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Educação antirracista é tema da edição de 2023 do Escola Espaço de Reflexão

 

Professor Nicolau Neto durante "Colóquio 9 - Cosmopercepção dos Povos Originários", nesta quarta, 22 pelo Google Meet.

A Secretaria da Educação (Seduc) deu início, nesta terça-feira (21), a mais uma edição do “Escola Espaço de Reflexão”, iniciativa criada em 2017 com o objetivo de mobilizar as unidades de ensino da rede estadual em torno do debate sobre a formação crítica e reflexiva dos estudantes. Nesta ocasião, o tema escolhido foi “o letramento racial e os desafios para uma escola antirracista”. O evento está sendo realizado de maneira virtual, por meio do canal no Youtube da Coordenadoria Estadual de Formação Docente e Educação a Distância (Coded/CED), e segue até esta quarta-feira (22).

A webinar de abertura contou com a participação da secretária da Educação, Eliana Estrela; da procuradora de Justiça Elizabeth Almeida, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Educação do Ministério Público do Estado (Caoeduc/MPCE); e da coordenadora executiva do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-racial do Estado do Ceará, Glória Bernardino.

Eliana Estrela aponta que o Seminário é uma oportunidade para refletir sobre o processo de ensino e aprendizagem, levando em conta a realidade vivenciada nas unidades de ensino. A partir disso, segundo a gestora, pode-se criar estratégias com o intuito de fazer da escola uma instituição mais equânime e plural.

Temos desafios e sabemos que precisamos avançar. Seguimos na defesa de uma educação de qualidade e, por isso, criamos a Secretaria Executiva da Equidade, Direitos Humanos, Educação Complementar e Protagonismo Estudantil. Queremos fortalecer a pauta da diversidade e do respeito mútuo. Já tínhamos uma caminhada nesta direção, com formações de professores, compartilhamento de boas práticas nas escolas e disponibilização de material didático. Mas, buscamos meios para estar mais próximos das temáticas que precisam de um olhar sensível”, enfatiza a secretária.

Consciência de todos

Elizabeth Almeida considera o seminário como de grande relevância, por propiciar debates sobre temas essenciais para o desenvolvimento da educação, reconhecendo o ambiente escolar como local de promoção da cidadania.

O momento de hoje reflete os esforços para a realização de uma educação antirracista e de uma sociedade que consiga, efetivamente, promover o bem de todos, conforme previsto na nossa constituição federal. A luta pela superação do racismo é tarefa de todos e de qualquer educador, independentemente do seu pertencimento étnico-racial, crença religiosa ou posição política”, ressalta a procuradora.

Glória Bernardino defende a necessidade de que o currículo se aproxime da realidade dos estudantes. “Queremos construir uma educação que leve o estudante em conta como ele realmente é. A educação do Ceará é feita por negros, brancos, surdos, cegos, autistas, entre muitos outros. E todos nós queremos ter o prazer de nos ver na escola, de forma inclusiva, cultivando valores. É possível educar para a prática da liberdade. O racismo afeta a cada um de nós. A cor da pele, muitas vezes, ainda determina o nosso destino nesse país. Temos que acabar com esse processo. Racismo é opressão”, aponta.

Após a abertura, foi apresentada a conferência “20 anos da Lei 10.639: por uma educação antirracista e equânime”, ministrada pela pesquisadora Zuleide Fernandes, membro do Fórum Permanente de Educação das Relações Étnico-raciais do Ceará, que atua na área de educação, gênero, negritude e violência. O debate também contou com a exposição da professora Lorena Francisco de Souza, coordenadora do Núcleo de Estudos Africanos e Afrodiaspóricos na Universidade Estadual de Goiás (UEG). O diálogo foi mediado pelo secretário executivo da Equidade, Direitos Humanos, Educação Complementar e Protagonismo Estudantil da Seduc, Helder Nogueira.

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Com informações da Seduc Ce.

Credes 20 e 18 promovem II Seminário "Escola: Espaço de Reflexão" para discutir respeito e valorização das diversidades


Ana Nunes, Rosenilde Alves, Francisca Rosimar, Nicolau Neto e Homero Henrique em mesa de debate durante o II Seminário Regional Escola Espaço de Reflexão, em Barro-CE - da esq. para a dir -, (Foto: Prof. Fabrício Ferraz).

A Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc), por intermédio da 20ª e 18º Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede 20 e 18), realizaram entre os dias 18 e 20 de junho II Seminário Regional "Escola: Espaço de Reflexão”.

Os seminários tiveram como temática norteadora “Diversidade e Inclusão – Uma Perspectiva de Educação em Direitos Humanos na Escola”. Para o professor Roberto Souza, Coordenador da Crede 20, o evento se configura como “uma necessidade desse tipo de debate ocorrer nas escolas como espaço de formação dos sujeitos”. Segundo ele, “muito da nossa formação humana ocorre na família, mas muito hoje pelo tempo que se passa no espaço da escola, não se pode ignorar essas questões enquanto instituição, pois contribui na constituição do caráter das pessoas e não somente na formação cognitiva”. O professor mencionou também que o seminário já está presente na agenda anual da Crede e realçou a importância de se levar as discussões para as salas de aulas.

A professora Coordenadora da Crede 18, Luciana Brito, argumentou acerca do objetivo central do seminário que é o de colaborar no desenvolvimento de práticas pedagógicas que corroborem para o pensamento crítico e reflexivo de estudantes e docentes da rede estadual, levando em consideração a abordagem de temas relacionados à cultura do respeito às diferenças.

Para atender a essa expectativa as duas Coordenadorias contou com a articulação de um grupo de trabalho regional que teve a frente os professores Fabrício Ferraz (Crede 20) e Maria Alexandre (Crede 18). Na primeira, o evento foi realizado na EEEP Professor José Osmar Plácido da Silva no município de Barro no dia 18 e na segunda no Centro de Educação de Jovens e Adultos Monsenhor Pedro Rocha (CEJA) no município de Crato.

Mesas de Debates e Oficinas foram organizadas e vários convidados e convidadas para conversarem acerca de temáticas que versassem sobre o respeito e a valorização das diversidades. Em Barro, por exemplo, o professor, palestrante, blogueiro e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), Nicolau Neto, debateu sobre a presença do racismo nos espaços de poderes, com ênfase nas escolas. Nicolau trouxe a luz do debate que contou com a participação de professores/as, gestores/as escolares, discentes e pais vários questionamentos. Qual é a história que se percebe nas escolas quando o assunto é humanidade e diversidade?; Qual é a história da África que se constrói nas instituições de ensino?; Quanto a africanos e afrodescendentes, qual lugar eles ocupam na construção da história?; Que imagens estão estampadas nos livros didáticos?... Segundo o professor, a ideia não era apontar respostas, mas chamar o público para refletir. “Se fizermos essas reflexões, veremos que não podemos baixar a guarda, pois vivemos e convivemos com um racismo estrutural e institucional”.

Nicolau fez menção ainda acerca de várias formas de manifestação do racismo, como a explícita – agressões verbais e físicas, negação de ocupação de espaços ao outro/a e a implícita, com destaque para o silenciamento pedagógico que é tão cruel quanto. Para reforçar seu pensamento, Nicolau arguiu acerca das políticas afirmativas, fruto principalmente da luta dos movimentos negros, como a Lei 10.639/03 que alterou a Lei 9.394/96 (LDB), tornado obrigatório o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas redes públicas e privadas de ensino. Para ele, mesmo passados 15 anos de vigência da lei, poucas alterações foram vistas no sentido de combate efetivo ao racismo e as desigualdades dele resultante. “O que se aprende na escola, infelizmente”, disse ele, "ainda é fruto de um currículo europeizante que torna invisível o povo negro. Ainda é uma história que tem o negro e a negra como inferiores".

A história na escola não é, nem de longe, uma história que diversifica, que valoriza e positive a comunidade negra, mas aquela narrativa que naturalizou a transformação de africanos em escravos”, pontuo Nicolau. Assim, disse, “fica difícil o combate ao racismo, pois umas das armas mais poderosas para isso, a educação escolar, não tem ainda apresentado um currículo que visibilize a negritude. É necessário, por tanto, uma educação que reconheça que é racista, uma sociedade e um país que reconheça que é racista, para que se efetive as políticas afirmativas já elencadas e que se construa outras de reconhecimento, de respeito e valorização das diferenças, com destaque para uma relação étnico racial positiva”. Ele concluiu realçando sobre a importante iniciativa do seminário, visto que é um é um ato de reconhecimento de que somos uma nação racista. E isso já é um passo.

Já Homero Henrique, professor e assessor pedagógico na Coordenadoria de Desenvolvimento Educacional e Aprendizagem (Codea, da Seduc), versou sobre Gênero e Sexualidade, trazendo para discussão a necessidade de se ver no lugar do outro, respeitando suas diversidades. Homero apresentou dados chocantes acerca do feminicídio e da morte da comunidade LGBT no pais. “Somos um dos países que mais mata mulheres e pessoas que não se reconhecem e não se identificam como homens e, ou, como mulheres”, disse ele, apontando uma onda de discursos de ódio que tem ganhado corpo, principalmente nas redes sociais.

Ana Maria Nunes, diretora da Escola de Ensino Médio Dona Antônia Lindalva de Morais, em Milagres e Rosenilde Alves, professor de História e Filosofia da EEFM Simão Ângelo, de Penaforte, contribuíram na mesa de debate frisando sobre ações permanentes desenvolvidas na escola acerca do eixo norteador das discussões e acerca do momento político pelo qual passa o pais, respectivamente, com Francisca Rosimar como mediadora.

A tarde houve o desenvolvimento de oficinas com temas como “Brincadeiras Perigosas: Riscos e Impactos do Mundo Digital para Crianças e Adolescentes” (Joel Jerry, Facilitador); “Quem ama não Agride: Relacionamentos Abusivos na Adolescência” (Facilitador – Homero); “A Cultura do Debate e Formação Política” (Francisca Rozimar, Facilitadora); “Sociedade Singular, Gênero Plural” (Facilitador – Licaon Rocha) e “Ancestralidade, Etnia e Corporalidade”, tendo como facilitador o educador popular João do Crato.

Professor Nicolau Neto conversando com professores/as, estudantes e gestores/as escolares sobre o racismo nas escolas no II Seminário Seminário Regional Escola Espaço de Reflexão, em Crato. (Foto: Prof. Paulo Robson).

De forma semelhante, mas com algumas diferenças se desenvolveram os trabalhos em Crato. Nicolau Neto e Homero estiveram presentes na mesa de debate e reforçaram o que tinham conversado em Barro. Compuseram ainda a mesa de discussões Ercília Maria, pedagoga e professora pesquisadora do programa de pós-graduação em educação da Universidade Federal do  Ceará (UFC) que falou sobre diversidade e intolerância religiosa, principalmente com as de matrizes africanas; a professora e psicóloga no CREAS em Crato Swianne Tavares que versou sobre direitos humanos e a Delegada Titular da Delegacia da Mulher em Crato, Kamila Brito. Esta última trabalhou as violências cometidas contra as mulheres. A mesa teve a mediação da professora doutora em educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professora adjunta do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri (URCA), Adriana Simião.

À tarde, os participantes formados por docentes, estudantes e gestores/as escolares foram segregados para participarem de grupos de trabalhos tendo como finalidade apresentares planos de ação para serem implementados nas escolas. "Gênero e Sexualidade" teve a mediação do professor Homero Henrique e da professora Selene Maria; "Mediação de Conflitos" foi facilitada pelo professor Esdras Ribeiro; "Quem Ama Não Agride" teve a mediação da professora Maria Wilka e "Como Tratar o Racismo na Escola" foi mediada pelo professor Nicolau Neto e pelos ativistas do Coletivo Camaradas, Maria Renata e Ricardo Alves.