A esquerda pode ganhar de novo no Brasil, diz sociólogo Emir Sader



O tal do mercado e seus porta-vozes – da GV, da PUC e de outras instituições – bradam pelo medo de que se repita o resultado eleitoral de 2002. Naquele momento, depois de dirigir o país durante mais de uma década, a direita foi incapaz de impedir a vitória da esquerda. Teve que conviver então não com o fracasso da esquerda e do país, mas com o período de maior sucesso econômico, social e político do Brasil.

Emir Sader. (Foto: Reprodução/247).
Agora voltam a cacarejar com o medo de uma nova vitória da esquerda. Não é regra na história do Brasil a vitória da esquerda, porque ela se enfrenta a uma imensa quantidade de estruturas que jogam contra ela. Mas ela demonstrou não apenas que pode ganhar, como que pode governar muito melhor, ganhar sucessivamente eleições e só pode terminar seus governos com rupturas institucionais.

A esquerda pode voltar a ganhar. Em primeiro lugar, porque seu programa anti-neoliberal representa os interesses da grande maioria da população, afetada de forma direta e brutal pelas políticas neoliberais, impostas contra a vontade da grande maioria da população pelo golpe de 2016. As pesquisas indicam que o maior responsável pela falta absoluta de apoio popular do governo atual é sua política econômica, que destrói direitos dos trabalhadores, liquida com as políticas sociais que atendiam a toda a população, que joga a autoestima dos brasileiros pra baixo.

Um governo que represente a retomada do projeto que mais sucesso e apoio teve na história do Brasil, que obteve mais consenso em toda a população, que diminuiu as desigualdades sociais, que terminou com a fome e o abandono da população mais pobre, tem todas as condições de triunfar de novo. Na era neoliberal, a esquerda tem a obrigação de galvanizar o apoio da grande maioria da população e governar para todos.

As enormes dificuldades da direita de conseguir ter candidatos que possam competir com a esquerda confirma que todos os nomes que se identificam com o governo atual e sua política econômica não conseguem apoio popular. O cenário é favorável a uma nova vitória da esquerda em termos de capacidade de representar a grande maioria dos brasileiros.

O medo da direita retoma as condições da sua derrota em 2002 e se dá conta que o cenário é similar: profunda recessão provocada por suas políticas, o maior nível de desemprego que o país já viveu, a miséria, o abandono dos mais pobres, a quantidade de gente morando nas ruas, a profunda exclusão social. A diferença vem das conquistas dos governos da esquerda: a quantidade de reservas que o país dispõe.

O país, a grande maioria da população, não tem por que ter medo de uma nova vitória da esquerda. Suas condições de vida melhoraram muito com a esquerda governando o país e pioraram muito quando a direita voltou a governar. Mentiras de que os investimentos estão sendo feitos e programados e poderiam deixar de sê-lo, caso a esquerda volte ao governo. A recessão indica como os empresários não estão fazendo investimentos produtivos, mas apenas jogando suas fortunas na especulação financeira, que não gera nem bens, nem empregos.

É de novo, como foi em 2002, totalmente artificial a tentativa de gerar medo na população por uma nova vitória da esquerda. Nada pior do que o país vive atualmente, nunca viveu uma situação de totalmente abandono do poder público em relação às necessidades do Brasil e da sua população. Temos que ter medo de todo tipo de manipulações que pudessem permitir a continuidade do que o país vive nestes anos, sob o governo ilegítimo instaurado pelo golpe.

Não é natural que a esquerda triunfe. Se, apesar de todas essas condições sociais favoráveis, ela não é capaz de convencer a grande maioria da população de que é capaz de voltar a governar, mostrando como seu governo atendeu às necessidades da grande maioria dos brasileiros, não voltará a triunfar e a governar o país. Se ela não é capaz de construir uma força política, que agregue a todas as forças interessadas em superar a crise atual com a retomada do modelo econômico de crescimento com distribuição de renda, apresentando um nome que personifique o período mais virtuoso da história do Brasil, pode não triunfar.

E precisamos e merecemos triunfar. (Por Emir Sader, colunista do 247).

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