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Cícera Nunes e Nicolau Neto durante evento de lançamento da 9ª Edição do Artefatos da Cultura Negra na UFCG, campus Cajazeiras, Paraíba. (Foto: Kássia Mota). |
A
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Cajazeiras (PB), promoveu
durante todo o dia desta segunda-feira, 11, ciclo de palestras voltadas a temáticas
da Africanidade e Afrodescendência no país. O evento faz parte do lançamento da
9ª edição do Artefatos da Cultura Negra.
Na
universidade, a ação tem a coordenação da professora doutora Kássia Mota e do professor
doutor Alexandre Joca, ambos do curso de Pedagogia que explicaram a necessidade
de se implantar dentro da instituição discussões mais efetivas acerca do combate
ao racismo e de fomento a articulações com outros sujeitos históricos engajados
nessa luta.
Para
tanto, foram convidados a professora doutora Cícera Nunes, vinculada à
Universidade Regional do Cariri (URCA) e o professor especialista Nicolau Neto,
membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC). Ambos discorreram sobre
a relação “Movimento Negro e a Universidade na Luta Antirracista”.
A
professora universitária Cícera Nunes fez um balanço das oito edições do
Congresso Artefatos. Segundo ela, o evento começou no ano de 2009 dentro do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, como o nome “Artefatos da Cultura Negra do Ceará”, tendo como compromisso de socialização dos estudos e pesquisa com a temática das relações raciais. Em 2010 foi realizada uma edição em Juazeiro do Norte como parte da atividade do programa de pós-graduação. Aqui foram defendidas a tese
de doutorado de Cícera Nunes que pesquisou “Os Congos de Milagres e
Africanidades na Educação do Cariri Cearense” e a dissertação de Kássia
Mota com enfoque sobre “Entre a Escola e a Religião: Desafios para
Crianças de Candomblé em Juazeiro do Norte”.
Nas edições seguintes o evento cresceu, ganhou destaque e visibilidade e passou a ser promovido de forma itinerante. A professora relata que o congresso veio para a URCA (Crato) em 2011. Ela discorre que somente em 2013 é que o congresso é transferido para o Cariri. Na URCA, ele está alocado dentro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais (NEGRER) e do Departamento de Educação.
Nas edições seguintes o evento cresceu, ganhou destaque e visibilidade e passou a ser promovido de forma itinerante. A professora relata que o congresso veio para a URCA (Crato) em 2011. Ela discorre que somente em 2013 é que o congresso é transferido para o Cariri. Na URCA, ele está alocado dentro do
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Da Esq. para Dir. (Kássia Mota, Nicolau Neto, Risomar e Cícera Nunes). Foto: Anderson Varella. |
Cícera
conta ainda que o artefatos é uma realização coletiva que agrega instituições
de ensino superior, a exemplo da URCA, UFCA, da Universidade do Tennessee e
IFCE (Juazeiro) e movimentos sociais, com destaque para o Grunec, a Cáritas
Diocesana de Crato e a ONG Aldeias. Para ela, o diferencial deste congresso
para os demais é que a cada ano há uma novidade, como o acampamento da
juventude em 2016 e a I Mostra de Cinema Africano do Cariri Cearense, com
exibições de documentários acompanhadas de rodas de conversa em várias
comunidades da região do Cariri cearense: quilombos, ONGs, escolas de educação
básica, praças públicas e outros lugares, parte integrante da edição deste ano.
Já
o professor Nicolau trouxe para a discussão uma reflexão acerca do papel do
movimento negro. Segundo ele, é preciso partir da premissa de que enquanto
coletividade, que promove ações políticas, educacionais e culturais, ele
reeduca a si próprio, a sociedade e o estado acerca das relações étnico-raciais
no país. O movimento negro tem que ter um objetivo explícito e não pode fugir
dele, tratando-se de emancipar os sujeitos que sempre tiveram e ainda tem sua
história negativada. É a partir dessa perspectiva que o movimento negro pode e
deve atuar, como um sujeito político que politiza, emancipa e ressignifica a
raça.
O
professor fez menção as várias formas de atuação e de mudança pela qual
passaram os movimentos negros, tendo como recorte temporal a proclamação da
república onde o pensamento europeizante era mais sentido. A Frente Negra
Brasileira (anos 30), O Teatro Experimentral Negro (décadas de 40 a 60), A
Imprensa Negra Paulista (anos 60 ) e os Fóruns da Política Educacional, tendo
tido discussões sobre raça na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em
1961. Todos estes movimentos ao trazerem para o público o debate sobre o
racismo e a necessidade de se construir estratégias políticas e educacionais
para a superação das desigualdade raciais, contribuíram para ressignificar a
raça, dando-lhe forma não inferiorizante de se manifestarem.
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Da Esq. para a Dir. (Willyan, Cícera Nunes, Kássia Mota, Anderson Varella e Nicolau Neto). Foto: Risomar. |
Citando
a pedagoga brasileira Nilma Lino Gomes, Nicolau afirmou que a partir dos anos
80 do século passado houve confluência de determinados fatores do racismo,
principalmente durante a ditadura civil-militar, que permitiram a formação de uma
organização coletiva de caráter nacional, como o Movimento Negro Unificado. É
aqui que ativistas negros passam a concluírem graduações e iniciam uma
trajetória acadêmico-político, tendo intelectuais engajados e com pesquisas
sobre o negro e a negra e suas historicidades como objetos/sujeitos de estudos.
Ainda segundo Nicolau, é nessa conjuntura que irá aparecer as ações afirmativas
como demanda real, com destaque para a modalidade cotas. Ao mencionar a criação
do Grunec em 2001, ele ressaltou que a partir de 2013 é perceptível algumas
mudanças fruto de muita luta, como por exemplo, a Lei 10.639/03, as cotas
raciais, as cotas nos concursos públicos e o Estatuto da Igualdade Racial).
Elas representam mecanismo de reconhecimento do racismo e ao mesmo tempo significa
medidas de combate as desigualdades raciais. Nicolau ainda frisou no campo dos
avanços, o I Seminário de Ações Afirmativas: a Implantação do Sistema de Cotas
realizado na URCA em fevereiro de 2017.
Para cada um desses avanços o membro do Grunec citava um retrocesso sob
o pano de fundo do aumento desenfreado de ondas conservadoras e racistas.
Por
fim, ele citou que a pouca presença de negros e negras nas universidades tem
mobilizado pouco estas instituições e trouxe a luz da conversa os dados do
censo da educação superior que apontou que entre 1997 e 2011 o percentual de
negros/as no ensino superior passou de 4 para 19,8%, o que em termos numéricos
significa algo de 13 milhões de jovens. Apesar disso, disse ele, os números não
são animadores vistos que somos um pais de maioria negra, afirmando outrossim
que há nesse caso um problema estrutural e institucional grave que precisa ser
resolvido. O debate sobre o racismo e as
desigualdades dele resultante sempre esteve posto, mas se faz necessário e
urgente um enfrentamento mais efetivo por parte das instituições governamentais, completou.
Após
as falas, universitários/as e professores/as fizeram intervenções. Destaque
para a fala de Anderson Varella, do curso de Pedagogia, que pontuou a
necessidade do debate e a urgência do ato de se reconhecer negro. Para ele,
isso é um ato político.
A
noite o evento seguiu com a palestra “A
pesquisa acadêmica em diversidade e a formação do sujeito pesquisador: compartilhando
experiências” desenvolvida por Kássia Mota, Alexandre Joca e Cícera Nunes.
A universitária Valesca, do curso de pedagogia abri e fechou o evento com
músicas que refletem as causas negras.
“Foi um dia de produção de conhecimento, de
diálogo, de ideias, de articulações.
Agradecemos a parceria de Cicera Nunes e Nicolau Neto. Até o Artefatos
na URCA!”, disse Kássia Mota ao classificar o evento.
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