta
com o apoio de cerca de mais de 30 indivíduos qualificados para capacitações
pedagógicas e para diversos eventos como seminários, oficinas e reuniões,
sempre com embasamentos técnicos, legais e jurídicos de tudo o que diz respeito
às questões políticas e sociais no País. Dentre eles, alguns nomes: Verônica,
Valéria, Adriano, Antônia, Eliane, Reginaldo, Ridalvo, Ronald, João, Josefa,
Prof. Mota, Cícero, Diego, Cleone e muitos outros...
Todas
as pessoas do Grupo, acima de tudo, têm comprometimento. Elas não “levantam a
bandeira” por simples paixão momentânea ou “modismos de causas”, não estão na
“estrada” vinculadas a nenhum partido político ou outra classe qualquer. A
questão é consciência e vontade! A vontade, sem comodismo, de ver um verdadeiro
Estado Democrático.
A Implantação das Idéias
O
GRUNEC trabalha com diversas metodologias, especialmente no ensino profissionalizante
e no desenvolvimento de atividades artísticas, fertilizando um terreno para
aflorar a auto-estima do povo de pele negra no Cariri que se encontra em
exclusão social, promovendo encenações de danças, desfiles, músicas e outras
manifestações ligadas à arte. Atua de forma efetiva na Semana da Consciência
Negra e em ações realizadas junto às Secretarias Municipal e Estadual de
Educação para garantir o cumprimento das normas reguladoras como um dos
patamares que levarão a uma conscientização mais sólida sobre nossa
afrodescendência, levando até mesmo a um contexto nacional.
Esse
trabalho, não é feito apenas em auditórios universitários ou escolares, nem tão
somente nas salas de aula. Ele não se dá unicamente de forma teórica onde
alguns dos integrantes do Grupo pegam um microfone e fazem explanações
científicas sobre o assunto com seus notáveis dons de oratória. Ele é feito
essencialmente junto às comunidades pobres da região, onde a população de cor
negra atinge índice mais elevado e onde a marginalização, e tudo o que ela
gera, estão concentrados em um percentual preocupante.
A
trajetória na causa já traz um relevante histórico. O GRUNEC: promoveu a 1ª
Audiência Pública Federal no ano de 2007, para discutir a implementação da Lei
nº 10.639/03 conseguindo reunir representantes de 42 municípios da Região do
Cariri; em 2005 realizou o 1º Seminário no Crato para discutir a Igualdade
Racial; é responsável pela Semana da Consciência Negra todos os anos, desde sua
formação em 2001; efetiva cursos para geração de emprego e renda; junto ao
governo municipal do Crato articulou a sua adesão ao Fórum Intergovernamental
de Promoção da Igualdade Racial, coordenado pela SEPPIR (Secretaria Especial de
Políticas para a Promoção da Igualdade Racial) como forma de afirmar o
compromisso do município cratense no combate ao racismo e de garantir à
população o aperfeiçoamento das políticas públicas voltadas para promoção da
igualdade; desempenha um excepcional trabalho junto às mulheres do Alto da
Penha, que é um dos bairros mais pobres da cidade, etc., etc., etc.,
Um
trabalho social moldado em conscientização política, obviamente, deve ter como
principal caminho o contato direto com a comunidade, porque, é neste contato
que está toda a essência do resultado. Ele é o principal desafio, porque é no
calor humano que as coisas acontecem, e, para melhor! É olhando nos olhos das
pessoas de cor negra, marginalizadas, que a transformação tão almejada pelo
GRUNEC tem o seu início. Simplesmente olhar e enxergar aquelas pessoas e
plantando nelas, aquela, semente de mudança começando a germinar com frases
simples como “hei, se olhe... sua cor é linda!”, que, a princípio, podem até
parecer piegas para alguns, mas com certeza, fazem uma considerável diferença.
Outro
grande desafio é trazer à discussão aqueles inclusos nas classes privilegiadas
da população, muitos deles com pele branca, alheios até mesmo aos significados
dos termos afrodescendência e inclusão social, e que não se sentem parte
integrante de todo esse seguimento e metamorfose que a sociedade necessita de
um modo geral. Como maneira de se chegar a eles, os meios de comunicação também
são usados, até para debater acerca das Normas Reguladoras pertinentes, dos
princípios básicos dos Direitos Humanos, etc., o que, evidentemente, somente
isso não é o suficiente, porque, respeito, como pilar dessa sociedade
idealizada, não deve vir através, simplesmente, de uma imposição legal.
O
respeito no seu mais amplo significado, deve vir naturalmente, de dentro de
cada um, de uma consciência moral e por valorização das nossas raízes e
conservação do nosso patrimônio histórico e cultural, deixando-as vivas para as
próximas gerações.
As
palavras podem ter um papel fundamental nesses processos revolucionários de
transformações sociais e políticas, mas elas não são nada se não vêm integradas
com as ações. Assim pensa e age o GRUNEC em toda a sua busca.
O
GRUNEC segue na sua caminhada... Com “idas e vindas”, cujos obstáculos mais
parecem “muros de Berlim”... Mas seguindo adiante, se aliando a outros grupos
que têm propósitos de transformações sociais também como meta... De mãos dadas,
olhando pra frente e sonhando juntos, para que esse sonho vire realidade num
futuro próximo, como diria Carlos Drumont de Andrade.
Contato
com o GRUNEC:
grunec_cariri@yahoo.com.br
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