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Eduardo Azeredo - segundo o MPF, ele conhecia os detalhes sobre o esquema. |
A
ação penal no 1.274 da Procuradoria Geral da República – o chamado “mensalão
tucano” – traz elementos contundentes sobre a participação do
ex-governador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB) no desvio de 4,5 milhões de reais
(valores da época) de três estatais mineiras – Copasa, Cemig e BEMGE – para sua
campanha eleitoral.
Mas
traz informações esclarecedoras sobre a tal “Lista de Furnas”, que
relacionaria as pessoas beneficiadas pelo caixa de campanha. Há uma discussão
permanente sobre a veracidade ou não da lista.
Existem
duas listas. A original, com a assinatura do caixa de campanha, Cláudio Mourão,
foi devidamente autenticada pelo Instituto Nacional de Criminalística, que
apontou inúmeros pontos em comum nas assinaturas e atestou que não houve edição
do documento. Além disso, os valores mencionados batem com aqueles desviados
das três estatais mineiras. Não pode confirmar a “absoluta coincidência” apenas devido ao fato de ter sido analisado
uma cópia xerox.
O
drama de Azeredo deveu-se à derrota nas eleições de 1998.
Confiando
na vitória, Azeredo tomou empréstimos junto ao Banco Rural em nome da Locadora
de Automóveis União Ltda., de Mourão e sua filha. Derrotado nas eleições,
Azeredo não teve como quitar o empréstimo.
Como
ainda possuía a procuração outorgada por ele, Mourão emitiu um título de
crédito em favor da locadora, contra Azeredo, e protestou em cartório em 2002,
quando Azeredo se lançava candidato ao Senado.
Walfrido
Mares Guia foi incumbido de apagar o incêndio. Levantou um empréstimo junto ao
Banco Rural, tendo Azeredo como avalista, e valeu-se de Marcos Valério para
quitar parte da dívida com Mourão.
Insatisfeito
com a negociação, Mourão escreveu um documento intitulado “Resumo da movimentação financeira ocorrida no ano de 1998 na campanha
para a reeleição ao governo do Estado de Minas Gerais pelo atual Senador da
República, Sr. Eduardo Brandão de Azeredo e do atual vice-governador, Sr.Clésio
de Andrade. Eleição de 1998 – Histórico”.
Nele, relaciona as despesas de campanha e o total de 4,5 milhões de reais de desvio.
É
aí que entra o falsário Nilton Antônio Monteiro. Mourão autorizou o advogado
Carlos Henrique Martins Teixeira a ajuizar ação indenizatória e, ao mesmo
tempo, outorgou uma procuração a Nilton para negociar um acordo com Azeredo e
Clésio Andrade.
Entre julho de 2000 e maio de 2004 Azeredo trocou 72 ligações com Marcos Valério, das quais 57 conversas diretas.
Tempos
depois, Nilton foi preso, por pedido do Ministério Público Estadual de Minas
Gerais. Segundo o PGR, em um texto um tanto obscuro, “sem como trazer elementos para desfazer as provas produzidas contra si,
a finalidade e unicamente de tentar desacreditar o testemunho por ele prestado.
Sem razão e cabimento, todavia”. Não fica claro se a manobra denunciada
envolve o MP estadual ou apenas os advogados de defesa.
Prossegue
o PGR: “A suposta pratica de ilícitos
penais por Nilton Monteiro em momento algum invalida seus depoimentos, pois os
delitos a ele imputados sequer possuem relação com os fatos ora apurados.
Ademais, ha elementos suficientes nos autos que corroboram os depoimentos prestados
por essa testemunha e ha provas de que Nilton Monteiro tinha relacionamento com
as pessoas envolvidas na campanha a reeleição de Eduardo Azeredo”.
A
procuração outorgada por Cláudio Mourão a Nilton – concedendo-lhe poderes para
negociar junto a Azeredo um acordo financeiro – é autêntica, dia o PGR, “não podendo ser questionada a veracidade da
assinatura e o conteúdo do documento, que denota a ligação íntima de Nilton
Monteiro entre as partes envolvidas, concedendo verossimilhança às suas
declarações”.
Via
Carta Capital