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Estudantes da EEMTI Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda-CE. (FOTO | Professor Nicolau Neto). |
Para quem está concluindo o ensino médio e quer ingressar na faculdade, chegou uma época decisiva do ano: a inscrição no Enem. Mas o Exame Nacional do Ensino Médio pode beneficiar muito mais gente do que adolescentes prestes a concluir a educação básica e pessoas mais velhas que desejam cursar o ensino superior. Em 2025, o Enem volta a ser usado como forma de certificação do ensino médio, abrindo possibilidades para quem não conseguiu concluir os estudos na idade adequada.
Segundo
o Censo Demográfico de 2022, há quase 24 milhões de adultos no Brasil que
completaram o ensino fundamental, mas não o médio, e outros 49 milhões que
sequer finalizaram o ensino fundamental. Trata-se de um enorme contingente de
pessoas que não tiveram seu direito à educação básica plenamente garantido. No
entanto, nunca é tarde para promover justiça social.
Facilitar
o acesso ao diploma de ensino médio a quem não pôde concluir a educação básica
é uma forma de não abandonar quem ficou para trás. Sinalizar que há caminhos
para obter esse diploma e sonhar com melhores oportunidades é fundamental. Por
outro lado, o Enem não é a única via de certificação —investir na Educação de
Jovens e Adultos (EJA) é essencial para garantir a escolaridade de todos.
Esta
não é a primeira vez que o Enem é utilizado para certificação. Até 2016,
pessoas com mais de 18 anos podiam se inscrever no exame com essa finalidade,
desde que atingissem uma pontuação mínima. Contudo, a partir de 2017, essa
possibilidade foi retirada sob a justificativa de que o nível de exigência do
Enem era mais adequado a quem buscava ingresso no ensino superior.
A
mudança contribuiu para a queda no número de inscrições. Entre 2014 e 2016,
quando o Enem ainda valia para certificação, cerca de meio milhão de
participantes por ano eram não concluintes e não egressos do ensino médio. Esse
número despencou para 75 mil em 2017 e para menos de 20 mil em anos
subsequentes.
Ou
seja, ainda deve haver uma demanda reprimida de centenas de milhares de pessoas
em busca de uma alternativa para conquistar o diploma, que, para muitos, nunca
foi um sonho possível. A retomada da função certificadora pode ser também uma
estratégia do governo para impulsionar o volume de inscrições e retomar os
níveis que o exame já teve.
Entre
as vantagens da retomada, há a possibilidade de o candidato aproveitar a mesma
prova para tentar uma vaga no ensino superior e acessar bolsas de estudo. Além
disso, por ser aplicado nacionalmente e contar com isenção de taxa para
inscritos no CadÚnico, o Enem contribui para democratizar o acesso, inclusive
em regiões remotas. Por outro lado, a prova é extensa, exige bom desempenho em
todas as áreas e na redação, o que pode ser desafiador para quem está afastado
da escola há anos.
O
prazo de inscrição é curto —6 de junho. Por isso, é essencial que a divulgação
do processo alcance quem mais precisa: jovens que desejam seguir uma profissão
de nível superior, pessoas mais velhas que querem retornar ou ingressar no
ensino superior e, agora também, adultos que ainda não concluíram o ensino
médio.
Mais
do que abrir portas, essa conquista é motivação para transformar vidas.
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Texto de Priscilla Bacalhau, originalmente na Folha de São Paulo e replicado no Geledés.
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