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Miniusina
dentro de aldeia da Terra Indígena Wawi transforma a polpa do
pequi em óleo;
2018 teve produção recorde e exportações para os Estados Unidos.
(FOTO/Rogério Assis/ISA).
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Grande produtor de soja da região de Querência (MT), o fazendeiro ofereceu à comunidade cursos para que indígenas pudessem trabalhar como operadores de máquinas agrícolas em sua propriedade. "O cacique respondeu que o fazendeiro não precisava mais nos procurar, porque a gente já tem o nosso trabalho", conta o indígena.
Winti
se referia à produção de óleo de pequi, fruto típico do Cerrado com múltiplas
aplicações culinárias, cosméticas e medicinais. O projeto dos kisêdjê foi
agraciado neste ano com o Prêmio Equatorial, com que o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) reconheceu 22 soluções de desenvolvimento
sustentável promovidas por comunidades locais e indígenas. Membros do grupo
viajarão a Nova York neste mês para receber o prêmio, durante a Assembleia
Geral da ONU.
A
atividade - uma das duas iniciativas brasileiras premiadas entre 847
candidaturas de 127 países - se soma a uma crescente lista de empreendimentos
reconhecidos internacionalmente com que indígenas brasileiros têm conciliado
geração de renda e preservação ambiental.
No
caso do óleo de pequi, a coisa vai além, pois os frutos são colhidos em terras
que estavam degradadas após terem sido ocupadas por pecuaristas no passado.
Depois de retomarem o território, nos anos 1990, os kisêdjê espalharam
pequizeiros pelas pastagens - que, aos poucos, vão recuperando sua feição
original de floresta de transição entre o Cerrado e a Amazônia.
A
lista de casos de sucesso inclui a produção de mel e de óleo de babaçu por
indígenas da bacia do Xingu e a instalação de miniusinas para beneficiar
produtos de ribeirinhos na região da Terra do Meio, no Pará. Entre os clientes
dos grupos estão marcas como Pão de Açúcar, Mercur e Wickbold, além de chefs
como Alex Atala e Bela Gil.
As
iniciativas se destacam num momento em que o governo Jair Bolsonaro defende
abrir terras indígenas para a mineração e a agropecuária, argumentando que as
atividades ajudariam melhorar as condições de vida dos grupos. O presidente
costuma dizer que o "índio não pode continuar sendo pobre em cima de terra
rica" - afirmação duramente criticada por indígenas presentes no 4º
encontro da Rede Xingu+, conferência de povos da floresta acompanhada pela BBC
entre 21 e 23 de agosto (leia mais abaixo).
14 etnias unidas no Xingu
Grupos
indígenas brasileiros mantêm graus variados de trocas econômicas com a
sociedade envolvente. Há situações em que as trocas são mínimas - caso de
alguns povos isolados na Amazônia - até grupos com relações comerciais antigas
e consolidadas. Em vários pontos do Brasil, comunidades indígenas ajudam a
abastecer mercados locais com frutas, peixes e legumes. Na região do Alto Rio
Negro (AM), por exemplo, boa parte da farinha de mandioca à venda em cidades é
fabricada por comunidades indígenas.
A
novidade é o surgimento de iniciativas que buscam agregar mais valor aos
produtos, focando, em muitos casos, públicos de grandes cidades do Brasil e do
exterior - como o óleo de pequi dos kisêdjê.
A
experiência do grupo com o item foi apresentada no encontro, ocorrido na Terra
Indígena Menkragnoti, no Pará. A reunião agregou líderes de 14 etnias indígenas
e de quatro reservas extrativistas da bacia do Xingu para debater o cenário
político brasileiro e alternativas econômicas a atividades que destroem a
floresta.
Ao
anunciar os vencedores do Prêmio Equatorial, o Pnud disse que os kisêdjê transformaram
"o status quo, recuperando suas terras tradicionais e desenvolvendo um
modelo empresarial inovador que usa árvores de pequi nativo para restaurar
paisagens, fomentar a segurança alimentar e desenvolver produtos para mercados
locais e nacionais".
A
outra entidade brasileira premiada foi o Conselho Indígena de Roraima (CIR).
Segundo o Pnud, o grupo "garantiu os direitos de 55 mil indígenas sobre
1,7 milhão de hectares de terras ao promover a resiliência ecológica e social
por meio da conservação de variedades de espécies tradicionais".
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Clique aqui e confira integra da matéria da BBC Brasil.
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