Marighella’, o filme, tem estreia confirmada para 4 de novembro, data do assassinato

Filme já teve aproximadamente 30 exibições pelo mundo e passou por festivais. (FOTO/ Divulgação/ Montagem/ RBA).

O filme Marighella, dirigido por Wagner Moura e com Seu Jorge no papel principal, vai enfim estrear no Brasil. A data marcada é 4 de novembro, quando se completam 52 anos do assassinato de Carlos Marighella, em uma emboscada na cidade de São Paulo. Pré-estreias estão marcadas para o dia 1º.

O longa, o primeiro dirigido pelo ator Wagner Moura, sofreu sucessivos adiamentos, incluindo desentendimento com a Agência Nacional de Cinema (Ancine). A dificuldade estaria relacionada com o histórico do personagem retratado. O comunista Marighella, criador da Ação Libertadora Nacional (ALN), foi um dos principais opositores da ditadura. O filme foi exibido em vários países e festivais, com boa recepção. Foram aproximadamente 30 exibições nos cinco continentes.

Além de Seu Jorge na figura do guerrilheiro, Bruno Gagliasso encarna o policial Lucio, que o persegue. Na vida real, Marighella foi caçado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, até ser morto a tiros na alameda Casa Branca, no bairro paulistano dos Jardins.

O elenco tem ainda Adriana Esteves (como Clara Charf, companheira do líder comunista), Herson Capri e Luiz Carlos Vasconcellos, entre outros. Com filmagens na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o longa tem Fernando Meirelles como produtor associado. Foi inspirado no livro Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo (Companhia das Letras), escrito pelo jornalista Mário Magalhães e lançado em 2012.

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Com informações da RBA.

Educação antirracista: como a escola pode combater as desigualdades educacionais entre negros e brancos?

 

Educação antirracista: como a escola pode combater as desigualdades educacionais entre negros e brancos?/(FOTO/ Reprodução/NOVA ESCOLA).

Nós somos geneticamente capacitados, como qualquer pessoa branca. Se o Projeto Genoma já disse isso, se a Ciência já legitimou isso, por que é que a gente está congelado naquele lugar do não saber?”, pergunta Benilda Brito, pedagoga e mestre em Gestão Social, neste vídeo em que explica como a discriminação influencia no processo de aprendizagem e resulta, entre outras consequências, no baixo rendimento escolar de crianças e jovens negros. “Rendimento escolar tem a ver com afetividade. Não se discute Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] sem discutir racismo. Não se discute avanço educacional sem trabalhar a autoestima da criança negra”, afirma. Ou seja, não dá para pensar o sistema educacional sem considerar o racismo estrutural refletido nele.

A primeira coisa que temos de pensar quando falamos do papel da escola [na luta antirracista] é que ela não é um disco voador que baixa nos territórios. Ela tem uma função social importante e deve articular saberes construídos ao longo da história” Este deve ser o pensamento, segundo a coordenadora executiva adjunta da Ação Educativa Ednéia Gonçalves.

As escolas desempenham um papel fundamental na construção e na garantia da equidade racial. Além de lidar com o racismo institucional, as instituições de ensino precisam construir e aplicar uma educação antirracista. Para isso, foi alterada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 2003 com a Lei 10.639, que prevê a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana — alterada, por sua vez, pela Lei 11.645 de 2008, que fez o mesmo com os povos indígenas e sua cultura — dentro dos componentes curriculares.

Para os gestores e professores, isso implica implementar em toda sua dimensão e de forma prática o que traz o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Estão ali a história da África e dos povos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura e o papel do negro na formação da sociedade nacional, assim como a história e a cultura indígena e sua participação na construção da identidade brasileira. Como a questão das relações étnico-raciais é transversal, ela atravessa todas as áreas de conhecimento.

Para isso acontecer no dia a dia, a professora e formadora de educadores Gina Vieira afirma que é necessário superar o mito da democracia racial. “Ano passado, durante minhas palestras, eu fiquei assustada com a quantidade de professores e professoras que falavam frases do tipo: ‘Não estou entendendo o que você está falando. Você está dizendo que somos diferentes? Mas somos um só povo. Isso que você está falando vai provocar uma divisão’”, conta.

Um levantamento do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da Uerj (Gemaa), divulgado em maio, aponta que menos de um em cada dez alunos (9,75%) se autodeclara preto ou pardo nas 20 escolas com as maiores notas no Enem 2019 no país. Dessas, apenas uma é pública. De acordo com dados do IBGE, só em 2019 as universidades tiveram mais alunos negros (50,3%) do que brancos. E as carreiras mais concorridas e com maior remuneração têm percentual menor de pretos e pardos, como Medicina (39,9%), Engenharia (40%), Odontologia (38,7%) e Direito (43,8%).

Para Edneia, as salas de aula não estão e nem devem estar descoladas da realidade do Brasil. “Temos de considerar que existe a escola que é racista, e isso acontece porque ela foi construída, assim como todos os outros sistemas no país, para a manutenção de privilégios — e eles não eram dos pretos e dos indígenas”, explica.

Apesar de a legislação prever o ensino de história e cultura afro-brasileira, Gina aponta que as escolas têm um currículo “que privilegia os autores brancos e a história contada pela perspectiva do colonizador”.

A professora conta também que é comum ouvir histórias em que o docente responde “não liga para isso, você é linda”, após uma criança negra relatar ter ouvido comentários racistas a respeito de seu cabelo, por exemplo. “Essa é uma resposta acrítica porque dizer para uma criança não ligar para o que ela está sentindo é dizer que o que ela está sentindo não é importante”, explica Gina. “É ignorar que essa criança vive dentro de uma estrutura que diz o tempo todo que ela é feia”.

Vale pontuar que muitos gestores e professores podem encarar a questão apenas como bullying, mas vai muito além disso. É de racismo que estamos falando, e adotar uma postura silenciosa diante de acontecimentos é perpetuar a discriminação.

Situações como essa, ressalta Gina, podem desestimular o aluno a denunciar casos de racismo, além de prejudicar seu desenvolvimento socioemocional – essencial para uma educação integral. E acabam, ainda que de maneira inconsciente, reforçando o preconceito e a discriminação. “Ao silenciar o sofrimento dessa criança, você transforma a escola em um ambiente totalmente hostil para que ela consiga estudar e ter acesso a espaços onde ela possa expressar seu modo de vida, sua cultura e sentimentos”, explica Ednéia.

O Anuário Brasileiro de Educação Básica 2021, divulgado em agosto, aponta que apenas 48% das instituições de ensino brasileiras afirmaram ter projetos para tratar relações étnico-raciais. E esse espaço está diminuindo. O levantamento indica, que apesar de o debate avançar na sociedade, nas salas de aula acontece o inverso. Entre 2013 e 2017, mais de 70% das escolas tinham projetos sobre a temática.

A falta de exemplos africanos ligados à inovação é outro motivo citado por Ednéia para ampliar a desigualdade entre alunos pretos e brancos. “As grandes inovações que o Brasil experimentou vieram do continente africano. Precisamos pensar o quanto os conhecimentos de engenharia, arquitetura e filosofia são importantes para a identidade e para o desenvolvimento do brasileiro”, diz ela. 

O professor de Artes Edmar Galiza, da rede pública do Distrito Federal, alerta que muitas escolas, “para cumprirem tabela”, discutem o tema apenas na semana da Consciência Negra, em novembro. “Não se aprofunda em nada. E eu sempre digo: não somos negros apenas em novembro, mas 24 horas por dia”, ressalta.

Ednéia conta também que a visão e o posicionamento dos professores nesse processo é essencial. Por isso, o educador ou gestor escolar precisa se atentar aos preconceitos que tem ao avaliar que crianças negras são mais violentas ou mais indisciplinadas. “Falamos o tempo inteiro, por exemplo, de dados de evasão, mas não os discutimos como um fator necessário para ampliar a qualidade da escola em cumprir a sua função social”, completa.

É importante ter em mente, segundo os professores ouvidos por NOVA ESCOLA, que educadores, gestores e alunos brancos são responsáveis por desconstruir e colaborar para uma educação antirracista.

Como agir para uma educação antirracista?

Depois de entender o impacto do racismo na desigualdade educacional, é importante saber como colocar em prática a educação antirracista na sala de aula e na formação de professores.

O professor Edmar Galiza recomenda, em primeiro lugar, que os projetos e as aulas sejam “estudados, debatidos e pesquisados”. Para ele, é importante que professores brancos, negros e de diferentes raças trabalhem coletivamente e com uma periodicidade grande, evitando que o tema seja abordado apenas em novembro.

Aliado a isso, a formadora Gina Vieira orienta também que as escolas ofereçam qualificação a seus funcionários. “Não se promove uma educação antirracista sem uma qualificação técnico-profissional. As pessoas precisam ler e se capacitar para entender por que as culturas silenciadas no currículo são trabalhadas de maneira estereotipada”, explica.

Realizar um diagnóstico entre os professores, antes das reuniões de formação, pode ajudar o gestor a entender também o perfil de cada educador e o nível de entendimento do tema. “Quando Paulo Freire fala de uma educação emancipadora, em resumo é disto que ele está falando: de uma Educação que nos traga consciência de como os sistemas de opressão operam nos planos simbólico, discursivo e material”, complementa Gina.

Já Ednéia recomenda um acervo bibliográfico diverso e que o espaço da escola fique aberto, acolhendo também alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos), que acabam sendo predominantemente negros. O documento “Indicadores da Qualidade na Educação ? Relações Raciais na Escola” pode ajudar muito, pois visa contribuir com a superação do racismo nas escolas abordando desde atitudes e relacionamentos, currículo e proposta político-pedagógica, atuação dos profissionais de Educação e gestão democrática, entre outros pontos. Esse material faz parte da coleção “Educação e Relações Raciais: Apostando na Participação da Comunidade Escolar”, elaborada com apoio da Comissão Europeia no Brasil, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Instituto C&A e do Save the Children UK.

Para trabalhar a educação antirracista, a coordenadora da Ação Educativa sugere também que a escola seja um espaço de proteção para jovens negros. De acordo com o Atlas da Violência, 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras em 2018. No contexto histórico, de 2008 a 2018, o número de homicídios de pessoas negras no país aumentou 11,5%; já entre pessoas não negras, caiu 12,9%.

Precisamos discutir o genocídio dessa população, analisar as estatísticas e trazer o tema para dentro do PPP (projeto político-pedagógico)”, explica.

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Com informações do Nova Escola.

Um pesadelo de mil dias, por Silvio Almeida

 

O jurista Silvio Almeida. (Imagem: CHRISTIAN )PARENTE/DIVULGAÇÃO.

“Nada não está tão ruim que não possa piorar”. A frase dita no último dia 27 pelo presidente da República durante solenidade que marcou os mil dias de seu governo pode ser considerada histórica. Isso porque foi das raríssimas vezes em que o presidente falou algo aparentemente verdadeiro e que, levando em consideração o que tem sido seu governo e sua personalidade, soou como um “lapso de lucidez”.

A frase é também uma boa síntese dos mais de mil dias de horror da gestão de Jair Bolsonaro. De fato, instalou-se no Brasil um governo em que as expectativas são sempre de que tudo vai piorar. Não há absolutamente nada que dê ao menos a impressão de que algo no país funcione, que irá melhorar ou de que algum dos inúmeros problemas nacionais pode ao menos ser encaminhado. É uma mistura fantástica de incompetência, insanidade, crueldade e corrupção.

Em um jantar nos Estados Unidos realizado em 2019, o presidente da República disse que em seu governo seria necessário “desconstruir” muita coisa no Brasil antes que algo pudesse ser construído. Depois de mil dias de governo percebe-se que o presidente, seguindo o padrão que lhe é habitual, não disse a verdade, ao menos não completamente. Este governo não é tão somente de destruição, mas de lesão, de sofrimento e de dor. Matar não é suficiente: é preciso torturar, humilhar e levar à loucura.

É também um governo corrupto, e não apenas no sentido usual do termo. É corrupto no sentido filosófico, já que inverte a finalidade das instituições, fazendo com que operem de forma contrária aos propósitos que declaradamente motivaram sua criação. Exemplos disso são os ministérios.

O Ministério da Economia se torna o fiador da miséria e da pobreza; o Ministério da Justiça promove perseguição e vingança; o Ministério do Meio Ambiente lidera a destruição da natureza; o Ministério da Saúde serve para espalhar a doença e assim por diante.

Os efeitos da decadência civilizatória representada pelo governo brasileiro se apresentam nos mais diversos setores da vida nacional. Na economia, além dos índices de desemprego, de desalento e do aumento progressivo da miséria, o país se vê à mercê de pessoas que, tendo o dever de agir, assistem com cinismo a milhões de pessoas passando fome, comendo restos de carcaças, revirando latas de lixo e sufocando por causa de uma doença para qual já existe vacina.

Na política, as reformas propostas pelo governo e seus aliados têm o claro propósito de facilitar a captura do Estado por interesses privados, seja de grupos econômicos, seja de organizações criminosas. Neste momento, a reforma administrativa é a ponta de lança deste movimento que visa a fragilização dos mecanismo de controle social do Estado brasileiro.

Mas talvez o pior de todos os efeitos destes mil dias de trevas sejam os produzidos na alma dos brasileiros. Desassossego, desesperança, tristeza e ódio são os sentimentos que talvez melhor descrevam este estado suicidário, racista e assassino no qual estamos todos metidos. O governo brasileiro não inventou, mas deu sustentação, potencializou e conferiu legitimidade a uma cultura de morte e cinismo que se disseminou na sociedade brasileira.

Sair deste pesadelo que tem custado milhares de vidas e interditado o futuro irá exigir uma grande recusa dirigida aos propagadores do ódio e aos lesadores que integram ou apoiam o governo, suas ideias e suas ações.

Para isso, instituições como esta Folha tem que assumir a responsabilidade que lhe cabe como o jornal mais lido do país e decidir se quer participar da construção de um país digno ou continuar investindo na criação de polêmicas artificiais em nome de uma suposta “pluralidade”.

Racismo e falsificação histórica nada têm a ver com postura democrática. Quem abre espaço para este tipo de indigência intelectual e moral, que prestigia irresponsáveis e fanfarrões, colabora, ainda que indiretamente, para que esse pesadelo jamais tenha fim.

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Sílvio Almeida é jurista e professor. Publicado originalmente no Geledés.

Manifestantes ocupam 10 quarteirões da Paulista no #2OutForaBolsonaro

Ato contou com a participação de diversos movimentos e entidades. (FOTO/ Paulo Pinto/ Fotos Públicas).

O ato pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro chegou a ocupar 10 quarteirões da Avenida Paulista no momento de pico, entre 16h30 e 16h50, na maior mobilização deste sábado realizada no Brasil. A manifestação contou com dez carros de som entre os cruzamento com as ruas Pamplona e Consolação e o palanque principal ficou em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), onde houve maior concentração de pessoas.

O ato contou com a participação de diversos movimentos e entidades como Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, UNE, ABI, Coalizão Negra por Direitos, Acredito e Direitos Já, assim como as centrais sindicais, artistas, representantes dos povos indígenas e políticos de 21 legendas.

Segundo os organizadores, 100 mil pessoas estiveram na Avenida Paulista no sexto protesto da campanha Fora Bolsonaro. Também de acordo com a organização, ao todo, os protestos reuniram 700 mil pessoas em todo o país, com manifestações registradas em 304 cidades do Brasil e em 18 países.

Mobilização mais ampla

Em sua fala na manifestação, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad falou da urgência da saída de Bolsonaro do poder. “Estamos aqui porque o povo quer comer e o Bolsonaro não deixa”, apontou. “Essa desgraça desse governo tem que acabar antes da eleição porque o povo não aguenta mais.”

Também presente na Avenida Paulista, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos falou, em entrevista ao portal Uol, sobre o fato desta mobilização ter contado com um espectro político mais amplo do que as manifestações anteriores contra o atual governo.

"Todo mundo que defende a democracia brasileira e é a favor do impeachment de Bolsonaro tem que estar nas ruas. Não só nas ruas, tem que orientar seus partidos a pressionar pela abertura do processo de impeachment na Câmara Federal”, disse Boulos. “Existe muita diferença política aqui na Paulista. Mas tenho certeza que com o risco democrático, as ameaças golpistas e o pesadelo que Bolsonaro representa, essas diferenças são menores do que aquilo que nos une para poder tirá-lo de lá.”

A presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffman (PR) também saudou a unidade e o maior alcance da mobilização em seu perfil no Twitter. “Lindo o ato na Paulista, grande, muita energia de luta e com mais forças políticas, entidades sindicais, movimentos sociais e ativistas da sociedade civil. A ampliação da unidade dessas forças vai se construindo pelo objetivo comum de tirar Bolsonaro!”, postou.

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Com informações da RBA.

Sancionada no Ceará lei Dia Preta Tia Simoa e da Mulher Negra

 

Preta Tia Simoa. (FOTO/ Reprodução).

Por Nicolau Neto, editor

O governador do Ceará, Camilo Santana, sancionou o projeto de lei 335/2021 que foi aprovado na Assembleia Legislativa e instituiu o dia 25 de julho como Dia Preta Tia Simoa. Com a sanção, o calendário cearense ganha a lei 17.688/21 que homenageia a líder negra Tia Simoa, uma das grandes figuras de destaque na luta conta a escravidão no Estado.

Segundo o deputado Renato Roseno (PSOL/CE), autor do PL, "a lei prevê a realização da Semana Preta Tia Simoa de Combate à Discriminação Contra Mulheres Negras com objetivo de fortalecer ações contra o racismo, o sexismo e todas as formas de violência contra as mulheres negras, além da preservação da memória e da contribuição dos povos afrodescendentes, em especial das mulheres negras, para a formação social do nosso estado". 

A lei teve o apoio de movimentos negros e entidades, dentre eles destaque para o Grupo de Valorização Negra do Cariri, o Movimento Negro Unificado, o Fórum Cearense de Ações Afirmativas, a Rede de Mulheres Negras, NEABIs, Núcleo de Africanidades Brasileiras (NACE- UFC), Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afro brasilidade, Gênero e Família (Nuafro - UECE), Espaço Cultural Preta Tia Simoa, Coletivo Mulheres Negras Resistem e o Setorial de Negras e Negros PSOL CE.

A Preta Tia Simoa se tornou conhecida do público por meio das pesquisas da historiadora, ativista negra e colunista deste Blog, Karla Alves.

Clique aqui e saiba mais sobre a Preta Tia Simoa.

Obras completas de Luiz Gama são lançadas na Faculdade de Direito

O advogado abolicionista Luiz Gama (1830-1882). (FOTO/ Wikimedia Commons).

Na última sexta-feira, dia 1º, às 17h30, a Faculdade de Direito da USP promoveu o lançamento das obras completas, em dez volumes, do advogado abolicionista Luiz Gama (1830-1882), que em junho passado recebeu o título póstumo de Doutor Honoris Causa da USP. Coordenado pelo Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito da USP e pela Associação dos Antigos Alunos da faculdade, o evento será transmitido ao vivo pelo canal daquele centro acadêmico no Youtube.

O lançamento teve a presença do editor das obras completas de Luiz Gama, Bruno Rodrigues de Lima, pesquisador-visitante do Max-Planck-Institut für europäische Rechtsgeschichte, em Frankfurt, na Alemanha. Ao longo de nove anos, Lima pesquisou em arquivos de jornais e de órgãos do Poder Judiciário brasileiro. No total, reuniu cerca de 800 textos de Gama, dos quais 600 são inéditos. Na edição da Editora Hedra, com mais de 5 mil páginas, eles se dividem nos volumes intitulados Poesia, Profecia, Comédia, Democracia, Direito, Sátira, Crime, Liberdade, Justiça e África-Brasil.

Além de Lima, participarm do lançamento os professores Calixto Salomão Filho, da Faculdade de Direito da USP, e Lígia Fonseca Ferreira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que falarão sobre “A importância de Luiz Gama e de suas obras completas”. Já os professores Alysson Mascaro e Gilberto Bercovici, ambos da Faculdade de Direito da USP, abordarão o tema “Gama e o Brasil atual”.

Impedido de estudar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Gama adquiriu conhecimento jurídico ao participar das aulas como ouvinte e ganhou notoriedade como rábula (o que advoga sem ter o diploma de Direito), na defesa dos cidadãos negros, escravizados”, destacou a Assessoria de Imprensa da Faculdade de Direito da USP, em nota assinada pelo jornalista Kaco Bovi. “Entre as várias homenagens neste ano estão o recebimento do título Honoris Causa da USP, o filme recém-lançado Doutor Gama e, agora, a coletânea de suas obras. Ele tem seu nome gravado em sala da Faculdade de Direito da USP, sendo o primeiro brasileiro negro a receber a honraria da instituição.”

Gama nasceu em Salvador (BA) e relata ter sido vendido por seu pai a um contrabandista aos 10 anos. Aos 17, completou seu processo de alfabetização e, no ano seguinte, fugiu do cativeiro. A partir daí, iniciou sua trajetória política e social. ‘Gama é um dos nossos’, ressalta o diretor da Faculdade de Direito da USP, professor Floriano de Azevedo Marques Neto, que fará a abertura dos trabalhos, ao lado da presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, Letícia Chagas”, acrescenta a nota.

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 Com informações do Geledés.

Roda Viva entrevistou 13 convidados negros em quatro anos

(FOTO/ Reprodução/ TV Cultura).

Nesta semana, o programa Roda Viva da TV Cultura completou 35 anos de existência, o que o faz ser considerado o mais antigo do gênero na televisão brasileira. A importância e relevância do programa de entrevistas e debates se mostra histórica ao registrar as ideias, pensamentos e análises de quase 2 mil personalidades das mais diversas áreas de conhecimento que já passaram por ali desde a estreia, em 29 de setembro de 1986. Entretanto, há pouca presença de entrevistados negros na atração, ainda que avanços sejam notados nos últimos anos por conta da cobrança por diversidade.

Segundo levantamento feito pelo Coletivo Lójúkojú, lançado em 2020, o programa Roda Viva teve apenas 13 (6,34%) entrevistados negros no período de 11 de janeiro de 2016 a 22 de junho de 2020, em um total de 205 programas analisados no formato convencional de entrevistas.

Notou-se também uma baixa representatividade, no período analisado, de pessoas indígenas (0,45%) e amarelas (1%), sendo as pessoas brancas 92,21% das sabatinadas pelo programa. Além disso, somente 10% das pessoas entrevistadas eram mulheres, sendo que, destas, 9% eram negras. Apenas 1,5% das pessoas possuíam algum tipo de deficiência.

Nos programas em formato de debate do Roda Viva, ou seja, especiais temáticos com mais de um convidado no centro da roda, somente 12 debatedores (6,48%) eram negros, em um total de 41 programas e 185 convidados.

“A produção do Roda Viva tem procurado aumentar a diversidade de temas e entrevistados, bem como dos entrevistadores já desde o início desta administração, em junho/julho de 2019. Isso se manifesta nas reuniões de pauta e na preocupação de toda a equipe”, explica Leão Serva, diretor de Jornalismo na TV Cultura.

Neste ano, até a última segunda-feira (27), a Alma Preta Jornalismo levantou que 9 pessoas negras passaram pelo centro da roda do programa em um total de 44 convidados, dentre episódios no formato convencional de entrevistas ou de debates. Durante o ano de 2020, foram 8 pessoas negras em um total de 53 sabatinados.

Pressão por avanços em torno da diversidade

De acordo com Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil e entrevistada do Roda Viva no programa de maio deste ano, a representatividade negra na mídia aumentou a partir dos anos 2000 como um dos resultados da Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em Durban, na África do Sul.

“À medida que há um crescente de mobilização negra, ela se desdobra em maior participação e presença negra na mídia, que não costuma ser sustentável, ou seja, vem em ciclos. Tem mobilização negra, a presença acontece, se a mobilização se torna invisível, a presença desaparece”, destaca.

Atualmente, o Roda Viva é transmitido também pela internet, o que contribui para um contato direto com o posicionamento do público, gerado, principalmente, em redes sociais. Essa interação provoca cobranças por uma maior diversidade no programa, não só em relação aos entrevistados, mas também sobre as pessoas na bancada de entrevistadores.
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Com informações do Alma Preta. Leia o texto completo aqui.

Da abolição ao mito da ‘democracia racial’, clássico de Clóvis Moura retrata a relação da luta antirracista com a luta de classes

O negro: de bom escravo a mau cidadão? foi escrito por Clóvis Moura em 1977 . (FOTO/ Divulgação e Reprodução/Vermeho.org.)

Há 70 anos, Clóvis Moura (1925 – 2003) escrevia sobre questões que estão em pauta na atualidade. Nascido em Amarante, no Piauí, se tornou historiador, sociólogo, poeta, jornalista e, sobretudo, um grande intelectual de seu tempo. Envolvido na teoria de Marx, aprofundou-se nos estudos ligados à raça e às classes sociais nos tempos pós-abolição e deixou um notável legado ao movimento negro e a história do Brasil.

Uma parte deste material está no livro O Negro: De Bom Escravo a Mau Cidadão? (1977), reeditado este ano pela Dandara Editora, e tema de um curso promovido após o lançamento em agosto. Algumas vagas foram sorteadas entre os membros do Tamo Junto, programa de apoio à Ponte.

A obra é uma continuação do trabalho teórico do sociólogo em Rebeliões da Senzala: Quilombos, Insurreições, Guerrilhas (1959) e destrincha a situação da população negra na transição entre a Monarquia e a República brasileira e de que forma a estrutura racista da escravidão se perpetuou social e economicamente no país. Para contar esta história a partir de uma nova perspectiva, o autor divide seus estudos em três partes: da escravidão à marginalização, as lutas dos negos por emancipação na América Latina e a população negra como um grupo diferenciado de uma sociedade competitiva.

Clóvis Moura expõe as contradições do período pós-abolição, a partir de 1888, ao relatar em muitos dados estatísticos e pesquisas a condição desumana e de exploração na qual negros e negras se encontravam mesmo libertos, incluindo a falta de cidadania, auxílio e inclusão na sociedade, problemas que até hoje se refletem na marginalização dessa população. Com esta combinação, o desenvolvimento do Brasil, segundo o sociólogo, se apoiou em uma estrutura racista.

O autor também faz uma provocação no título da obra e indica que a história política e social, contada por brancos, reforçou um estereótipo racista sobre pessoas pretas, apagando suas lutas por resistência e por mobilidade social. Diante da repressão às culturas e religiões afrodescendentes, movimentos aconteceram em toda a América Latina e influenciaram no processo de independência das nações.

Todas estas reflexões propostas por Moura são objetos de estudo de pesquisadores como Gabriel Rocha, graduado em História, mestre em História Social e doutorando em História Econômica pela USP. Ele escreve o prefácio da nova edição do livro apontando a relevância dos estudos do sociólogo dentro e fora da academia, repertório ainda pouco conhecido por grande parte dos brasileiros.

Em entrevista à Ponte, Gabriel diz que só teve um contato maior com a obra quando tornou-se pesquisador, pois algumas publicações de Clóvis Moura só contaram com apenas uma edição. Ele também destaca os principais pontos da contribuição que o sociólogo deixou em seus 78 anos de vida.

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Com informações da Ponte Jornalismo. Leia a entrevista completa aqui.