Centro de Crato-CE (FOTO/ Reprodução/ Prefeitura do Crato-CE.). |
Por Alexandre Lucas, Colunista
Enquanto
caminhava, cantava “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não
atiça o formigueiro”, seguia um percurso coberto pelo sol de setembro, quente,
que fazia franzir os olhos. Bandeiras de todas as cores se transavam no vento,
talvez simbolizando o desejo do abraço, num tempo em que o abraço está proibido
e que as pernas e os braços ainda são poucos. Os desejos são infinitamente
maiores que nossas pernas e nossos braços.
Seguia
cantando, mas o grito ainda era pequeno, como um choro para dentro, onde somente
os mais próximos escutam.
A
cada pisada pelas ruas, entre cantos de contestação e esperança, olhava para
pessoas que não nos seguiam. Elas ficavam paralisadas nos recantos das suas
portas e janelas, os olhos pareciam pintados, como os de bonecas, estáticos e
sem sensibilidade.
Quase
que fiquei angustiado, quase que acreditei que aqueles olhos do recanto das
janelas e portas não faziam parte do formigueiro que cantava.
Do
lado de lá, de verde e amarelo, com bandeiras dos Estados Unidos e de Israel,
roubam a pátria, a esperança e edificam o ódio. Abriram um bingo para vender e
comprar mentiras, nem Jesus foi salvo, teve a sua palavra negociada por fuzis,
enquanto diminuem o feijão.
Pisa ligeiro, pisa ligeiro, para que sejamos um grande formigueiro com feijão, democracia e olhos traquinos de esperança e felicidade.
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