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(FOTO/Marcelo Camargo/Agência Brasil). |
Em
11 dias, Bolsonaro defendeu o nepotismo; disse que a fome no Brasil era uma
"grande mentira"; atacou o Nordeste; difamou a jornalista Miriam
Leitão; afirmou que dados de satélite mentem sobre o aumento no desmatamento da
Amazônia; defendeu censura à Agência Nacional de Cinema; atacou a repórter
Talita Fernandes que questionou o porquê dele ter levado parentes ao casamento
do filho em um helicóptero da FAB; ameaçou prisão ao jornalista Glenn Greenwald
e agrediu seu companheiro e filhos; menosprezou o respeito ao meio ambiente,
dizendo que apenas veganos se importam com isso; e brincou com a dor alheia ao
dizer que poderia contar ao presidente da OAB o paradeiro de seu pai, Fernando Santa
Cruz, preso e torturado pela ditadura e desaparecido desde 1970. Diante da
repercussão, refugou como sempre, dando outra declaração – de que ele foi morto
por organizações de esquerda. Nos registros da Comissão da Verdade, ele foi
morto pelo Estado.
Sabe-se
que esse é o Bolsonaro real, o Bolsonaro-raiz. E ele não é um estelionato
eleitoral, como já disse neste espaço, mas é, grosso modo, aquilo que
prometeu. Após assumir, o presidente
tentou usar a fantasia de "paz e amor". Mas claramente não se sente
tão confortável nela quanto nos momentos em que resolve se despir de qualquer
laço que o conecta à civilização. Por que o rei bradou nu nestes 11 dias? Aqui,
há cinco possibilidades:
1)
Ele está aproveitando o período de recesso do Congresso e do STF para ocupar o
maior espaço possível no debate público e dar um reforço de sua existência não
apenas na memória dos eleitores, mas também na população em geral. Para tanto,
a cada dia estabelece uma nova marca na corrida do absurdo, habitando
continuamente as homes pages do jornalismo e os trending topics das redes
sociais. É o nível avançado do "falem mal, mas falem de mim".
Vender-se como "sincerão", contestador, independente do conteúdo,
atrai a atenção de determinados segmentos sociais.
2)
As declarações podem esconder indicadores negativos ou fatos com maior
potencial de dano junto à opinião pública – como o caso de usar um helicóptero
das Forças Armadas para transportar os parentes para o casamento do filho para
o qual o contribuinte que pagou o combustível não foi convidado (vale lembrar
que isso já aconteceu com outros políticos, do PT ao DEM, mas o presidente
gosta de dizer que pertence à "nova política"). Ou dificultar o
aprofundamento do debate público sobre a indicação do próprio filho ao cargo de
embaixador nos Estados Unidos por simples questão de parentesco. Ou nublar a
discussão sobre a privatização da BR Distribuidora, que aconteceu e pouca gente
viu.
3)
Aberrações tendem a ser produzidas para servirem como cortina de fumaça e
esconder atos do governo, como decretos, portarias e nomeações publicadas na
surdina e que beneficiam uns em detrimentos de muitos. Convém, portanto, que
após um pacote de declarações violento, mentiroso ou criminoso, o Diário
Oficial da União seja consultado. O problema é que as redações, não raro, não
têm jornalistas o suficiente para cobrir o impacto dessas aberrações,
questionar por que o governo não apresentou ainda um plano nacional para gerar
postos formais de trabalho e outro para reduzir a violência, investigar
escândalos de laranjais envolvendo o partido do presidente, procurar onde está
o Queiroz e ainda por cima ler minuciosamente o DOU.
4)
Bolsonaro aprofunda o estado bélico de sua comunicação, apostando em uma guerra
prolongada para manter seu um terço de apoiadores fiéis unidos contra o
"inimigo" – feito seu ídolo, Donald Trump. Inimigos são rotulados de
"comunistas". Abrangem parlamentares (aliados ou adversários) e
ministros do STF (responsáveis por freios e contrapesos ao poder presidencial),
além de jornalistas, artistas, professores, estudantes, movimentos sociais e
qualquer um que critique sua política medieval em costumes e comportamento. Com
isso, sua base lutará contra Moinhos de Vento (das mamadeiras de piroca,
passando pelas Golden Showers aos kits gays), enquanto Dom Quixote passa pano para
o filho senador que não presta esclarecimentos ao Ministério Público sobre suas
movimentações atípicas.
5)
"Uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia." (Declaração
do ministro Luís Roberto Barroso, em sessão do Supremo Tribunal Federal. Foi
dirigida apenas ao ministro Gilmar Mendes, em 21 de março de 2018. Mas dizem que
é atemporal e multiuso.).
___________________________________
Por
Leonardo Sakamoto, em seu Blog.
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