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A antropóloga altaneirense Josyanne Gomes é colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/Reprodução/Facebook). |
Quem nunca ouviu a frase “só vale quem tem”
ou ainda, “você só vale aquilo que você tem”, pois é, meus caros e minhas
caras, é muito comum que as pessoas se referiram às outras pessoas, desse modo.
É mais comum ainda, que avaliemos o outro pela roupa que se veste, pelo calçado
que se usa, pelo perfume que exala, pelo modo como determinada pessoa aparenta
determinado status social. Costumamos prestar atenção como determinada pessoa
se locomove, por exemplo, se é a pé, de transporte público, moto, carro,
bicicleta e por aí vai... Avaliamos também o tipo daquele meio de locomoção, se
é meio de transporte novo, usado, seminovo e etc.
Geralmente apontar o que determinada pessoa
possui, é uma espécie de conferir visibilidade aquele ser que antes, era
invisível aos olhos do capitalismo. Mas o que é Capitalismo, afinal? Se
lembrarmos das nossas aulas de história vamos nos remontar ao século XVIII,
quando lá na Europa, Inglaterra, para sermos mais precisos, a Sociedade passou
a se organizar de um modo diferente do que estava organizada até então. A
migração aparece nesse período como um momento de mudança, que marca e insere
transformações sociais e culturais para a época. Resultando assim em valores
Ocidentais modernos, aos quais estamos familiarizados até os dias de hoje, como
amor romântico, a construção social da família e da infância, noções de higiene
pessoal, e dentre tantas outras mudanças possíveis de serem citadas, não
podemos nos esquecer de um valor primordial cultivado essencialmente por nós,
que é o Individualismo.
É a partir daí que nasce a ideia de Sucesso,
Fracasso, Vitória, Derrota todas pautadas no valor individual e um reflexo da
nossa sociedade Ocidental Moderna e Capitalista. Portanto, pensar em “Vencer na
vida” não é nada mais, nem nada menos do que tomar para si a ideia de que seu
sucesso só depende de você e que se o fracasso vier, talvez é porque você ainda
não tenha se esforçado o suficiente ou até mesmo porque você não soube fazer
sua vida.
Se a gente parar para pensar só um pouquinho,
vai perceber que convencionalmente essa noção de “Dar Certo na Vida” diz
respeito a poder aquisitivo, poder de compra e consumo. Se a gente se esforçar
mais um pouco no pensamento, vai se dar conta de que o ideal de felicidade é
geralmente pautado pelas redes sociais, ou seja, a quantidade de fotos que
postamos em festas, em lugares atraentes, fazendo compras, exibindo looks
caríssimos, (que na verdade a gente sabe que nem vale tanto), degustando “bons”
pratos, ostentando drinks ornamentados, exibindo viagens internacionais, ainda
que estas tenham sido parceladas em inúmeras vezes no crédito. Por outro lado,
ou melhor, do outro lado da moeda desse sistema, temos aquela pessoa que não
posta tantas fotos assim, que não compra tantas coisas assim, que talvez seja o
perfil dela, ou não.
O fato é que esse texto é sobre a noção de
Fracasso versus Vitória no Capitalismo, e até parece que para a mídia e para
nós mesmos, vencer na vida signifique consumir. Ou, quem sabe, no mínimo, ostentar!
O que está em jogo o tempo todo não é a qualidade das relações pessoais, das
coisas mesmo que consumimos por necessidade, ou tampouco o sentido que
encontramos nessas coisas. O que parece sinalizar a todo momento é um alarme de
que “Dar Certo” é ter dinheiro, bufunfa, cash, Money, dindin, ou como se queira
chamar. Nessa lógica de acumulação, perdemos de vista o que realmente
interessa, a gente esquece que vencer na vida é também abraçar quem se gosta,
tirar um tempo para não fazer nada, rir do pouco que se tem e celebrar o dom de
se estar vivo/a e com saúde, esquecemos por fim, que vencemos na vida todos os
dias quando acordamos e saímos para a luta.
Vencer na vida não é só conquistar um
diploma, a casa própria, o carro do ano, a viagem dos sonhos, o emprego que
paga melhor, a conta que só aumenta os números, a mulher ou o homem mais bonito
(de acordo com padrões estabelecidos culturalmente), ou postar fotos e mais
fotos de consumismo. A gente vence na vida também quando se permite se
emocionar com algo simples, quando aprende algo novo, ou quando ensina, ao
contemplar a inocência de uma criança ou a espontaneidade de pessoas que são
boas de espírito e de alma, enfim, de repente a gente tá sempre vencendo e nem
sabe. A recíproca também é verdadeira, é possível que se fracasse achando que o
mundo inteiro está sob os nossos pés ou na palma das nossas mãos.
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Josyanne
Gomes é
graduada em Ciências Sociais pela Universidade Regional do Cariri (URCA),
mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e colunista do Blog Negro Nicolau.
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