A
Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc), por intermédio da 20ª e 18º
Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede 20 e 18),
realizaram entre os dias 18 e 20 de junho II Seminário Regional "Escola:
Espaço de Reflexão”.
Os
seminários tiveram como temática norteadora “Diversidade e Inclusão – Uma Perspectiva de Educação em Direitos
Humanos na Escola”. Para o professor Roberto Souza, Coordenador da Crede
20, o evento se configura como “uma necessidade desse tipo de debate ocorrer
nas escolas como espaço de formação dos sujeitos”. Segundo ele, “muito da nossa
formação humana ocorre na família, mas muito hoje pelo tempo que se passa no
espaço da escola, não se pode ignorar essas questões enquanto instituição, pois
contribui na constituição do caráter das pessoas e não somente na formação
cognitiva”. O professor mencionou também que o seminário já está presente na
agenda anual da Crede e realçou a importância de se levar as discussões para as
salas de aulas.
A
professora Coordenadora da Crede 18, Luciana Brito, argumentou acerca do
objetivo central do seminário que é o de colaborar no desenvolvimento de
práticas pedagógicas que corroborem para o pensamento crítico e reflexivo de
estudantes e docentes da rede estadual, levando em consideração a abordagem de
temas relacionados à cultura do respeito às diferenças.
Para
atender a essa expectativa as duas Coordenadorias contou com a articulação de
um grupo de trabalho regional que teve a frente os professores Fabrício Ferraz
(Crede 20) e Maria Alexandre (Crede 18). Na primeira, o evento foi realizado na
EEEP Professor José Osmar Plácido da Silva no município de Barro no dia 18 e na
segunda no Centro de Educação de Jovens e Adultos Monsenhor Pedro Rocha (CEJA)
no município de Crato.
Mesas
de Debates e Oficinas foram organizadas e vários convidados e convidadas para
conversarem acerca de temáticas que versassem sobre o respeito e a valorização
das diversidades. Em Barro, por exemplo, o professor, palestrante, blogueiro e
ativista dos direitos civis e humanos das populações negras pelo Grupo de Valorização
Negra do Cariri (GRUNEC), Nicolau Neto, debateu sobre a presença do racismo nos
espaços de poderes, com ênfase nas escolas. Nicolau trouxe a luz do debate que
contou com a participação de professores/as, gestores/as escolares, discentes e
pais vários questionamentos. Qual é a história que se percebe nas escolas
quando o assunto é humanidade e diversidade?; Qual é a história da África que
se constrói nas instituições de ensino?; Quanto a africanos e afrodescendentes,
qual lugar eles ocupam na construção da história?; Que imagens estão estampadas
nos livros didáticos?... Segundo o professor, a ideia não era apontar
respostas, mas chamar o público para refletir. “Se fizermos essas reflexões, veremos que não podemos baixar a guarda,
pois vivemos e convivemos com um racismo estrutural e institucional”.
Nicolau
fez menção ainda acerca de várias formas de manifestação do racismo, como a
explícita – agressões verbais e físicas, negação de ocupação de espaços ao
outro/a e a implícita, com destaque para o silenciamento pedagógico que é tão
cruel quanto. Para reforçar seu pensamento, Nicolau arguiu acerca das políticas
afirmativas, fruto principalmente da luta dos movimentos negros, como a Lei
10.639/03 que alterou a Lei 9.394/96 (LDB), tornado obrigatório o ensino da
cultura africana e afro-brasileira nas redes públicas e privadas de ensino.
Para ele, mesmo passados 15 anos de vigência da lei, poucas alterações foram
vistas no sentido de combate efetivo ao racismo e as desigualdades dele
resultante. “O que se aprende na escola, infelizmente”, disse ele, "ainda é
fruto de um currículo europeizante que torna invisível o povo negro. Ainda é
uma história que tem o negro e a negra como inferiores".
“A história na escola não é, nem de longe, uma história que diversifica, que valoriza e positive a comunidade negra, mas aquela narrativa que naturalizou a transformação de africanos em escravos”, pontuo Nicolau. Assim, disse, “fica difícil o combate ao racismo, pois umas das armas mais poderosas para isso, a educação escolar, não tem ainda apresentado um currículo que visibilize a negritude. É necessário, por tanto, uma educação que reconheça que é racista, uma sociedade e um país que reconheça que é racista, para que se efetive as políticas afirmativas já elencadas e que se construa outras de reconhecimento, de respeito e valorização das diferenças, com destaque para uma relação étnico racial positiva”. Ele concluiu realçando sobre a importante iniciativa do seminário, visto que é um é um ato de reconhecimento de que somos uma nação racista. E isso já é um passo.
Já
Homero Henrique, professor e assessor pedagógico na Coordenadoria de
Desenvolvimento Educacional e Aprendizagem (Codea, da Seduc), versou sobre
Gênero e Sexualidade, trazendo para discussão a necessidade de se ver no lugar do
outro, respeitando suas diversidades. Homero apresentou dados chocantes acerca
do feminicídio e da morte da comunidade LGBT no pais. “Somos um dos países que mais mata mulheres e pessoas que não se reconhecem
e não se identificam como homens e, ou, como mulheres”, disse ele,
apontando uma onda de discursos de ódio que tem ganhado corpo, principalmente
nas redes sociais.
Ana
Maria Nunes, diretora da Escola de Ensino Médio Dona Antônia Lindalva de
Morais, em Milagres e Rosenilde Alves, professor de História e Filosofia da
EEFM Simão Ângelo, de Penaforte, contribuíram na mesa de debate frisando sobre
ações permanentes desenvolvidas na escola acerca do eixo norteador das
discussões e acerca do momento político pelo qual passa o pais, respectivamente,
com Francisca Rosimar como mediadora.
A tarde houve o desenvolvimento de oficinas
com temas como “Brincadeiras Perigosas: Riscos e Impactos do Mundo Digital para
Crianças e Adolescentes” (Joel Jerry, Facilitador); “Quem ama não Agride: Relacionamentos
Abusivos na Adolescência” (Facilitador – Homero); “A Cultura do Debate e
Formação Política” (Francisca Rozimar, Facilitadora); “Sociedade Singular,
Gênero Plural” (Facilitador – Licaon Rocha) e “Ancestralidade, Etnia e
Corporalidade”, tendo como facilitador o educador popular João do Crato.
De forma semelhante, mas com algumas diferenças se desenvolveram os trabalhos em Crato. Nicolau Neto e Homero estiveram presentes na mesa de debate e reforçaram o que tinham conversado em Barro. Compuseram ainda a mesa de discussões Ercília Maria, pedagoga e professora pesquisadora do programa de pós-graduação em educação da Universidade Federal do Ceará (UFC) que falou sobre diversidade e intolerância religiosa, principalmente com as de matrizes africanas; a professora e psicóloga no CREAS em Crato Swianne Tavares que versou sobre direitos humanos e a Delegada Titular da Delegacia da Mulher em Crato, Kamila Brito. Esta última trabalhou as violências cometidas contra as mulheres. A mesa teve a mediação da professora doutora em educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professora adjunta do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri (URCA), Adriana Simião.
À
tarde, os participantes formados por docentes, estudantes e gestores/as
escolares foram segregados para participarem de grupos de trabalhos tendo como
finalidade apresentares planos de ação para serem implementados nas escolas. "Gênero e Sexualidade" teve a mediação do professor Homero Henrique e da
professora Selene Maria; "Mediação de Conflitos" foi facilitada pelo professor
Esdras Ribeiro; "Quem Ama Não Agride" teve a mediação da professora Maria Wilka e "Como Tratar o Racismo na Escola" foi mediada pelo professor Nicolau Neto e pelos ativistas do Coletivo Camaradas, Maria Renata e Ricardo Alves.
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