Dona Angelita é rezadeira, mestra da dança São Gonçalo e poeta. Um símbolo da cultura viva do município de Altaneira. (FOTO/Heloisa Bitu). |
Texto | Nicolau Neto
Maria
Isabel, 77 anos, é uma mulher altaneirense que carrega os traços de seus
ancestrais indígenas. A fisionomia não nega e ela também não. Basta entregar um
conjunto de artefatos e ela logo decifra de onde vieram e como eram usados.
Filha
de Maria Glória da Conceição, a parteira Mãe Gulora, e José Serafim, poucas são
as pessoas que a conhecem pelo nome de batismo. Em Altaneira ela é Dona
Angelita, a mulher que reza. Muitos a procuram para “curar algum tipo de doença”. O historiador e servidor público do
município Aldemir Ribeiro garante que foi curado por ela. “Eu estava com dores nas costas e mal conseguia andar. Algumas pessoas
recomendaram Dona Angelita. A procurei e ela rezou e fiquei sem dores”,
disse ele durante o I Seminário Público do município com a temática “Que
Patrimônio Queremos Preservar?” realizado no último dia 27 no auditório da Escola de Tempo Integral 18 de Dezembro.
Ela
reza de tudo, disse Dona Neusa, 71 anos, amiga e companheira do grupo dos
idosos. “Ela canta músicas para Padre
Cícero que corta o coração, completa”. O dom da música revela outra face de
Angelita. Desde 2014 ela coordena o Grupo de São Gonçalo que emergiu durante a
Mostra Sesc Cariri de Culturas, em Crato, por meio do ponto de Cultura Projeto
Arca. Ela dança, canta, monta a coreografia em roda e ensina os passos aos dezesseis
integrantes do grupo que é mesclado, com adultos e jovens. Destes, doze são
mulheres.
A
mestra do São Gonçalo contou em uma entrevista em 2015 que o grupo tem boa
receptividade por onde passa, embora não tenha um calendário definido para a
realização da manifestação. A dança hoje é organizada em pagamento de promessa
devida a São Gonçalo. O promesseiro ou a promesseira é quem organiza a função,
administrando todo o processo necessário à realização deste ritual. É realizada
dentro de casa ou em local coberto, onde se arma um altar com a imagem deste
santo e outros de devoção do/a promesseiro/a. Em frente a este altar é que se
desenvolve toda a dança.
Além
de rezadeira e mestra da dança São Gonçalo, ela também está a frente da dança
do côco, dança do maneiro pau, reisado e arrisca na poesia. Duas delas sempre
estão presentes nos eventos realizados no município, seja relativo aos
encontros do grupo dos idosos ou a programações de cunho educacional e
cultural.
Um deles ressalta a figura da mulher:
“ Eu saúdo as companheiras,
Dizendo sim sem pedir nenhum segredo,
Participando do jeito que a gente
quer.
Xxxx
Participando do jeito que a gente
quer,
Participando sem medo de ser mulher” (Bis).
O outro faz menção aos encontros que
participa:
“Nosso encontro foi uma flor daquela mais
singular.
Se esta flor murchar tem água pra
aguar;
Sereno pra serenar.
Xxxx
Aonde o meu peito passa,
Ele geme e sente a dor,
Nos quatro cantos do mundo,
Bate palma e dando viva,
Nosso encontro foi uma flor”.
Dona
Angelita é um dos símbolos da cultura viva do município. É necessário uma
política de valorização dos mestres e mestras da cultura. Buscar inseri-los/as
nas escolas do município de forma que se tenha um diálogo constante entre
educação e cultura, estreitando, portanto, os laços entre escola e comunidade.
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