Ciranda nordestina conquista título de Patrimônio Imaterial do Brasil

 

Na imagem da matéria, Lia dança acompanhada pelo grupo Nossa Cultura tem Som, composto por jovens de Itamaracá.

 Essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós”, diz uma das canções mais icônicas de Lia de Itamaracá. Nesta semana, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu que a cirandeira tem razão e concedeu título de Patrimônio Imaterial do Brasil para a ciranda, brinquedo popular do nordeste brasileiro. A condecoração foi anunciada pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e comemorado por uma das mais fortes referências da manifestação cultural. Lia, que é um dos nomes fundamentais para a valorização do gênero, considerada sua embaixadora, falou de sua alegria durante evento de reabertura da Casa do Carnaval na última terça-feira (31). O espaço, localizado no Pátio de São Pedro, Centro do Recife, abriga a exposição “Ciranda de todos nós”.

Saiu tarde. Mas antes tarde do que nunca”, comentou Lia, com seu característico bom humor sobre o título votado na 97ª reunião do Conselho e transmitido pela internet. Ao lado de representantes da gestão pública como o prefeito do Recife, João Campos, e da secretária da Cultura, Lêda Alves, a cantora festejou o título e homenageou os mestres e mestras que perpetuam a cultura cirandeira.

O pedido para registro da Ciranda do Nordeste no Iphan foi feito pelo ex-governador Eduardo Campos, em 2014, por meio da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Em 2019, o estado realizou outra ação para assegurar o registro, fazendo a coleta de assinaturas durante a Feira de Artesanato (Fenearte), que homenageou a ciranda. Pesquisadores qualificados e com conhecimento prévio sobre o tema da Associação Respeita Januário foram os responsáveis pela construção do INRC, que é composto por um relatório analítico, um vídeo documentário, fichas de identificação, registros audiovisuais e um dossiê. Como resultado da pesquisa, foram localizadas informações sobre 28 grupos de cirandas em Pernambuco.

A ciranda é uma manifestação popular que reúne música e canto acompanhados de instrumentos percussivos, além de uma dança em roda onde as pessoas se dão as mãos. O ritmo está presente na cultura de estados nordestinos como Paraíba e Pernambuco. Por unanimidade, o conselho decidiu pelo reconhecimento do bem como Patrimônio Cultural do Brasil, sendo inscrito no Livro de Registro das Celebrações.

Lia de Itamaracá, cirandeira mais popular do mundo, comemorou a conquista. Ela, que é patrimônio vivo de Pernambuco há mais de 15 anos, participou da cerimônia que marcou a reabertura da Casa do Carnaval no Recife ao lado de outro nome importante, Cristina Andrade, cirandeira do Recife.  Estou muito feliz com essa conquista. Espero ver cada vez mais as rodas ocupando as ruas da cidade”, comentou.

Em um momento de crise pandêmica, os artistas populares ainda sofrem com os impactos. Totalmente imunizada, Lia começa a retomar algumas agendas e ainda busca mais apoio para a conclusão do centro cultural que mantém em Itamaracá. Em breve, a cirandeira, que também atuou como merendeira por mais de 25 anos, deve iniciar um projeto em sua cidade de valorização de mestres e mestras do Estado.

Exposição

Ciranda de todos nós conta a história da tradição, feita de dança e música, tecida na oralidade e repassada literalmente de mão em mão, nos círculos geracionais da Zona da Mata Norte de Pernambuco e no litoral da Região Metropolitana do Recife. A mostra reconstrói as origens e principais elementos ciranda, além de exibir instrumentos musicais e celebrar mestres e mestras que já giraram essa roda, com citações impressas nas paredes. No chão, projeções conduzem até os menos habilidosos pés na geometria da cadência cirandeira. Para ouvir as músicas e histórias da ciranda, QR Codes espalhados na exposição convidam à experiência sonora do agora declarado patrimônio cultural.  Nomes como Mãe Beth de Oxum, Mestre Biu do Ganzá e Antônio Baracho também fazem parte da mostra que pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, na Casa do Carnaval.

Casa do Carnaval

O Centro de Formação, Pesquisa e Memória Cultural Casa do Carnaval possui 31 anos de fundação e ficou um longo tempo fechado para restauração. Após conclusão das obras e reinvindicações populares, o espaço reabre para atendimento presencial do público com instalações físicas e acervos recuperados. O espaço cultural, mantido pela Prefeitura do Recife, foi, ao lado da Escola de Frevo, um dos primeiros alvos do Move Cultura, definido como prioridade da nova política cultural.

A Casa do Carnaval está localizada no Pátio de São Pedro, território que representa o legado de homens e mulheres negras de Pernambuco. O local é composto por um conjunto de 29 casas baixas coloniais, com um ou dois pavimentos, que foram tombadas pelo Iphan em 1938. Apesar de sua importância história, a área sofreu grande desvalorização, o que tem sido alvo de críticas por parte do movimento negro há alguns anos. É no Pátio de São Pedro que acontece a tradicional Terça Negra, fundada pelo Movimento Negro Unificado.

 "Retomamos a discussão sobre o Pátio de São Pedro. Ele é uma prioridade da gestão. Estamos submetendo o projeto de requalificação do Pátio ao BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e se essa alternativa não for viável nem confirmada vamos partir para outras iniciativas. Têm sido feito um estudo e diagnóstico bem cuidadoso sobre cada espaço que está aqui para pensarmos um projeto que de fato tenha sustentabilidade", ressaltou o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Dantas.  

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Com informações do Alma Preta.

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