13 de fevereiro de 2018

Leonardo Boff critica servidão dos jornalistas da globo e diz ter pena de Leilane


(Foto: Reprodução/ Brasil 247).

O teólogo e escritor Leonardo Boff destacou nesta terça-feira, 13, as manifestações e críticas que o grupo Globo tem recebido neste carnaval. Em sua página no Twitter, Boff questionou como os jornalistas das empresas da família Marinho têm suportado tanto constrangimento.

"Com é que os jornalistas homens e as jornalistas mulheres da Globo estão suportando tanto constrangimento do que se viu e ouviu no Carnaval? É duro ter que assumir a ideologia retrógrada do Grupo Globo. Tenho pena da @LeilaneNeubarth", escreveu Boff.

Ao mencionar a jornalista Leilane Neubarth, Boff se referiu ao vídeo que viralizou nas redes sociais, que mostra a jornalista saindo do sério em transmissão ao vivo, quando um grupo de sambistas canta que "vai dar PT" atrás dela. 

            


"Os símbolos dizem mais que as palavras.O que a Tuiuti mostrou em símbolos tem mais efeito do que tudo o que nós,eu e outros dissemos em artigos e em twitters contra o golpe dado contra o Brasil.É mais que indignação.É desmascaramento da atual situação vergonhosa do governo atual", disse também Leonardo Boff.

A jornalista respondeu a Boff. "Com todo respeito, @LeonardoBoff guarde sua pena para as pessoas que passam necessidade ou precisam da sua ajuda. Eu sou uma profissional realizada, uma mãe feliz e uma mulher muito amada", disse Leilane.

"Jornalismo escravizado"

Além de Leonardo Boff, o jornalista Florestan Fernandes Júnior também criticou os jornalistas da Globo na cobertura do carnaval, especialmente da apresentação da escola Paraíso do Tuiuti.


"Ninguém no estúdio da Globo se atreveu a narrar o que via. Uma cena patética e constrangedora. Durante longos minutos as imagens mostravam uma plateia vibrando com o carro alegórico que trazia em destaque um Temer Vampirizado", retrata Florestan. "Só faltou a Tuiuti mostrar os repórteres escravos dos senhores da comunicação que não têm liberdade sequer para dizer o que todos viram em cores e ao vivo", diz ele (com informações do Brasil 247).

Confira as principais referências historiográficas do “Paraíso do Tuiuti”, uma das escolas de samba mais faladas de 2018


A Escola de Samba “Paraíso do Tuiuti” que entrou na Sapucai na primeira noite de Carnaval do Rio de Janeiro trouxe um enredo politizado ao fazer criticas contundente acerca do fim da escravidão através de um passeio pela historicidade. Do passado ao presente, a escola enfocou temas como a ausência de emprego e a perda de direitos em decorrência do golpe jurídico-parlamentar-midiático ocorrido de forma efetiva em 17 de abril de 2016 quando a Câmara dos Deputados autorizou para ter prosseguimento no senado o processo de impeachment da presidente Dilma. 

O Temer (MDB) que assumiu a presidência em 12 de maio de 2016 após o afastamento de Dilma Rousseff (PT) não escapou das críticas e foi percebido como um vampiro e cheio da grana – em contradição ao seu discurso que prega a crise financeira do país. No fim da apresentação não podia falar o grito de “Fora Temer. Tudo isso com transmissão ao vivo pela Rede Globo de Televisão. A emissora levou um tapa na cara como saudação.

Para a construção do enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, a escola que tem como presidente Renato Ribeiro Martins e carnavalesco Jack Vasconcelos precisou recorrer a várias fontes historiográficas, como “A Escravidão na África”, de Paul E. Lovejoy, “Dicionário da escravidão negra”, de Clovis Moura, “O Abolicionismo”, de Joaquim Nabuco, “A Escravidão no Brasil”, de Jaime Pinsk, “A elite do atraso – Da escravidão à Lava Jato”, de Jessé Souza, “Escravo ou Camponês? O protocampesinato negro nas Américas”, de Ciro Flamarion Cardoso, dentre outras.

Clique aqui e confira integra das referências historiográficas utilizadas pelo “Paraíso da Tuiuti”.








Beija-flor levou a intolerância e a corrupção para a avenida: “os filhos abandonados da pátria que os pariu”


Seguindo os passos de outras escolas que politizaram a Sapucaí, como Paraíso do Tuiuiti e Mangueira, na segunda-feira 12 foi a vez da Beija-Flor de Nilópolis fazer a sua crítica à política nacional. Última a cruzar a avenida, a escola optou por fazer um paralelo entre Frankstein, romance de Mary Shelley que completa 200 anos e as mazelas brasileiras.

A partir do samba-enredo “Monstro é aquele que não sabe amar. Os Filhos Abandonados da Pátria que os Pariu”, a escola resgatou o romance, essencialmente o fato de Frankstein ser lançado à própria sorte depois de criado, para questionar quem são os abandonados dessa pátria, quem são os que abandonam os filhos à própria sorte?

As 36 alas buscaram refletir as desigualdades sociais, a falta de respeito e o amor com o que é diferente. A ala “Imposto dos Infernos, por exemplo, trouxe a crítica à taxa cobrada desde o ciclo do ouro e relembrou o Brasil como o país que tem maior carga tributária. Já a ala “Corte da Mamata – Quadrilha no poder trouxe os passistas como ratos e abutres para mostrar os interesses dos líderes políticos. A corrupção também foi destaque na avenida, satirizada com colarinhos brancos e caixas de pizza.

A escola também não deixou de lado temas como a violência no Rio de Janeiro, a morte de policiais, a intolerância religiosa e das torcidas de futebol. O carro “A Intolerância”, por exemplo, fez menção a questões como xenofobia, preconceito, discriminação, feminicídio, racismo, rancor e homofobia. A cantora Pablo Vittar representou a luta contra a intolerância de gênero e Jojo Todynho a luta pela intolerância racial e xenofobia.

O desfile da escola agradou a arquibancada e repercutiu positivamente nas redes sociais. A Beija-Flor entrou nos trending topics do Twitter com média de 45 mil posts. (Com informações de CartaCapital).

A violência no Rio de Janeiro foi um dos temas retratados pela Beija-For. (Foto: Mauro PIMENTEL/ AFP)

12 de fevereiro de 2018

Quem pariu o clima de loucura na política não pode reclamar de Luciano Huck


Não acredito que Luciano Huck esteja preparado para governar o país. Mas como (ainda) vivemos em uma democracia, ele tem todo o direito de disputar o cargo mais alto da República se assim quiser e se cumprir os trâmites legais para tanto.

Tem sido interessante, contudo, a quantidade de políticos do PSDB nacional que vêm reclamando de sua intenção de competir.  Com já disse aqui, uma parte do partido, ao forçar um impeachment com provas frágeis (lembrando que a razão da cassação de Dilma Rousseff não foi a corrupção, mas os decretos de crédito suplementar e pedaladas fiscais) ao invés de esperar por um julgamento do caixa 2 de campanha (que contava com evidências concretas), ajudou a esgarçar instituições.

Depois, ao apoiar o grupo fisiológico e corrupto ligado a Michel Temer em nome de reformas que interessavam ao mercado financeiro e a grandes empresas e imaginando uma transição política que possibilitasse sua própria eleição à Presidência, o PSDB ajudou a construir o clima de vale-tudo. A publicização dos casos de corrupção, que jogaram para baixo a popularidade de Temer e a de Aécio Neves, levaram ambos a se abraçarem em nome da sobrevivência como parte do processo.

A percepção de perda de representatividade, de corrosão das instituições e de descrédito com a política continua crescendo. Esse clima abre caminho para algo novo. Que pode ser bom ou ruim. Esse ''novo'' irá governar com um Congresso Nacional que tende a ser mais sinistro do que esse que está aí, provando que Tiririca estava errado: pior do que está, fica. E, juntos, nos levar a algum lugar nunca antes visto, inclusive para longe da democracia. Afinal de contas, no fundo do poço, há sempre um alçapão.

Há uma disputa inútil nas redes sociais para saber quem seria o responsável por colocar Michel Temer em nossas vidas. Afinal, o desejo por governabilidade fez com que o PT acolhesse ele e seu grupo, com carinho, na chapa presidencial. E o desejo por retornar ao poder fez com que o PSDB conspirasse ao seu lado e, depois, lhe desse arrimo. O PT, de certa forma, ainda está pagando o preço. Agora, o PSDB também ajoelha no milho. Como é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um tucano ser enviado à cadeia, a resposta será eleitoral. Os baixos índices de intenção de votos em Geraldo Alckmin têm mostrado isso.

Já disse isso aqui antes, mas achei que valia a pena retomar à medida em que cresce a possibilidade de candidaturas outsiders à política se consolidarem. A democracia representativa falhou em garantir o respeito aos anseios de sociedades plurais e complexas. Isso não significa, por outro lado, que a solução seja negar a política e suas instituições. Que podem não ser perfeitas, mas é o que temos neste momento.

A alternativa a isso, historicamente, passou por saídas rápidas, vazias, populistas e, não raro, autoritárias e enganosas. Porque não há nada mais político do que algo que se diz não-político. E temos vários exemplos de não-políticos, quase-políticos, mais-do-que-políticos e não-sou-nem-deixo-de-ser-político, na fila de espera.

Pior do que saber que haverá uma tempestade no horizonte é não conseguir nem enxerga-lo. E os que reclamam da fumaça que turva a vista foram os mesmos que atearam fogo em tudo. Três vezes loucura. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).

(Foto: Leonardo Benassato/ Reuters).

Desfile da Tuiuti contra o golpe foi tapa na cara da Globo


Com um enredo que começou com a crítica sobre o fim da escravidão, trazendo a questão para os dias de hoje, com a falta de trabalho e a perda de direitos em decorrência do golpe, o desfile na primeira noite da Sapucaí foi um cara na tapa da Globo.

Isso porque mostrou, com transmissão ao vivo da emissora, um Michel Temer vampiro e endinheirado e um grito de 'Fora, Temer' no encerramento, além da crítica às manifestações pelo impeachment de Dilma que foram tão incentivadas pela emissora.

Confira relatos publicados no Facebook:

Por Kátia Gerab Baggio

Parabéns ao Paraíso do Tuiuti!

O samba-enredo e o desfile foram um tapa na cara das direitas brasileiras — e da Rede Globo —, com sua defesa explícita da CLT e da Previdência Social.

No enredo da Tuiuti, as precárias condições de vida dos negros e pobres, e a destruição dos direitos trabalhistas e sociais, significam o atual cativeiro social.

E o último carro foi sensacional, com os representantes do grande capital, os rentistas do mercado financeiro, os batedores de panela de verde e amarelo, os médicos que se insurgiram contra o "Mais Médicos" e o "Vampiro neoliberalista"!

Como disseram os carnavalescos, o samba-enredo e o desfile foram um "grito de resistência"!

Para mim, a escola campeã de 2018!!!

P.S.: E meus parabéns ao carnavalesco Jack Vasconcelos!


Por Pio Redondo       

A Paraíso do Tuiuti arrasou, com imensa adesão do público. Fez história, porque está tendo imensa repercussão aqui e no mundo todo.

O enredo começou questionando o fim real da escravidão, abriu o desfile com negros algemados e trouxe a crítica para os dias de hoje.

Favelas, falta de trabalho, trabalho escravo no campo e as perdas de direitos imposta pelo golpe.

Não poupou nada: Temer vampiro endinheirado, paneleiros e patos e amarelinhos manipulados pelos ricaços. Até neoliberalismo pintou.

No final, um integrante com um Fora Temer.

Ousadia pura, como nunca antes, e na tela da Globo.

O samba começa assim:

"Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz".

(Com informações do Brasil 247).

Desfile da Tuiuti contra o golpe foi tapa na cara da Globo. (Foto: Reprodução/ Brasil 247).

11 de fevereiro de 2018

Jair Bolsonaro sugere metralhar a Rocinha para resolver conflito no local



O presidenciável Jair Bolsonaro resolveu dar sua receita para resolver a guerra da Rocinha, no Rio de Janeiro, em um grande evento dirigido a para empresários e investidores, promovido pelo BTG Pactual. As informações são do blog do Lauro Jardim, de O Globo.

Diante de uma plateia de mil executivos do mercado financeiro, Bolsonaro disse que mandaria um helicóptero derramar milhares de folhetos sobre a favela, avisando que daria um prazo de seis horas para os bandidos se entregarem. Terminado esse tempo, se eles continuassem escondidos, metralharia a Rocinha. Ao final da exposição, ele foi aplaudido pelo público. (Com informações de O Globo e da Revista Fórum).

Jair Bolsonaro. (Foto: Renato Araújo/ Agência Brasil).

Altaneira registra a maior chuva da região do cariri neste domingo (11)


Depois de dois dias, o município de Altaneira, na região do cariri, voltou a ter precipitações pluviométricas na manhã deste domingo, 11.

A volta das pancadas de chuvas que tiveram início já nas primeiras horas da manhã fez com que a temperatura continuasse baixa, dando, pois, aos agricultores e agricultoras motivos para manterem a esperança de uma quadra invernosa boa, pois voltou a chover na cidade alta e em grande intensidade, além de contribuir de forma significativa para afastar o medo que paira sobre os munícipes acerca do plantio.

Na sexta-feira, 09, um dia após a chuva tímida de 39,00 mm, era visível a esperança estampada no rosto de agricultores e demonstrada na força física através do cabo da enxada a limpar seus pequenos roçados, alguns inclusive na própria zona urbana.

Até as 08h47min deste domingo, segundo dados colhidos junto a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), Altaneira tinha registrado a maior chuva da região do cariri com 61,00 mm e a quarta maior do Ceará, atrás apenas de Peixes (Russas) com 73, 8 mm), do Brejinho (Araripe) com 66,00 mm e do Sítio Timbauba Macore (Russas) que obteve 64,4 mm.

No acumulativo, em apenas dois dias o mês de fevereiro em Altaneira os índices pluviométricos foram maiores do que todo o mês anterior.

Rua João Barbosa de Oliveira nas primeiras horas da manhã deste domingo, 11. (Foto: Nicolau Neto).



10 de fevereiro de 2018

O desafio de se tornar negro


Não é só uma questão de pele. É um processo de autoafirmação que implica consciência e descolonização.

Eugenia Anna dos Santos, Mãe Aninha Obá Biyi, fundadora do Axé Opô Afonjá, declarou certa vez que queria seus netos com anel de doutor no dedo e aos pés de Xangô. Desde sua morte, em 1938, o povo negro continua a enfrentar inúmeros desafios, principalmente o de sobreviver. Nascida em 1869, Mãe Aninha escapou da escravidão, mas viu de perto o sofrimento, a perseguição, a exclusão. Não sucumbiu porque encontrou no candomblé o espaço e o tempo da resistência.

A ialorixá sabia que o acesso à educação não era prerrogativa de negros e negras, mas vislumbrava um novo horizonte caso seus descendentes frequentassem a escola e, quem sabe, a universidade. Um sonho distante para quem viveu durante e após a escravidão. Algo improvável, uma vez que a legislação vigente por um bom período do Império vetava a admissão de negros nas escolas públicas.

A educação como vetor de ascensão social para a população negra era exceção. Vez ou outra um menino bastardo, fruto da violência do senhor sobre a escrava, era mandado a um seminário. Alguns “filhos do pecado” tiveram oportunidades, até estudaram em universidades conceituadas.

Existem ainda leigos e autodidatas que traziam um conhecimento pouco valorizado, mas que foram peças-chave na construção deste País. Há nomes que figuram como referências no Direito, Medicina, Engenharia, Literatura. Negros que colaboraram na luta pela abolição e influenciaram nos destinos do Brasil.

As estratégias de resistência nos quilombos e nos terreiros eram outras. Não incluíam uma instrução formal, não passavam pelas universidades, não contavam com a imprensa para propagar seus ideais. Era preciso sobreviver.

O candomblé, por exemplo, além de recuperar a família, a tribo e a organização social africana, perdidas no processo da diáspora, possibilitava ao negro a construção de uma identidade que remetia a sua origem.

Contudo, num ambiente hostil, em meio à escravidão, submetidos à colonização, sendo privados de seus nomes, de seus parentes, de suas referências, não restava outra alternativa a não ser aquela de se adequar para sobreviver.

Num primeiro momento, para estar inserido na sociedade, na qual os brancos eram os senhores, ou seja, a classe dominante que determinava o modo e, muitas vezes, o tempo de vida do contingente negro, era preciso se submeter à conversão ao catolicismo. Essa conversão era uma condição para a existência e mobilidade social de negros e negras.

Corpos e mentes colonizados ultrapassaram o período escravista. A condição de escravo, além de real e concreta por quase quatro séculos, é até hoje uma triste herança histórica e segue a determinar os lugares sociais de metade da população brasileira.

É quase um pacto que por vezes alguns movimentos, nem sempre organizados, tentam romper. Foram muitos ao longo do século XX, mas alguns dados de memória coletiva da minha geração, que viveu boa parte de sua infância nos anos 1980 e frequentou a universidade entre meados dos anos 1990 e 2000, me provocam a pensar neste velho desafio do povo negro: a ascensão social.

Lanço meu olhar sobre negros e negras que tiveram acesso à universidade antes das cotas e das facilidades criadas pelos programas sociais dos últimos anos. Que em sua maioria estudaram em instituições particulares, trabalhavam de dia e estudavam à noite, moravam longe, não tinham carro nem dinheiro sobrando.

Estes, cujas mães eram empregadas domésticas e os pais, quando existiam, exerciam algum tipo de trabalho braçal, constituem um grupo que rompeu com um ciclo, mudando a história de suas famílias e da geração seguinte.

Educação, artes, literatura, história, filosofia, antropologia, religião, sociologia, direito, política são algumas das áreas nas quais se destacaram esses negros que hoje estão com anel de doutor no dedo. Netos e netas de Mãe Aninha e Mãe Senhora, de Mãe Menininha e Procópio de Ogunjá, filhos dessa diáspora africana que, embora plena em consciência e negritude, em certos momentos ainda sofre os efeitos da colonização.

É compreensível, mas devemos lutar para desconstruir esse conceito que nos impele à autodestruição e nos faz enxergar irmãos e irmãs como rivais.

Aqui, falo de gente negra que subiu um degrau a mais, mas fez questão de reforçar seus traços e sua identidade cultural. Falo daqueles que recusaram o branqueamento, daqueles que têm consciência e percebem que o acesso a bens de consumo não altera sua condição de classe.

Conhecemos bem a fragilidade dos movimentos de afirmação racial e vemos territórios de resistência, como terreiros de candomblé e escolas de samba, passar por processos de esvaziamento de significados, tornando-se espaços sem origem, sem cor.

Na verdade, é a branquitude percebendo e aproveitando-se de nossas fragilidades, impondo-se com a mesma sutileza do branqueamento, que transforma a ascensão social numa possibilidade que se processa individualmente, por esforço e mérito.

Esse é um bom exemplo de como se efetua o mito da democracia racial, que, entre tantas fantasias, cria a ideia de que não existe racismo no Brasil, desagregando o grupo étnico e impossibilitando que este aja em conjunto.

Para usar um conceito marxista, o contingente negro não constitui uma classe social, portanto não somos agentes capazes de interferir no processo histórico. Por consequência, nossos problemas deixam de ser coletivos e se tornam individuais. Paramos de ser colaboradores e passamos a ser concorrentes. A quem essa postura serve?

Um grande nome dessa geração é a filósofa Djamila Ribeiro, uma das principais expoentes do feminismo negro. Ganhou projeção, brilhou, atraiu olhares (e não só de admiração). Nela e em tantos outros se realiza o velho desejo de Mãe Aninha, mas como pesa esse anel.

A ascensão social de negros e negras vem acompanhada de desconfiança, juízo de valor e muitos adjetivos. A culpa pode levar a um autoboicote, à interrupção de projetos profissionais e acadêmicos, à rejeição de convites.

Volto a dizer: nossa afirmação coletiva ainda é frágil. Por isso devemos estar atentos e não permitir que a colonização limite nossos corpos e mentes. O lugar de fala deve ser respeitado, o debate tem que ser produtivo e a crítica só vale se for honesta e construtiva. Empatia, afeto, generosidade são legados da nossa ancestralidade e é nossa obrigação cultivá-los.

A máxima “eu não tenho culpa” tem ilustrado meus momentos de realização e felicidade. Cabe a todos e todas de minha geração, a cada um dos meus irmãos e irmãs: aos de fé, aos de axé, aos de cor.

Não somos inimigos, ainda que tenhamos divergências. Somos pares. Nosso inimigo é o racismo, o sistema, a estrutura que nos impede de entrar mesmo quando somos os donos da grife. (Por Pai Rodney, da CartaCapital).


Nicolau Neto, professor, blogueiro e ativista das causas negras durante Formação sobre Ensino de História e Cultura Afro-indígena cearense realizado pela Crede 18 em agosto de 2015. (Foto: Lucélia Muniz).