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Joelmir Pinho - um dos fundadores da EPUCA e coordenador da Semana Freiriana do Cariri. (FOTO/Reprodução/Facebook). |
A VI Semana Freiriana do Cariri, uma iniciativa da Escola
de Políticas Públicas e Cidadania Ativa (EPUCA), será realizada este ano entre os
dias 15 e 21 de setembro. O Blog Negro Nicolau (BNN) indagou ao professor, escritor e
um dos fundadores da EPUCA, Joelmir Pinho, sobre a importância deste evento em
um momento de retrocessos na educação e de constantes ataques a um dos maiores
pensadores do mundo e que da nome a semana – o nordestino Paulo Freire.
Joelmir respondeu através de artigo enviado a
redação do blog por correio eletrônico. Confira abaixo:
Paulo
Freire nunca foi tão necessário
Por
Joelmir Pinho[1]
Entre os dias 15 e 21 de setembro desse ano o
Cariri cearense será palco da 6ª Semana
Freiriana do Cariri, uma iniciativa da Escola de Políticas Públicas e
Cidadania Ativa [EPUCA], organização da sociedade civil, sem fins lucrativos,
com sede na cidade do Crato.
O evento se realizará no contexto das ameaças a
direitos humanos fundamentais e à própria vida, em curso no Brasil e em outras
partes do mundo, movidas por uma cultura de ódio, intolerância e negação do
outro que tem pautado a jornada humana nesse planeta nos últimos tempos.
No Brasil, orientações recentes do Ministério da
Educação e declarações do ex e do atual titular da pasta no [des]governo
Bolsonaro, apontam na direção de retrocessos que podem comprometer seriamente
conquistas importantes nas Políticas Públicas de Educação, além de
representarem o tolhimento de direitos individuais e coletivos de educadores e
educandos, devendo somar-se a isso, ameaças escancaradas à liberdade de cátedra
prevista no artigo 206 da Constituição de 1988. O texto constitucional
estabelece que o ensino será ministrado com base no princípio da liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber,
assegurado o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.
Paulo Freire, uma das maiores expressões da
educação em todo o mundo e patrono da Educação no Brasil desde o dia 13 de
abril de 2012 [Lei 12.612/2012], passou a ser tratado pelo atual governo como
inimigo público número 1, em que pese a valiosa contribuição do educador
pernambucano para a educação do nosso país e, sobretudo, para a alfabetização
de adultos.
Para além das temáticas diretamente relacionadas ao
ensino e às práticas pedagógicas, a Semana Freiriana do Cariri tem se revelado
um espaço privilegiado para o diálogo e a reflexão sobre questões éticas e
sobre a urgência de um novo paradigma, já em construção, centrado na vida e
numa perspectiva ecológica profunda.
Vivemos o vazio deixado pelo apodrecimento do velho
paradigma - que já não nos serve, não por ser velho, mas por negar
violentamente a vida humana e não humana – e o parto inconcluso de um novo
paradigma, em andamento, que nos permitirá vencer o medo e reaprender a amar.
Em outras palavras, vivemos tempos de desesperança e medo.
Como escrevi recentemente em artigo publicado no meu
blog e incorporado à coletânea de ideias e opiniões que compõem o livro
Janelas, lançado no mês de junho desse ano pelo selo editorial IbiKariri,
diferente do que nos ensinaram, o contrário do amor não é o ódio, mas o medo. O
ódio é, tão somente, reflexo, decorrência do medo. A questão central aqui é:
chegamos a um nível tal de adoecimento [individual e coletivo] e de imperativo
da cultura do medo, que nosso maior desafio no século XXI passou a ser
reaprender a amar.
Assim, para que o amor floresça e seus frutos
possam ser colhidos pela espécie humana e por toda biosfera, precisamos vencer
a matriz cultural do medo, tão fortemente arraigada em cada um de nós e nas
nossas falidas estruturas institucionais. Precisamos encerrar o ciclo vicioso
de ódio, indiferença e intolerância, propagado à exaustão nos últimos tempos,
que tem nos aprisionado, durante séculos, a padrões vibracionais adoecidos, a
comportamentos que rejeitam a diferença, ignoram a diversidade, negam a vida e
ameaçam a continuidade da espécie humana e a unidade cosmológica essencial à
regeneração da vitalidade da Terra, tão seriamente comprometida pela nossa
cultura de medo e desamor. Pela nossa ausência de cuidado e nossa irresponsável
arrogância antropocêntrica.
Neste sentido, refletir sobre educação a partir do
cuidado, da amorosidade e da inquietude de Paulo Freire é tarefa urgente e
inadiável. O educador português José Pacheco [Escola da Ponte], um dos
convidados da sexta edição da Semana Freiriana do Cariri, nos ensina que tão
importante quanto denunciar, é anunciar. Como costumamos dizer em relação à
Semana Freiriana do Cariri, é preciso seguir gerando desconforto de forma
amorosa. E isso temos visto acontecer deste a primeira edição do evento, em
2011. Apenas para registro, José Pacheco participou da segunda edição da Semana
Freiriana do Cariri, em 2012.
Além de José Pacheco, a sexta edição da Semana
Freiriana do Cariri contará as presenças do professor, historiador, teólogo e
ator Henrique Vieira, do artista e pensador Eduardo Marinho, da jornalista,
escritora e documentarista Eliane Brum e da psicóloga e militante dos Direitos
Humanos Ana Vládia Holanda.
Uma das marcas dessa sexta edição do evento será a
integração de várias agendas, outro importante desafio que esses tempos de
obscurantismo nos apresentam. Nessa direção, a Semana acolherá a realização de
dois importantes eventos: a edição estadual da Conferência Nacional de
Alternativas para uma Nova Educação - CONANE e o Encontro Regional de Educação
Popular em Saúde e Convivência com o Semiárido. Além disso a programação da #SFC2019
contará com um show de abertura, um espetáculo de encerramento, três exposições
fotográficas, duas oficinas e um minicurso.
As inscrições para o evento já estão abertas e
poderão ser feitas através do site portalepuca.org.
Através do mesmo site será possível comprar o e-book Janelas, cuja renda será
revertida, integralmente, para a apoiar a Semana Freiriana desse ano. Que
venha, pois, a 6ª Semana Freiriana do Cariri.
[1]
Joelmir Pinho é graduado em Administração Pública e Gestão Social pela
Universidade Federal do Cariri, de onde também foi professor substituto.
Escritor, blogueiro, curioso e eterno aprendiz, é um dos fundadores da Escola
de Políticas Públicas e Cidadania Ativa. Desde 2011 coordena a Semana Freiriana
do Cariri.
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