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Montagem com o coração de Dom Pedro I e pintura do imperador - Divulgação / YouTube / portoponto e Arquivo Nacional. |
Previsto
para chegar ao Brasil na próxima segunda-feira, 22, o coração de D. Pedro I
será usado nas comemorações do bicentenário da Independência em eventos
especiais realizados em Brasília, após quatro meses de negociações para o
empréstimo e transporte adequado do órgão.
No
entanto, a medida divide opiniões da classe científica brasileira devido à
validade da medida e custo alto. Um dos críticos do empréstimo é o escritor e
pesquisador Paulo Rezzutti, autor de diversos best-sellers relacionados a
história do Brasil Império, incluindo "Dom Pedro, a história não contada”,
vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura de 2016, na categoria biografia.
Em
entrevista exclusiva ao portal Aventuras na História, ele não apenas manifestou
ser contra a chegada do coração do imperador ao país, como justificou relatando
o real desejo do próprio D. Pedro I em relação a conservação e localização do
órgão.
História por trás
Como
explica Paulo, D. Pedro abdicou do trono brasileiro, em 7 de abril de 1831,
partiu para a Europa em meio ao caos político com seu irmão, D. Miguel, tomando
o poder.
No
Velho Continente, ele prepara uma tropa na França e invade Portugal,
primeiramente parando em Açores e, por fim, retomando a grande cidade de Porto,
no entanto, acabou contraindo tuberculose durante um cerco — doença que o
vitimaria fatalmente.
Quando ele morre, em 1834, [...] D. Pedro I pede duas coisas como desejo final. A primeira, que ele seja enterrado como um soldado da filha, com uniforme de general do décimo batalhão de caçadores. E eu vi os restos mortais deles, e o uniforme estava só com condecorações portuguesas. E ele deixa, por vontade própria, o coração em Porto, onde sofreu o cerco”, explica Paulo.
A
decisão não se deu apenas pela localidade; o palácio onde passou os últimos
dias de vida era o mesmo onde nasceu e cresceu. Assim, optou por doar o órgão
para a cidade e construindo sua imagem de herói romântico e patriota.
Rezzutti
acrescenta que o plano inicial era armazenar o órgão na Câmara Municipal, mas a
viúva, Dona Amélia, avaliou que a Igreja da Lapa, frequentada pelo marido em
vida, era o local apropriado.
Direção contrária
A
conservação, realizada pelo doutor João Fernandes Tavares, utilizou de métodos
disponíveis na época para realizar o melhor trabalho possível. Contudo, os
líquidos escolhidos para a conserva causam uma espécie de inchaço nos tecidos
do órgão quando estão em contato com a luz. Dessa forma, o coração fica em uma
caixa fechada, despertando curiosidade sobre o uso do órgão em terras
tupiniquins.
“A
única coisa que D. Pedro I pediu foi para que o coração ficasse no Porto.
Então, por que o Brasil, que quer homenagear ele, quer trazer o coração para
cá? Se o corpo já está aqui! Outra questão é que veremos uma caixa fechada, o
coração não ficará exposto. E o terceiro ponto: por que iremos adorar o
coração? Qual o simbolismo do coração? É um retrocesso”, enfatiza o escritor.
Além
disso, o escritor acrescenta sua experiência na curadoria de exposições
relacionadas a artigos históricos. O transporte e manutenção de peças
extremamente delicadas são caros e ainda requer o amparo de um seguro
apropriado, que não é barato.
Quanto vai ser o seguro para trazer esse coração? E o que não poderia ser feito com esse dinheiro em prol da educação e preservação da nossa memória? Então eu não sou a favor disso”, concluiu.
200 anos da Independência
Para
o bicentenário da Independência do Brasil, Rezzutti lançou um box comemorativo
com as edições ampliadas e em capa dura, das biografias que relembram a saga da
imperatriz Leopoldina (D Leopoldina - A mulher que arquitetou a Independência
do Brasil) e d. Pedro I (D Pedro I - O homem revelado por cartas e documentos
inéditos).
Além
disso, o escritor também lançou um novo volume da rica série “A história não
contada”. Em 'Independência: a história não contada: A construção do Brasil:
1500-1825', Rezzutti explica o longo processo que resultou no Grito do Ipiranga
e um pouco do que veio em seguida: o nascimento e a construção – ainda em curso
– de um país.
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Com informações portal Aventuras na História.